24 Julho 2019
O semanário alemão Die Zeit publicou recentemente um dossiê que também fala sobre o uso da calculadora de CO2 para obter respostas on-line sobre o próprio estilo de vida, os consumos, os alimentos utilizados, etc. e as indicações de valores médios para ficar em forma. Tudo isso em nome do consumismo e da publicidade que, durante os meses de verão, são particularmente insistentes.
A reportagem é de Antonio Dall'Osto, publicada por Settimana News, 20-07-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Partindo desta ideia, a jornalista alemã Gudrun Sailer, sediada há anos no Vaticano para a agência katholisches.de escreveu (15 de julho de 2019) uma breve matéria para ilustrar o estilo de vida do Papa Francisco, intitulada significativamente “Francisco, um papa parcimonioso”.
"Temos um papa parcimonioso", escreve ela. "Isso é naturalmente uma questão de coerência. Se hoje a parcimônia é considerada ainda uma virtude cristã, então a "culpa" é de Francisco, porque com sua carta encíclica Laudato si’ a tornou atraente para um público significativo de boa vontade".
"Mas", pergunta-se a Sailer, "e ele?" "O papa - responde - é coerente com seu não ao consumismo maníaco".
Por onde começar? – pergunta-se Sailer. Por sua primeira aparição em público. Em 13 de março de 2013, a cena na sacada pode ser considerada emblemática: está lá um papa recém-eleito, de hábito branco, que fala com palavras simples. Os sapatos não podem ser vistos, mas, sem dúvida, está usando os mesmos que veste todos os dias - ou melhor - aqueles usados, de cor preta, em cujas dobras parece que ainda há a poeira das ruas mais pobres de Buenos Aires. E, como as pessoas precisam de símbolos, aqueles sapatos imediatamente se tornaram um símbolo de seu estilo de vida e das suas preocupações.
Mas também há várias outras coisas que Bergoglio trouxe consigo da Argentina e que ele continua a usar até hoje: a mala de viagem, muito usada como bispo, a armação dos óculos (substituída apenas em Roma na loja de um ótico atônito), sua mitra favorita e também a cruz peitoral de prata. Ele a havia recebido por sua consagração episcopal, em 1992, em Buenos Aires e em Roma não quis substituí-la, mesmo que os papas geralmente carregassem cruzes peitorais de ouro.
Certamente ele também poderia ter uma de ouro do estoque de objetos sagrados do Vaticano, sobre o que, como é bem sabido, Bento XVI também fez um juramento: isso não acarretaria nenhum ônus. Se Francisco decidiu diversamente, é porque sabe que a aparência do papa é sempre observada de maneira diversificada. E muitas coisas permaneceram nos armários.
Nunca em sua vida teria usado no inverno um camauro de pele, de estilo renascentista, como ousou fazer em uma oportunidade Bento (e depois se arrependeu). Francisco quer mostrar a simplicidade que ele prega.
Em suma, até mesmo a mania de consertar e reciclar de Francisco se assemelha à do avô que viveu a guerra. Ele cuida da criação adiando a compra de coisas novas, enquanto as antigas ainda estejam boas. Avaro? Escrupuloso? Não, alinhado com os tempos, e são cada vez mais numerosos os jovens que encontram o próprio caminho olhando o velho papa.
"É muito nobre - escreveu na Laudato si' - assumir o dever de cuidar da criação nas pequenas ações cotidianas". E "reutilizar alguma coisa, em vez de descartá-la rapidamente, pode ser um gesto de amor que expressa a nossa dignidade". Este é exatamente o modo com que Francisco se comporta.
Só que às vezes exagera. Por exemplo, em 2015, em Ostia, ficou visto com uma túnica de mangas desgastadas. Foi um gesto de imitação demasiado acentuada com o fundador da Ordem dos Mendicantes e seu patrono, Francisco de Assis. Mas nunca mais aconteceu.
Mas a parcimônia pessoal de Francisco é naturalmente expressa em níveis muito diferentes. Verão? Férias? Excursões? Sim, ele tira férias, mas desde 1976 passa suas férias em casa, antigamente em Buenos Aires, hoje no Vaticano. Férias na varanda? Sim, caso houvesse varandas, mesmo que fossem um pouco desgastadas, na Casa Santa Marta! O papa não quis se mudar para o Palácio Apostólico, uma moradia que ele considera grande demais para ele. Ora, há sete anos ele mora em Santa Marta, em três cômodos.
Não há TV em sua suíte: após um voto a Nossa Senhora em 15 de julho de 1990, exatamente 29 anos atrás, ele desistiu da televisão. Não tem sequer um PC. Em julho, ele raramente usa o ar condicionado.
Permanece sem uso a suntuosa residência de verão papal em Castelgandolfo, no Lago Albano. Francisco declarou como museu o palácio renascentista com seu parque - e no sábado as pessoas podem confortavelmente ir até lá de trem da Cidade do Vaticano para um passeio.
Somos informados de forma aproximada também sobre a frota de carros no Vaticano. Francisco deixa da garagem ou colocou à venda as poderosas limusines que os papas anteriores receberam como presente. A placa SCV1 aparece em veículos muito modestos, como Ford Focus, Hyundai e Kia. Dentro do Estado do Vaticano, desde 2017, Francisco se desloca com um carro elétrico recebido de presente, um Nissan Leaf. Os doadores esperavam substituir logo toda a frota de carros. Se isso aconteceu, não é conhecido por nenhuma das partes. Nós também não sabemos exatamente qual seja a dieta do papa. Só podemos supor com segurança que Francisco não é vegano.
O autor da matéria jornalística no Die Zeit - conclui Gudrun Sailer - argumenta que a política é mais importante que o estilo de vida para salvar o mundo. Francisco, por sua vez, aconselha fazer uma coisa sem deixar a outra - como ele mesmo faz. Ele fala sobre as crises ecológicas e a resposta correta em todos os continentes e também se dirige regularmente aos homens de estado.
As consequências de tal orientação papal não podem ser incluídas na calculadora de CO2, mas quem sabe? Talvez resultaria que o papa, de certa forma, absorve CO2 (dióxido de carbono), como se fosse uma floresta virgem e não alguém que viaja muito de avião.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco, papa parcimonioso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU