Caso Barbarin: ''O papa recusa a lógica do imediatismo''. Entrevista com Dominique Wolton

Barbarin. Foto: Vatican News

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

22 Março 2019

A Igreja está pagando um preço por ter dado lições de moral incessantemente: agora, pede-se que ela também profira imediatamente um juízo moral.

A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por Croix International, 21-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O La Croix falou com Dominique Wolton, sociólogo e especialista em mídia e perguntou-lhe: como é possível compreender a decisão do papa de não aceitar a renúncia do cardeal Barbarin?

Eis a resposta.

Francisco não quer se precipitar, e isso está sendo mal-entendido. Essa posição é interessante, embora eu ache que ele a expressa mal. Com efeito, há uma profundidade histórica verdadeira que deve ser integrada e que está em total contradição com a loucura da velocidade que reina nas mídias sociais.

Ao acreditar que deve dar às investigações o seu devido tempo, o papa quer respeitar os tempos da justiça humana. Isso é muito bom, mas isso não faz parte da lógica da mídia ou da opinião pública. Então, imediatamente, sua decisão é percebida como uma recusa em tomar uma decisão.

Além disso, o Papa afirmou que não diria nada? Não: ele adiou a sua decisão para depois do recurso de Barbarin, e eu acho que ele tem razão em esperar que a justiça dos homens se pronuncie.

Se, efetivamente, ele não disser nada depois disso, efetivamente haverá um problema. Pelo contrário, se ele falar e tomar uma decisão, então alguns provavelmente duvidarão das suas motivações e ficarão contra ele. Mas ele não pode ser criticado antes de dizer qualquer coisa.

Para mim, a sua lentidão em reagir não é uma prova de má-fé. Só porque ele se recusa a dizer alguma coisa de imediato, isso não significa que ele esteja “acobertando”. Simplesmente, ele se recusa a entrar na lógica do imediatismo que reina hoje em dia na opinião pública. Essa pressão midiática, que se baseia em uma visão falsamente democrática das redes, tornou-se impossível: só porque milhões de pessoas pensam que o cardeal Barbarin é um canalha, isso não significa que ele o seja!

Se continuarmos assim, então a ideologia corre o risco de prevalecer. Eu também acho interessante que a religião católica não esteja sob a tirania da democracia direta. Com efeito, precisamos perguntar até que ponto é preciso dar exemplos e prosseguir apressadamente?

Devemos distinguir entre o “não dizer nada” de uma sociedade do adormecimento – e Deus sabe que a Igreja avançou muito nessa direção! – e a tirania da velocidade e do imediatismo.

A Igreja está pagando um preço por ter dado incessantemente lições de moral: portanto, demanda-se que ela profira imediatamente um julgamento moral. Diante da suspeita generalizada de má-fé, a Igreja não é mais capaz de se fazer compreender, e a explicação de Francisco parece um retrocesso em relação à sua posição de pôr fim ao clericalismo.

Leia mais