07 Janeiro 2020
Localizada na Praça Itália, epicentro da maioria dos protestos no Chile desde outubro passado, uma igreja foi incendiada por um grupo de homens encapuzados. Vários prédios históricos na mesma praça já foram queimados desde que se iniciaram os protestos em 18 de outubro. Em fins de dezembro, o cinema Arte Alameda foi incendiado assim como um prédio universitário nas semanas anteriores.
A reportagem é de Jean-Christophe Ploquin, publicada por La Croix International, 06-01-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Os protestos começaram com o aumento nas tarifas de metrô em outubro de 2019. Mais tarde, o aumento foi revertido. Os manifestantes passaram a protestar então por um aumento nos custos de vida e da desigualdade, culminando com um milhão de pessoas em marcha na capital Santiago. Pelo menos 29 pessoas morreram até agora.
Provavelmente a escolha do alvo desta semana não foi por acaso. Construída em 1876, há quarenta anos a Igreja de São Francisco de Borja é dedicada aos Carabineros de Chile, força policial nacional chilena. Essa instituição militar-policial tem desempenhado um importante papel desde o começo dos protestos que abalam o país há dois meses e meio.
Os Carabineros de Chile foram criados em 1927. Um dos seus grupos de elite dedica-se a guardar o palácio presidencial do país, a La Moneda, e a sede do Congresso Nacional, localizado em Valparaiso.
Em 1973, a hierarquia dos Carabineros participou do golpe de Estado contra o presidente Salvador Allende, e seu comandante em chefe era membro da junta militar liderada pelo general Augusto Pinochet (1973-1990).
Ainda que tenham sido anexados formalmente ao Ministério da Defesa, desde 2011 os Carabineiros estão sob o controle do ministro do Interior e Segurança Pública. O seu papel de manutenção da lei e da ordem diante da atual agitação social tem sido criticado por organizações de direitos humanos em decorrência de um emprego excesso da força.
Acusações de tortura, estupro, abuso sexual e várias centenas de lesões oculares por balas de borracha são feitas contra a força militar.
Na sexta-feira, 3 de janeiro, manifestantes removeram os móveis do prédio e atearam fogo. Grupos de homens encapuzados entraram em choque com a polícia nas proximidades da igreja.
Em outras partes da cidade, manifestantes buscavam por reformas sociais mais amplas e pela renúncia do presidente de direita Sebastián Piñera. A fúria permanece intacta apesar de Piñera ter garantido que realizará um referendo a favor ou contra a emenda da Constituição, um legado da ditadura de Pinochet.
De acordo com várias pesquisas de opinião, mais de 60% dos chilenos continuam a apoiar os protestos. Mas o movimento já registrou 29 mortes e milhares estão feridos, com muitos temendo que a violência atinja o setor da economia do país.
Além de Santiago, Valparaíso também é palco de conflitos violentos e saques. Como medida preventiva, as festividades em rodovias públicas na véspera da Ano Novo foram proibidas em muitas cidades.
Em Santiago, a demonstração tradicional de fogos de artifício, seguido de shows, realizada perto do palácio presidencial, evento que atrai 500 mil pessoas anualmente, foi cancelada. A mostra de fogos de artifício em Valparaíso foi mantida, mas os tradicionais bailes de rua não ocorreram.
A atividade econômica do Chile está afetada por um declínio acentuado. O Banco Central do país revisou a sua previsão de crescimento para 2019 a 1% do PIB, em comparação com os 2,25 a 2,75% anteriores. Para 2020, a previsão de crescimento fica entre 0,5 e 1,5%.
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Chile. Manifestantes incendeiam igreja dedicada à polícia nacional, construída em 1876 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU