22 Agosto 2019
"O Papa é o Papa e lidera a Igreja neste momento. Pessoalmente, não tenho conhecimento de mais nada. E, aliás, são coisas que afloraram mesmo em outros períodos históricos". O cardeal Lorenzo Baldisseri, o homem que Francisco quis na liderança do Sínodo dos Bispos (e que está preparando a assembleia dedicada ao tema da Amazônia) intervém para diminuir a importância da leitura daqueles que veem nos constantes ataques ao papa Bergoglio um plano elaborado nos EUA para desgastá-lo e conseguir sua demissão.
Baldisseri percorre a história e faz o típico gesto de levantar os ombros, como se dissesse que não há nada de novo. Ele garante que não leu nada a esse respeito. No entanto, é praticamente certo que se trata de um déjà vu no qual, nesse período de fim de verão, não vale a pena se demorar ou dar muita importância.
Além disso, a história da renúncia papal remonta à Idade Média, embora na época os papas não renunciassem livremente, mas fossem forçados pelos concílios, pelas correntes rivais da nobreza romana e, às vezes, até por conspirações urdidas por potências europeias. Certamente, naquela época, o papado se destacava mais por seu papel político do que por seu compromisso pastoral, enquanto hoje o Papa Francisco se concentra acima de tudo neste último terreno.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 21-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas se o Cardeal Baldisseri descarta o episódio sem lhe dar importância, provavelmente acostumado por sua longa carreira diplomática - o venezuelano padre Arturo Sosa, Superior Geral da Companhia de Jesus - outra figura chave no pontificado do Papa Francisco, parece pensar de outra maneira. A mensagem que lança na reunião de Rimini é bastante clara: "Francisco não pensa absolutamente em sua renúncia".
No encontro católico em andamento na Romagna, Sosa se apresentou vestido de branco. Ele, o Papa Negro como é chamado o líder da Ordem fundada por Santo Inácio de Loyola, fez uma longa palestra falando sobre o olhar inovador trazido pelo primeiro pontífice jesuíta, decodificando seus gestos e ações, e comentando que em Francisco há um senso de responsabilidade em prol dos pobres que sofrem que remete à obediência ao Evangelho. Mas então ele foi direto para o ponto. Para começar, ele admitiu que conhecia bem as forças negativas que estão se movendo para desestabilizar o pontificado. "Existem setores fora e dentro do Vaticano que estão pressionando para que o Papa Francisco renuncie, com o objetivo final de garantir que o próximo pontífice atue em sentido contrário às diretrizes expressas pelo atual pontificado."
Questionado pelo Adnkronos, ele mediu palavras, escolheu cuidadosamente os adjetivos, calibrou os tons. "Há pessoas, tanto dentro como fora da Igreja, que gostariam que o Papa Francisco renunciasse, mas o pontífice não o fará. Acredito que a estratégia final desses setores não seja tanto a de forçar o Papa Francisco a sair, quanto incidir na eleição do próximo pontífice, criando as condições para que o próximo Papa não continue a aprofundar o caminho que Francisco indicou e empreendeu”.
Sosa esboça uma espécie de estratégia da tensão. "O que o preocupa um pouco é o horizonte. Penso que seja essencial que o caminho percorrido por Francisco continue, de acordo com a vontade da Igreja expressa claramente no Concílio Vaticano II, do qual o Papa Francisco é filho legítimo e direto".
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O complô para afastar o Papa: “Existe uma estratégia, mas ele não vai ceder” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU