02 Abril 2019
Em Verona, está em programação um congresso dos fanáticos da intolerância, contra o aborto, dos casais homoafetivos e do amor livre. No Vaticano, na sexta-feira de manhã, o Papa Francisco receberá em audiência dezenas de membros da comunidade mundial LGBT que lutam para derrotar a discriminação sexual. Viajando para o Marrocos no final de semana, Jorge Mario Bergoglio quase ignorou a pergunta sobre o encontro de Verona, entre fetos de plástico, condenações eternas aos homossexuais e supostos paladinos da família tradicional: “Não vou ligar para isso. Li a declaração do Secretário de Estado e parece-me equilibrada".
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada por Il Fatto Quotidiano, 31-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O cardeal Pietro Parolin, citado por Francisco, a respeito de Verona tomou as devidas distâncias com prudência: "Compartilho a substância, não a forma". Ao pontífice argentino, na sexta-feira, de maneira confidencial, será apresentada uma pesquisa sobre a criminalização das relações homossexuais conduzida em Países caribenhos sob a égide da Organização Interamericana de Direitos Humanos, da qual faz parte o juiz Raul Eugenio Zaffaroni, conhecido compatriota e amigo próximo de Jorge Mario Bergoglio.
O professor Zaffaroni, considerado um intelectual de esquerda, também é advogado criminal e professor emérito da Universidade de Buenos Aires, é a favor do aborto e do casamento homoafetivo e sempre esteve envolvido em associações e projetos de combate ao racismo. Foi membro da Suprema Corte de Justiça por doze anos nomeado pelo presidente Nestor Kirchner, enquanto o então cardeal Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires e presidente da Conferência Episcopal da Argentina. Hoje é um oponente do governo de Mauricio Macri.
No convite oficial para o evento no Vaticano, como ressaltou o escritor francês Frédéric Martel, o autor de Sodoma, que foi o primeiro a falar do encontro, o professor Zaffaroni anunciou um "discurso histórico" do Papa Francisco, de abertura e solidariedade para com os homossexuais.
O tema é muito delicado pelos conflitos que gera no Vaticano, especialmente porque inflama o grande grupo de críticos de Bergoglio. Tanto é assim que o Pontífice tem posições que podem parecer contraditórias. Certa vez disse : "Se uma pessoa é homossexual e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?" Outra vez, de forma mais articulada: "O que eu diria a um pai se ele me perguntasse o que fazer com o filho ou a filha que afirma ser homossexual? Primeiro, para rezar, depois para não condenar, dialogar e abrir espaço para que o filho e a filha se expressem. Sempre existiram homossexuais e os sociólogos dizem que esses fenômenos crescem em tempos de mudança social. Além disso, trata-se de entender em que idade o filho ou filha se declaram, se forem crianças, talvez haja um problema a ser enfrentado em nível psicológico, mas até mesmo isso deve ser visto. Em todo caso, nunca direi que o silêncio é uma solução: você é meu filho, assim como você é".
Aos leigos pode parecer pouco, mas para o clero mais conservador - do cardeal Robert Sarah para baixo - Francisco é um herege.
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Audiência privada do Papa com ativistas pelos direitos dos homossexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU