22 Março 2019
A Igreja está pagando um preço por ter dado lições de moral incessantemente: agora, pede-se que ela também profira imediatamente um juízo moral.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por Croix International, 21-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O La Croix falou com Dominique Wolton, sociólogo e especialista em mídia e perguntou-lhe: como é possível compreender a decisão do papa de não aceitar a renúncia do cardeal Barbarin?
Francisco não quer se precipitar, e isso está sendo mal-entendido. Essa posição é interessante, embora eu ache que ele a expressa mal. Com efeito, há uma profundidade histórica verdadeira que deve ser integrada e que está em total contradição com a loucura da velocidade que reina nas mídias sociais.
Ao acreditar que deve dar às investigações o seu devido tempo, o papa quer respeitar os tempos da justiça humana. Isso é muito bom, mas isso não faz parte da lógica da mídia ou da opinião pública. Então, imediatamente, sua decisão é percebida como uma recusa em tomar uma decisão.
Além disso, o Papa afirmou que não diria nada? Não: ele adiou a sua decisão para depois do recurso de Barbarin, e eu acho que ele tem razão em esperar que a justiça dos homens se pronuncie.
Se, efetivamente, ele não disser nada depois disso, efetivamente haverá um problema. Pelo contrário, se ele falar e tomar uma decisão, então alguns provavelmente duvidarão das suas motivações e ficarão contra ele. Mas ele não pode ser criticado antes de dizer qualquer coisa.
Para mim, a sua lentidão em reagir não é uma prova de má-fé. Só porque ele se recusa a dizer alguma coisa de imediato, isso não significa que ele esteja “acobertando”. Simplesmente, ele se recusa a entrar na lógica do imediatismo que reina hoje em dia na opinião pública. Essa pressão midiática, que se baseia em uma visão falsamente democrática das redes, tornou-se impossível: só porque milhões de pessoas pensam que o cardeal Barbarin é um canalha, isso não significa que ele o seja!
Se continuarmos assim, então a ideologia corre o risco de prevalecer. Eu também acho interessante que a religião católica não esteja sob a tirania da democracia direta. Com efeito, precisamos perguntar até que ponto é preciso dar exemplos e prosseguir apressadamente?
Devemos distinguir entre o “não dizer nada” de uma sociedade do adormecimento – e Deus sabe que a Igreja avançou muito nessa direção! – e a tirania da velocidade e do imediatismo.
A Igreja está pagando um preço por ter dado incessantemente lições de moral: portanto, demanda-se que ela profira imediatamente um julgamento moral. Diante da suspeita generalizada de má-fé, a Igreja não é mais capaz de se fazer compreender, e a explicação de Francisco parece um retrocesso em relação à sua posição de pôr fim ao clericalismo.
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Caso Barbarin: ''O papa recusa a lógica do imediatismo''. Entrevista com Dominique Wolton - Instituto Humanitas Unisinos - IHU