03 Setembro 2018
Um apelo que relança o papel da teologia e seu impulso 'carismático e profético'. “As resistências contra Francisco são as resistências ao Concílio".
O artigo é dos teólogos italianos Paolo Scarafoni e Filomena Rizzo, publicado por Vatican Insider, 31-08-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nunca como nestes dias nós questionamos sobre papel que podemos desempenhar como teólogos católicos nas dificuldades que atravessa a Igreja. Não gostaríamos de nos descobrir entre aqueles teólogos cerebrais que erguem muros e criam dificuldades, considerados por Atenágoras e Paulo VI um obstáculo no caminho da Igreja e no progresso da humanidade. "O que temos que esperar, que os teólogos entrem em um acordo?", perguntava-se provocativamente Paulo VI no avião que o trazia de volta de Istambul a Roma após a reunião de 1964, em Jerusalém. A resposta do Patriarca Atenágoras a Paulo VI é lapidar: "Vamos em frente sozinhos, e vamos colocar todos os teólogos em uma ilha para que eles pensem."
Hoje não serviria mais nem mesmo uma ilha grega, bastaria uma pequena rocha. Poucos são os que ficaram navegando em águas tempestuosas. O belo exemplo que preferimos, em vez disso, é aquele dos grandes teólogos do Vaticano II (Guardini, Ratzinger, de Lubac, Congar, von Balthasar, etc.). Eles foram capazes de ter um vislumbre da mudança da Igreja e com coragem a projetaram para o mundo, fazendo com que saísse das muralhas onde tinha se encastelado. Dizia o Papa Bento: "Acredito que seja possível demonstrar como em todas as figuras dos grandes teólogos seja possível uma nova evolução teológica apenas na relação entre teologia e profecia".
Dentro do que resta da muralha ainda existem pessoas que não querem sair, pensando ficar parados no lugar, para defender espaços e privilégios em pedestais, poltronas e atrás de balaustradas, enfeitadas com rendas e mantos e pretendendo representar a verdadeira igreja. Uma muralha totalmente ignorada pelo povo de Deus e pela humanidade. O Papa está agora fora de tal muralha com Jesus. Um caminho irreversível iniciado por João XXIII e continuado por todos os seus sucessores.
Todos os dias assistimos a tentativas infrutíferas, através de comunicados de imprensa e declarações escandalizadas, para levar de volta o papa para dentro desses recintos. Enquanto isso, o papel profético dos teólogos enfraqueceu-se. Não foram suficientes nem mesmo impulsos teológicos e espirituais dos movimentos eclesiais, nascidos e desenvolvido na época de João Paulo II. Eles deram tanto à Igreja. Infelizmente, em muitos casos, permaneceram presos na figura do fundador que foi institucionalizado, e progressivamente mudaram o elemento da gratuidade do Espírito em "terceiro setor".
Que não desistiu até agora do caminho na renovação foram apenas os Papas, que tiveram a coragem de propor profeticamente à Igreja e ao mundo o caminho do amor traçado por Cristo e compreendido pelo Concílio Vaticano II. A continuidade entre os papas depois do Concílio é impressionante. À produção teológica do passado hoje escassa, supriram com seus documentos e discursos.
Francisco acrescenta aos papas anteriores a busca por circunstâncias concretas, por pessoas concretas em quem se encontra a novidade, a semelhança a Cristo. Disso decorre a "opção preferencial pelos pobres". Não se limita a declarações teóricas, mas incentiva para uma mudança real.
Francisco interpreta a profecia como reconhecimento e "discernimento" dos "sinais dos tempos", para mudar positivamente o curso da história. Passa de afirmações gerais a serem impostas a todos, a um papel de iluminação. Ele faz isso colocando Cristo no centro, Cristo no meio das pessoas. Vamos compartilhar o que escreve La Civiltà Cattolica por ocasião do quinto aniversário de seu pontificado: "Para Francisco, o Evangelho é o talento para gastar e fazer frutificar. A igreja deve sair para a rua, ficar suja e talvez até se machucar. As resistências atacam e discordam da sua visão da Igreja, entendida como ‘tocha’ que caminha e vai a toda parte. Eles gostariam que fosse apenas um ‘farol’, parado em seu lugar, em sua imobilidade: atrai e consola, mas não acompanha. As resistências contra Francisco são as resistências ao Concílio". Até os teólogos devem se sacudir.
O nosso é um apelo e vamos usar as palavras do Papa Bento XVI, "as novas grandes teologias não decorrem do trabalho racional da teologia, mas de um impulso carismático e profético. E é neste sentido que a profecia e teologia sempre andam de mãos dadas. A teologia, em sentido estrito, não é profética, mas pode ficar realmente teologia viva quando é alimentada e iluminada por um impulso profético." Portanto, é importante para os teólogos a "relacionalidade" entre eles em todo o mundo, em estreito contato com as pessoas comuns. Sem perder a natureza científica e o rigor do pensamento é preciso recomeçar de baixo e aceitar que a teologia viva, profética, cada vez mais seja pensada e escrita nas línguas de todos os continentes, não só, e principalmente nas línguas europeias. Francisco não deve ficar sozinho!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os teólogos não podem deixar sozinho o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU