31 Agosto 2018
"A mensagem de Jesus para que O sigamos com a nossa cruz, não deve ser comparada com o carregar uma cruz ou um crucifixo, muito menos sustentar somente a ideia de mais um dos tantos conceitos em nossas vidas. Mais do que a beleza do sacramental no pescoço ou um conceito, assim como os Gálatas que caíram na ilusão de um Cristo sem cruz ou de uma cruz sem Cristo, O Jesus da cruz nos “pede amor” pela via da fé objetiva, e nos “dá forças suficientes” para carregá-lO em estado de adoração dentro do coração", escreve Orlando Polidoro Junior, pastoralista, teólogo e mestrando em Teologia pela PUCPR.
Nas perícopes dos Evangelhos de Mateus 16,24; Marcos 8,34 e Lucas 9,23, Jesus professa: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. O sentido físico da cruz é lastimoso; cheio de maldades, puro sofrimento. Não para nela padecer, mas como forma de tormento, amargura e provação, será que este é Seu desejo para nós ao pedir que O sigamos carregando uma cruz, talvez tão “pesada” quanto à sua? Certamente, não! Mas então qual é o valioso significado espiritual [mistagogia] que Jesus deseja que compreendamos com a mensagem dessa parábola?
O lídimo conceito da mensagem de Jesus de Nazaré é para que o crente renuncie a todo e qualquer tipo de maldade que possa passar na sua mente, evitando que não se transforme em ação, e torne-se um peso na consciência. A “proposta” é, liberto (a) [aberto unicamente para a graça], e com a mesma doutrina de Jesus – manso e humilde – desfrute da Redenção do Reino terreno do Pai, carregando sempre no coração a “leveza” da dádiva da Sua Paz, junto com o expressivo “Peso do Amor” que foi até à cruz.
Jesus, O Cristo, nos chama para “segui-lO sempre”, prometendo que, nos momentos de tribulações, com Sua Doutrina; Sua mansidão e humildade de coração, alivia o fardo do fiel, pois Seu jugo é suave e Seu peso [cruz] é leve (cf. Mt 11,28-30).
Mesmo com as palavras do próprio Jesus em Mateus 11,28-30, há controvérsias teológicas quanto ao entendimento da mensagem. Os conservadores, mesmo afirmando que a Via Crucis foi toda para o bem da humanidade [salvação], ensinam equivocadamente a questão do sofrimento, ou seja: quando não é pela “desgraça do inimigo”; é porque, se Jesus sofreu, também podemos ou devemos sofrer, relacionando isto com mágoas, doenças físicas e mentais, maldades generalizadas, desavenças, intrigas,- aflições, dificuldades familiares e financeiras, etc. Os fundamentalistas pregam a ideia de inúmeros “embaraços” para todos. É como se estivéssemos predestinados a viver mediante amarguras e provações, sendo que para a Santíssima Trindade não há provações, há sim, uma asseveração que não demanda nenhum tipo de sofrimento – só exige AMOR – substância de Deus.
Em Verdade, temos biblistas e teólogos que reconhecem desde o Primeiro Testamento as maiores dádivas do Reino de Deus reveladas no “chão da vida” – sobretudo a Dolorosa Paixão do Segundo, e as interpretam como sublimes confirmações do Amor Incondicional e Misericordioso de Deus, eliminando todas as possibilidades de tribulações que o fiel, “em queda”, tenha que passar como consequência por ser criatura do Senhor. Não que o cristão esteja livre de todo e qualquer tipo de sofrimento, mas, reconhecem no madeiro, a “libertação” para um encontro interior – uma comunhão permanente com a Trindade Santa – repleta de Amor e de paz – suficientes para produzir mansidão e equilíbrio emocional para superá-los com sobriedade. A cura interior nos momentos de fragilidade é muito rápida quando o (a) fiel carrega o amor da Santíssima Trindade dentro de si.
Frente à visível realidade presente em toda a história da humanidade, que nos mostra inúmeras maldades, angústias e tristezas presentes entre todos os povos, até mesmo para os que vivem fervorosamente na fé do Deus-Trino, não é nada fácil declarar e até mesmo tentar explicar a razão dos sofrimentos humanos quando se confia piamente em Sua compaixão. Apesar deste contexto fazer sentido, vida terrena sem sofrimento não é Sua Promessa. Porém, o amparo e o conforto que o cristão recebe gratuitamente é construído por uma ascensão espiritual [dom do céu dentro do ser], que transcende toda e qualquer forma de entendimento comum, visto que está relacionada com a alma espiritual e o coração – e de sua abertura para permitir a graça suficiente (cf. 2Cor 12,9).
