Por: Patricia Facchin | 30 Outubro 2018
A eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil é “um desastre”, afirma Ruy Fausto à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Diante da eleição do candidato, sugere, “agora é mobilizar para a resistência as forças vivas do país, na sua grande maioria radicalmente opostas a Bolsonaro e a tudo o que ele representa – resistência ao populismo de extrema direita (que pode ser chamado com suficiente rigor de neofascista) em todos os lugares em que a luta for possível, dentro e fora da sociedade civil: no legislativo, no judiciário – sempre que encontrarmos lá algum espaço – , nos executivos estaduais e municipais, na universidade, na mídia, nas ruas”.


Ruy Fausto | Foto: Cristina Guerini - IHU
Ruy Fausto é graduado em Filosofia e em Direito pela Universidade de São Paulo – USP, e doutor em Filosofia pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne. Entre seus livros, mencionamos, Caminhos da esquerda. Elementos para uma reconstrução (Companhia das Letras: 2017); Sentido da dialética - Marx: Logica e Política (Vozes: 2015); A esquerda difícil (Perspectiva: 2007); e Os piores anos de nossa vida (Fundaçao Astrojildo: 2008).
A entrevista foi publicada durante o dia de ontem em Eleições 2018: Um pleito que revelou muito da sociedade e do Estado. Primeiras análises.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Que avaliação faz do resultado das eleições presidenciais e qual é o seu significado político?
Ruy Fausto – Um desastre. Foi eleito um candidato que faz o elogio não só da ditadura militar, mas da ala mais violenta dessa ditadura. Ele não porá em prática o que anda dizendo? Uma parte, pelo menos, porá. E, principalmente, os efeitos dessas opiniões já estão aí. Nunca a situação dos LGBT foi tão difícil no Brasil. Basta isso para mostrar a gravidade do momento atual.
O que irrita é o discurso conciliador. E a simetria que se estabeleceu entre os dois candidatos. Bolsonaro é de fato um extremista de direita. Mas Haddad, muito bom candidato aliás, é um homem de centro-esquerda que não tem nada de extremista.
E o PT, dirão? O PT é, na realidade, um partido semipopulista, que cometeu o grave erro de se acomodar à corrupção que domina o Estado brasileiro há muito tempo. Se acomodou e se aproveitou dela, combinando esse pecado com uma política social que produziu alguns resultados. Isso implicava para o PT e o seu candidato a exigência de uma autocrítica rigorosa; porém era mais do que insuficiente para fazer desse partido, objetivamente, um grande demônio. Pois foi o que aconteceu.
Agora é mobilizar para a resistência as forças vivas do país, na sua grande maioria radicalmente opostas a Bolsonaro e a tudo o que ele representa – resistência ao populismo de extrema direita (que pode ser chamado com suficiente rigor de neofascista) em todos os lugares em que a luta for possível, dentro e fora da sociedade civil: no legislativo, no judiciário – sempre que encontrarmos lá algum espaço – , nos executivos estaduais e municipais, na universidade, na mídia, nas ruas.
IHU On-Line - Quais serão os desafios de governabilidade do presidente eleito?
Ruy Fausto – Ele encontrará os seus aliados. Não faltam conservadores truculentos nem oportunistas no cenário político brasileiro.
IHU On-Line - O que esperar do governo eleito?
Ruy Fausto – Espero que as forças vivas do país saibam se organizar sem sectarismo e se opor com inteligência aos projetos desse governo e a todo o mal que ele encarna, em termos de economia, de educação, de política cultural, de costumes, de política ambiental, de direitos humanos, de igualdade, e de liberdade.
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A desastrosa eleição de Bolsonaro e a mobilização pela resistência. Entrevista especial com Ruy Fausto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU