Papa Francisco. Um passo para frente, dois para trás?

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20 Fevereiro 2020

“No fundo, tudo bem ponderado e no ponto em que estávamos, o Papa fez bem em virar a página. Entre o risco de um cisma e o risco do “pschitt”, ele, sem dúvida, escolheu o mal menor. Sua falsa decisão sobre a ordenação de homens casados, a forma de superação dialética e de jesuitismo tranquilo, reflete o menos mal possível o estado de uma Igreja latina incapaz de decidir sem se despedaçar", escreve Jean-Pierre Denis, diretor de redação, em editorial publicado por La Vie, 18-02-2020. A tradução é de André Langer.

Segundo o editorial da revista francesa, "acima de tudo, Francisco nunca é tão coerente consigo mesmo como quando reitera que a verdadeira urgência da Igreja é seu descentramento missionário, não sua estrutura ministerial. Esta é a sua mensagem mais forte, a que permanecerá do seu pontificado”.

Eis o artigo.

A Igreja Católica não ordenará homens casados padres e não abrirá o caminho para o diaconato feminino, pelo menos não neste pontificado. Em relação a esses dois assuntos, o Sínodo sobre a Amazônia é, certamente, uma decepção. Tanto barulho, tantos debates, tanto falso suspense para, no final, nos falar dos povos originários, da emergência ecológica e do respeito pelas culturas? Vamos lá, isso não é sério! Não molestamos os jornalistas para discutir a inculturação ou a evangelização! E então, o que acontece com esse papa que nos parecia tão moderno? Não é ele um conservador disfarçado? Já que ele é contra o aborto...

Mas não existe apenas o famoso “sínodo da mídia”, existe o verdadeiro sínodo, cujas recomendações o papa ignora ostensivamente. A comparação entre a encíclica de Paulo VI condenando a pílula pode vir à mente. Alguns verão na Querida Amazônia o que vimos na Humanae Vitae em 1968: uma oportunidade perdida de responder às expectativas do tempo, um reflexo do medo, um papa se debruçando sobre princípios que os próprios fiéis já nem sempre compreendem. A decepção talvez seja mais acentuada em nossos países do que na região em questão, onde a Igreja é confrontada com muitas outras emergências materiais e espirituais, às quais o texto do papa também responde com força. Outros, muitas vezes nos mesmos países, na Europa e nos Estados Unidos, irão se convencer de que fizeram recuar esse papa a quem odeiam, a ponto de contestar sua autoridade, sua legitimidade e sua catolicidade.

Um balanço provisório: uma certa confusão. Ao incentivar o debate sobre esses dois assuntos polêmicos, e até mesmo soprando calor e frio, Francisco permitiu que aqueles que nunca pusessem os pés na missa ou mesmo que odeiam a Igreja romana lhe dessem seus amáveis conselhos. Ele deu aos católicos identitários um ótimo motivo para atacá-lo, e com que força! Ele proporcionou aos mais progressistas uma oportunidade ilusória de esperar a grande noite. Ele não pode fingir estar surpreso com a importância dessa questão, nem pode esperar que sua exortação seja totalmente recebida. Tampouco pode acreditar que a não resposta que ele dá seja suficiente para reconciliar católicos divididos, confortar padres desmoralizados ou dar novo impulso a um pontificado um pouco atolado. Finalmente, seria errado pensar que uma Igreja na qual o poder é exclusivamente masculino e o serviço muitas vezes feminino possa se contentar eternamente em servir as mulheres com clichês como este, que tomo do texto da exortação: “As mulheres prestam à Igreja a sua contribuição segundo o modo que lhes é próprio e prolongam a força e a ternura de Maria, a Mãe”. A questão do diaconato feminino é melhor do que esses clichês.

Mas, no fundo, tudo bem ponderado e no ponto em que estávamos, o Papa fez bem em virar a página. Entre o risco de um cisma e o risco do “pschitt”, ele, sem dúvida, escolheu o mal menor. Sua falsa decisão sobre a ordenação de homens casados, a forma de superação dialética e de jesuitismo tranquilo, reflete o menos mal possível o estado de uma Igreja latina incapaz de decidir sem se despedaçar. Acima de tudo, Francisco nunca é tão coerente consigo mesmo como quando reitera que a verdadeira urgência da Igreja é seu descentramento missionário, não sua estrutura ministerial. Esta é a sua mensagem mais forte, a que permanecerá do seu pontificado.

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