Em exaltação, para o cristão fidedigno à Boa-Nova, que verdadeiramente reconhece, permite e convive intensamente seu dia a dia sob a Graça do Plano de Amor de Deus em sua vida, o jugo suave não é somente para ser enaltecido nos dias de paz, mas principalmente nos de maiores dificuldades, não permitindo que sua alma e a do próximo sejam contaminadas com tristezas [joelhos dobrados]. Somente esta condição de vida justifica todo o peso do Amor colocado na cruz.
No madeiro, nosso Deus-Trindade superabundou a Graça – e com o resplandecer da luz do Seu Espírito Santo, mostrou o Único Caminho seguro para o fiel seguir carregando sua cruz. Não como um leve e mero ícone sacramental, mas sim, com todo o peso da Cruz Libertadora, que surpreendentemente se torna leve e prazerosa de carregá-la, a partir do momento que o cristão retira O Amor – com todas as suas forças do fundo do coração/alma, e O coloca em sua vida [consciência] e na vida do próximo. [Cristo Jesus entra pela Graça, faz a obra por completo e transfigura o olhar do crente, fazendo-o enxergar toda a beleza do Reino Terreno]. Mas para isto é fundamental estar repleto de sinais condizentes com o Plano de Amor de Deus, e não cheio de tristezas e de rancores provocados pelo medo das tribulações, medo de ser feliz, medo de errar, e principalmente pelo medo do que poderá vir depois [...].
Comentar que vivemos num mundo de crucificados pode representar uma condição bem inconsistente e pesada para os que creem na bondade de Deus. A cruz não foi salvadora, mas toda a vida de Jesus de Nazaré e sua ida até ela, traz até nós elementos essenciais da Criação; do Criador – e do por Ele Gerado. Então, “todo ‘ser humano/criatura’, crente ou não, ’simbolicamente’, tem que carregar a sua cruz”. Porém, o jeito e a forma de “aliviar o peso” são peculiaridades bem pessoais – mas que dependem somente do “tipo de força empregada no amor, para nós cristãos, fundamentalmente no Amor”.
Para todo aquele que se diz cristão (ã), conforme Lucas 9,20, Jesus faz a mesma pergunta: “E vós quem dizeis que eu sou?” Assim como para Pedro, mesmo convivendo com Jesus não foi nada fácil e até bem demorado para discernir, porém, mantendo-se na Sua presença e na Sua escuta, quando confiante e maduro, só há uma profissão de fé: O Cristo de Deus. Com louvores, isto responde também a promessa do jugo suave e do peso leve da cruz da vida.
Carregar a cruz pessoal (cf. Lc 14,27), “o leve no sentido de peso” só tem valor quando convertido em amparo e conforto. Ação sobrenatural da Santíssima Trindade sobre o cristão (ã). Não há nenhum ser humano capaz de explicá-la por completo, dado que, diante do mistério – é pura Graça Divina enviada do céu.
Na história, a cruz tem um significado de sofrimento, de tortura e execução. Por analogia representa tudo que se encontra [cruza], porém, para o Cristianismo consiste em misericórdia – no Amor do Pai revelado em Cristo Jesus. É o encontro Sagrado do cristão com O Pai, com O Filho e com O Espírito Santo (cf. Cl 2,9]. “Feliz o homem que encontrou a sabedoria, o homem que alcançou o entendimento!” (Pr 3,13).
A mensagem de Jesus para que O sigamos com a nossa cruz, não deve ser comparada com o carregar uma cruz ou um crucifixo, muito menos sustentar somente a ideia de mais um dos tantos conceitos em nossas vidas. Mais do que a beleza do sacramental no pescoço ou um conceito, assim como os Gálatas que caíram na ilusão de um Cristo sem cruz ou de uma cruz sem Cristo, O Jesus da cruz nos “pede amor” pela via da fé objetiva, e nos “dá forças suficientes” para carregá-lO em estado de adoração dentro do coração. “O amor de Cristo revelado na cruz é como um GPS espiritual” (Papa Francisco).
O Papa Francisco assinalou que a cruz é um “mistério de amor. Somente com a contemplação se vai avante neste mistério de amor”, afirmou. “Jesus desceu do Céu para levar todos nós a subir ao Céu”, este é o mistério da cruz”.
Por Cristo, com Cristo, e em Cristo.
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Qual o peso da nossa cruz? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU