06 Setembro 2018
Os ultraconservadores criaram uma rede que julga a fidelidade dos bispos às doutrinas morais mais conservadores.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 05-09-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Inquisição ressuscita na Igreja estadunidense. O sítio LifeSiteNews, especializado em atacar o Papa Francisco e o seu magistério, abriram uma página com o título Faithful Shepherds (“Pastores fieis”, em português), na qual julgam e sentenciam os prelados estadunidenses de acordo com o que eles consideram “fidelidade” à doutrina “perene” da Igreja.
De acordo com o LifeSite, Faithful Shepherds leva a cabo esse juízo sumário dos mitrados dos EUA, baseando-se em “anos, e em alguns casos décadas, de tuites, discursos, sermões, ações, cartas pastorais e pautas diocesanas passadas”.
Faithful Shepherds, continua a LifeSite, “dá testemunho de onde se encontram os bispos estadunidenses respeito a nove questões: a Amoris Laetitia, a liderança pró-vida, a homossexualidade, a política de aborto, os contraceptivos, a ideologia LGBT, a liturgia, o matrimônio e a vida familiar e a educação”.
O objetivo é, em primeiro lugar, emitir um veredito sobre se os pastores seguem ou não a doutrina mais rigorosa. Porém, ademais, LifeSite também pretende que os fiéis tomem consciência das sentenças que ditam para depois mandar “postais” aos bispos ou bem lhes dando os agradecimentos pela sua “fidelidade” ou lhes advertindo de que “parem de pôr em perigo as almas e que sejam fiéis” ao magistério mais conservador, como se tratasse de uma espécie de lobby.
Não é coincidência que LifeSite, um dos meios ultraconservadores que mais tem atacado o Papa Francisco depois do escândalo Viganò, promove os bispos nomeados por João Paulo II ou Bento XVI por cima dos nomeados por Bergoglio. Assim, por exemplo, o cardeal Raymond Burke, outrora bispo de La Crosse, Wisconsin (1995-2004) e depois de St. Louis, Missouri (2003-2008) e atual patrono nas funções da Ordem de Malta, tira nota dez em todas as prioridades do LifeSite.
Do cardeal Joseph W. Tobin, a grande aposta de Francisco pela Igreja estadunidense, LifeSite decreta que “permite a comunhão para católicos divorciados e novamente casados” e que “não apoia a doutrina da Igreja sobre a ideologia LGBT”. E isso apesar das matizes bem fundamentadas na doutrina das declarações sobre esses assuntos não somente do próprio Tobin, mas também do Papa Francisco.
Porém, quem são os responsáveis do LifeSite, e por que creem serem os juízes supremos dos bispos dos EUA? Para entender sua prepotência, basta repassar um editorial escrito em 2017 pelo seu co-fundador e atual direto, Steve Jalsevac, no qual arremete contra algo que define como a “Nova Ordem Mundial”, uma suposta conspiração entre alguns dos políticos mais influentes do mundo para, diz, “transformar radicalmente a sociedade internacional, tomara controle pleno das economias de todas as nações, eliminar as soberanias nacionais e impor no mundo transformações sociais dramáticas e medidas extremas de despovoamento”.
Os políticos quais Jalsevac aponta como ideólogos da “Nova Ordem Mundial” revela o grau de sua paranoia: as Nações Unidas, a União Europeia, os meios de comunicação mainstream, as instituições de educação pública dos EUA, o “islã militante”... Porém surpreende que incluam o Vaticano do Papa Francisco na sua lista de “maus”, por supostamente “sentar as bases para um argumento moral e religioso a favor do controle da população, o uso de contraceptivos, famílias pequenas e a aceitação da homossexualidade”. Especialmente quando o próprio Jalsevac reconhece que Bergoglio tenha feito “muitas declarações ao contrário”.
Assim é como a ideologia de LifeSite e Faithful Shepherds desqualificam a si mesmo: como um disparate mais de um grupo de fanáticos que insistem em ver uma conspiração das elites em mudanças inevitáveis do mundo moderno. Como tal, sempre gostaram os católicos mais radicais, mas talvez tenha chegado a hora de os mesmos bispos que pretendem julgar, contra-ataquem e lhes tirem toda identidade católica que possam reivindicar.
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A inquisição ressuscita na Igreja estadunidense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU