19 Fevereiro 2019
Doze vítimas, doze apóstolos. A reunião antipederastia que inicia nesta quinta-feira começará com um encontro do Comitê Organizador com uma dúzia de vítimas dos abusos sexuais do clero. Entre eles, dois de língua espanhola: Juan Carlos Cruz, vítima de Karadima, e Miguel Ángel Hurtado, que sofreu os abusos em Montserrat.
Da mesma forma, e em um desejo de transparência, a Santa Sé publicou todos os dados relativos ao encontro. Em um modelo de perguntas-respostas, Roma esclarece possíveis dúvidas a respeito dos participantes, do formato das reuniões e das conclusões.
A informação é publicada por Religión Digital, 18-02-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
Por que o Papa Francisco convocou este Encontro?
Em 27 de janeiro, em seu voo de volta do Panamá, o Papa explicou que tinha convocado este encontro para ajudar os bispos a entender o que devem fazer nestes casos. Francisco usou a palavra "catequese" nesse sentido: começar essa explicação com os presidentes das conferências episcopais.
Em primeiro lugar, o Papa quer que sejam conscientes do drama e do sofrimento das vítimas de abuso sexual de um menor por parte de um clérigo. Essa consciência suscitará um forte sentido de responsabilidade por parte de cada bispo, por parte do episcopado em geral, e por parte de toda a comunidade eclesial.
Em segundo lugar, o Papa quer que saibam que devem fazer algo a respeito: quais são os procedimentos, as tarefas que devem ser realizadas para que se implementem nos diferentes níveis: o bispo diocesano, o arcebispo metropolitano, a conferência episcopal, os dicastérios vaticanos. Esta clareza facilitará a responsabilização mútua sobre as responsabilidades e tarefas que cada um tem em relação aos demais bispos da Igreja e à sociedade.
Tudo isto pressupõe transparência sobre as tarefas, procedimentos e modos que devem ser postos em prática. Desta maneira, a credibilidade da Igreja e a disposição das pessoas em confiar nas autoridades eclesiais poderá se recuperar.
Quem participará do Encontro?
• O Papa participará de todas as sessões;
• Os presidentes das 114 conferências episcopais: (36 da África, 24 da América do Norte, América Central e América do Sul, 18 da Ásia, 32 da Europa, 4 da Oceania);
• 14 líderes das Igrejas Católicas Orientais;
• 15 leigos não integrados em uma conferência episcopal;
• 12 superiores gerais de instituições religiosas masculinas;
• 10 superioras gerais de instituições religiosas femininas;
• 10 prefeitos de dicastérios vaticanos;
• 4 membros da cúria romana;
• 5 membros do Conselho de cardeais;
• 6 membros do comitê organizador, o moderador do Encontro, e relatores;
• No total, 190 pessoas.
A lista de participantes pode ser consultada aqui.
Como o Encontro foi preparado?
O Encontro foi anunciado no final da reunião do Conselho de cardeais do último dia 12 de setembro. No final de novembro, o Papa nomeou um comitê organizador formado por quatro pessoas: os cardeais Blase Cupich e Oswald Gracias, o arcebispo Charles Scicluna e o Pe. Hans Zollner, S.J., com a colaboração das professoras Gabriella Gambino e Linda Ghisoni, do Dicastério para os leigos, a família e a vida. Em dezembro, o Comitê organizador enviou uma carta aos participantes.
Acompanhava a carta um questionário, que devia ser respondido antes do final de janeiro, e o convite para que cada participante se reunisse com algumas vítimas de abuso sexual cometido por clérigos.
O número de questionários respondidos é muito alto (quase 90%), e constitui uma fonte de informação muito valiosa. Como a maioria das perguntas era aberta, levará tempo para avaliar as respostas. Os comentários recebidos ajudarão a entender os diferentes modos de enfrentar os abusos sexuais a menores por parte do clero nas distintas culturas. Este tema será objeto de estudo depois do Encontro.
Como se trabalhará no Encontro?
Os elementos fundamentais do Encontro são: oração e escuta; relações temáticas seguidas de um período de perguntas e respostas; trabalho em grupos linguísticos; conclusões do Papa.
• Oração: Cada dia do encontro começará e terminará com espaços de oração. Além disso, no sábado à tarde haverá uma Liturgia penitencial, e no domingo se concelebrará a Eucaristia.
• Relações: Haverá nove relações temáticas, três por dia: duas pela manhã e uma pela tarde. Todas elas serão seguidas de um tempo de perguntas e respostas.
• Trabalho em grupos: Cada dia haverá dois períodos para o trabalho em grupos linguísticos, um pela manhã e outro pela tarde.
• Papa Francisco: O Papa falará no início e no final do encontro. Além disso, se o desejar, poderá também fazer isso no encerramento de cada jornada. O discurso conclusivo do Papa acontecerá no domingo pela manhã.
O programa completo pode ser consultado aqui.
Quais são os temas do encontro?
Cada um dos três dias do encontro tem um tema principal:
1) Responsabilidade;
2) Responsabilização [prestação de contas];
3) Transparência.
Cada um dos temas principais se articula em três relações. Cada relação desenvolve o tema a partir de uma perspectiva diferente: em relação com a pessoa do bispo e suas responsabilidades; a relação do bispo com os outros bispos; e a relação dos bispos com o Povo de Deus e com a sociedade em geral.
Os relatores foram escolhidos de maneira que possam representar os diversos continentes, culturas e situações na Igreja.
A lista das relações e dos relatores pode ser consultada aqui.
No final de cada apresentação, haverá um tempo dedicado a perguntas e respostas. Em seguida, os participantes se reunirão em grupos linguísticos para analisar os temas desenvolvidos pelos relatores. Cada grupo elaborará um breve manuscrito dos temas tratados em equipe, que será compartilhado com a assembleia no final de cada jornada.
Como as vítimas serão ouvidas durante o Encontro?
Escutar os que sofreram abusos sexuais por parte de clérigos e entender sua dor é o ponto de partida imprescindível de qualquer compromisso para combater o abuso sexual. Portanto, seus testemunhos são parte importante do Encontro.
Em função da disponibilidade de tempo em uma reunião tão breve, essa escuta terá uma extensão limitada. Por esse motivo, foi pedido aos participantes do Encontro que preparem a reunião escutando algumas vítimas em seu país de origem. Assim, poderão perceber a gravidade do problema em seu próprio território.
No horário do Encontro há dois momentos nos quais as vítimas poderão ser ouvidas: um vídeo com o testemunho de 5 vítimas, no início do Encontro; e em cada um dos momentos de oração vespertina, uma vítima apresentará seu testemunho ao vivo.
Além disso, durante o Encontro se insistirá com os presentes sobre a necessidade de escutar as vítimas de maneira habitual e permanente.
O Encontro terminará com um documento final? Se decidirá um plano de ação para o futuro?
Não está previsto que o Encontro elabore um documento final. A conclusão do Encontro será o discurso final do Santo Padre depois da celebração eucarística de domingo pela manhã.
Para dar continuidade às reflexões e propostas dos participantes, logo depois do Encontro o Comitê organizador se reunirá com os prefeitos dos diferentes dicastérios vaticanos competentes nos diversos assuntos tratados. O objetivo dessa reunião será identificar as propostas apresentadas durante o Encontro e as tarefas que devem ser realizadas para que essas propostas possam ser postas em prática sem demora.
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Os doze apóstolos de Bergoglio: as vítimas tomam a palavra no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU