Diário de um motoboy de aplicativo em tempos de coronavírus

Foto: Hernán Piñera | Flickr CC

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

24 Março 2020

Paulo Roberto é motoboy de aplicativo. Trabalha para Uber Eats, iFood e Rappi e sustenta a família com as entregas de comida. Paulo Roberto não tem direitos trabalhistas. Não tem folga. Não tem férias. Se não trabalha, não ganha. Se a moto quebra, azar dele. A partir de hoje, Paulo Roberto gravará uma série de vídeos, contando como é a vida de um motoboy de aplicativo em tempos de coronavírus.

A reportagem é publicada por Jornalistas Livres, 22-03-2020.

“Andamos por aí, todos sem acesso a álcool em gel em nosso trabalho. E não nos foi dado nenhum auxílio pelos aplicativos, nem mesmo informação. A única coisa que nos enviaram foi uma mensagem, dizendo que o cliente pode escolher não ter contato com o motoboy e que não devemos tocar na comida ao fazer a entrega.”

“Estamos sendo tratados como lixo pelos aplicativos. Como diz letra do ‘Diário de um Detento’, dos Racionais MCs, somos descartáveis no Brasil. Como modess usado ou Bombril. Se um de nós morre, ok, tem mais 10 favelados precisando.”

Paulo Roberto está indignado. Ontem (21/3), a moto dele quebrou quando ia fazer uma entrega pelo Uber Eats. Ele avisou o aplicativo, mas o Uber não quis nem saber: “Me puniu, me bloqueando. E eles sabem que muitos de nós não têm outra renda para garantir nossas famílias nessa quarentena.”

“O país precisa da gente mais do que nunca nesse momento, assim como precisa dos lixeiros e do pessoal da saúde. Mas nos sentimos como os músicos do Titanic: o barco tá afundando, mas a música não pode parar”, diz Paulo Roberto. “Somos invisíveis. Ninguém fala da gente.”

É verdade. Você, que nos lê agora, por exemplo, já perguntou pra um entregador de aplicativo como ele está? Já se dispôs a saber como ele vive? Você é capaz de dar um sorriso? De agradecer? Você dá uma gorjeta? Já se interessou por esse irmão que arrisca a vida diariamente para que você não precise cozinhar ou ir a um restaurante?

Precisamos falar sobre essa nova modalidade de escravidão, inventada pelo capitalismo do século 21.

Por isso, é com muita honra que os Jornalistas Livres publicam a partir de hoje os vídeos de Paulo Roberto. Ele transmitirá para todos os relatos desses trabalhadores destituídos de todos os direitos trabalhistas, que lutam heroicamente pela sobrevivência de suas famílias, seja sob o frio inclemente, debaixo de tempestades, enfrentando o trânsito caótico e a violência da cidade.

Fala, Paulo Motoboy!

 

 

Leia mais