10 Outubro 2019
“Tenho visto nas redes sociais uma enorme apologia ao ódio. É estarrecedor o número de católicos que no intuito de defender suas opiniões vocifera todo tipo de acusações, mentiras, rancores e desrespeito contra o Papa Francisco, bispos, padres e leigos. Ou seja, católicos perseguindo católicos. Essa tensão é consequência de um projeto de país, um Brasil de “cristãos” sem Cristo, que trocou o amor pelo ódio”.
O artigo é de José Cristiano Bento dos Santos, padre da Arquidiocese de Londrina – PR.
Segundo o padre, “a pluralidade deve ser mesmo o princípio norteador da boa convivência cristã, como afirmou-se na carta emitida pela Arquidiocese de Londrina”.
“Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir” (Mateus 12,25)
Jesus nesse texto narrado pelo Evangelista Mateus, fala da destruição da comunidade, usando a analogia da discórdia doméstica e da guerra civil, para mostrar que a divisão de um coletivo específico, leva à destruição do mesmo grupo.
Tenho visto nas redes sociais uma enorme apologia ao ódio. É estarrecedor o número de católicos que no intuito de defender suas opiniões vocifera todo tipo de acusações, mentiras, rancores e desrespeito contra o Papa Francisco, bispos, padres e leigos. Ou seja, católicos perseguindo católicos. Essa tensão é consequência de um projeto de país, um Brasil de “cristãos” sem Cristo, que trocou o amor pelo ódio.
Como cristão e pessoa que luta por um mundo fraterno, creio que a verdade precisa ser dita, e ela só pode ser construída por meio do diálogo cordial, pois a realidade é mais complexa, com situações que exigem maior reflexão e argumentos fundamentados.
Além disso, a mudança de opinião não é uma atitude fácil, pois é necessário desconstruir paradigmas solidificados ao longo de nosso convívio social, cultural e religioso. Discordo da agressividade, bem como do ódio destilado da boca e do coração daqueles que se dizem cristãos católicos defensores da Igreja, mas que não medem esforços para condenar aqueles que pensam de maneira diferente deles.
Para esses meus irmãos em Cristo, quero dizer que a Palavra de Deus afirma que “O ódio excita contendas” (Provérbios 10, 12). O Cristo ensinou que os seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor, “Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13, 35).
O Partido dos Trabalhadores (PT) identificado como suposto inimigo pelos que se denominam os legítimos católicos defensores da Igreja, seria visto como o demônio atuando dentro de suas pastorais. Outros partidos circulam livremente sem serem incomodados. Para esses, o silêncio é o passaporte da legitimidade. Mas a pluralidade deve ser mesmo o princípio norteador da boa convivência cristã, como afirmou-se na carta emitida pela Arquidiocese de Londrina. Até por que, como que aqueles que são “maus” terão a oportunidade de conversão se são expulsos da convivência do altar com os “bons”? Não seria por meio do diálogo fraterno que poderiam mudar sua visão e atitudes “pecadoras” e distante dos ensinamentos de Cristo?
Podemos responder a essas perguntas com o pedido e com os questionamentos do próprio Jesus: “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta" (Mateus 5, 23-24). O apelo do Mestre continua: “Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isso também os pagãos?” (Mateus 5, 44-46).
Portanto, a Igreja Católica de Londrina e do Brasil inteiro precisa trabalhar a unidade, sem negar a diversidade ou pluralidade, que enriquece o corpo eclesial, como diz o Apóstolo Paulo: Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim, o corpo não consiste em um só membro, mas em muitos” (I Coríntios 12, 13-14).
Por isso, diante da exortação de Jesus, “todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir” (Mateus 12,25), é essencial que o Amor seja o condutor das ações dos cristãos para a consolidação do Reino de Deus.
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A divisão não pode subsistir na igreja católica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU