“Se não fizermos, ninguém vai fazer por nós”, diz padre que comanda mutirão em praias de Pernambuco

Padre Arlindo (ao centro) Foto: DCM

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24 Outubro 2019

No Espírito do Sínodo para Amazônia, padre Arlindo Laurindo de Matos Júnior e a comunidade local se mobilizaram. Igreja em Saída, que pede o papa Francisco, é isso. Criar o espírito de comunidade que cuida das pessoas, da terra, das águas e forma comunhão.

A reportagem é de Mauro Donato, publicado por Diário Centro do Mundo - DCM, 23-10-2019. 

Enquanto o Ministério Público Federal toma medidas burocráticas como entrar com uma ação contra a União por omissão e nenhuma autoridade se dispõe a sujar as barras das calças, o povo limpa as praias em mutirões voluntários.

Só na Bahia já foram retiradas mais de 155 toneladas de óleo das areias.

Em Pernambuco, o padre Arlindo Laurindo de Matos Júnior, da paróquia de São Pedro, tem sido um dos mais atuantes ao convocar populares e transmitir entusiasmo para o sucesso da empreitada. 

Comunidade de Tamandaré limpa sua área

Ele conversou com o DCM.

Eis a entrevista.

Como está a situação em Tamandaré? Qual foi a extensão do estrago?

Tamandaré tem 16 km de praias. Na praia dos Carneiros e na Boca da Barra é que o óleo chegou em maior quantidade. O centro de Tamandaré, até agora, está limpo.

Tecnicamente não sei qual o impacto teve. Só sei que conseguimos evitar que chegasse no rio Ariquindá, mas no outro rio sujou um pouco.

Qual foi sua reação ao ver a poluição?

Chegou muito rápido. Quando começamos a nos comunicar pelos grupos de whatsapp sobre as notícias, no outro dia de manhã a praia já tinha sido atingida. Calcei uma luva e comecei a limpar. O óleo misturado com areia tem uma consistência que facilita manusear. Daí pescadores e outras pessoas da comunidade foram se juntando. Quando vimos a extensão daquilo parecia ser uma tarefa impossível. Mas conforme a comunidade foi chegando e trabalhando, em um dia já deu para ver que progredíamos.

Que avaliação o senhor faz da atuação das autoridades? Recebeu ajuda?

Depois de dois dias chegou a Marinha. Vi três marinheiros olhando, filmando. Perguntei se iriam ajudar, disseram que não estavam com equipamento de proteção correto, que teriam que esperar. Então a sensação é de abandono por parte do governo federal.

Há ONGs presentes?

Não. A única coisa que teve foi uma afilhada minha da Universidade Rural que veio com 40 alunos da faculdade.

E para onde está sendo enviado o óleo recolhido?

Não sei dizer o que será feito com ele, nós acumulamos tudo num canto da praia em sacos plásticos.

O contato com o óleo traz perigo para a saúde…

Temos que colocar a mão na massa, não tem outro jeito. Talvez seja perigoso, mas estamos tomando o maior cuidado que podemos porque se não fizermos, ninguém vai fazer por nós. Se não tem luva, a gente pega com saco plástico. Ficar esperando não dá. Estou muito feliz com a ação da comunidade, mas muito triste com o que aconteceu e com a falta de informação. As pessoas estão preocupadas se vão chegar mais manchas de óleo. Há um sentimento de angústia, pessimismo e tristeza e isso é tão tóxico quanto o óleo.

O turismo já sente prejuízos?

Não sabemos ainda o impacto. O pessoal da hotelaria está muito preocupado, principalmente pela falta de informações sobre os riscos.

Qual o sentimento frente a esse descaso?

Se a comunidade não tivesse se mobilizado teria sido muito pior. O povo nordestino está demonstrando para o país o quanto pode fazer. Estamos tirando a sujeira no braço. Queria ver as autoridades monitorando e coletando material para analisar, mas até agora nada. Só vimos promessas e nada acontecer. Serviu para mostrar a solidariedade e força da comunidade. Então aqui está tudo bem, estou com fome e ainda vou celebrar mais missa hoje. E se sujar, a gente limpa de novo.

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