16 Agosto 2018
Na pedofilia clerical é necessário pedir explicações aos Bispos, responsáveis pela aceitação, formação e ordenação dos sacerdotes. Uma consciência que falta na opinião pública católica.
O comentário é de Luis Badilla, jornalista, publicado por Il sismógrafo, 14-08-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Alguns meses atrás Andrea Grillo apontava, com razão, refletindo sobre a renúncia de Marie Collins à Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, que existe uma relação inseparável entre "afirmação de princípio" e "prática adquirida" e isso, ele observava, é ainda mais relevante quando se fala de reforma da Igreja. "Reforma da Igreja - acrescentava Grillo - não é só a reforma da mentalidade, mas a reforma dos procedimentos. Significa que a Igreja aceita responder em tribunal pelos seus crimes e não se esconde atrás do silêncio irresponsável.”
Isso significa que a Igreja - acrescentamos como já escrevemos tempo atrás - compromete-se a disponibilizar a favor da prevenção e do acompanhamento das vítimas, todos os seus meios e recursos na luta contra os abusos, em especial aqueles instrumentos ou vetores que ajudam à formação de uma opinião pública católica bem informada e consciente e, portanto, capaz de pesar na dialética interna da comunidade eclesial.
Entre esses meios e recursos da Igreja no mundo, de continente ao outro, da Santa Sé até a menor e mais humilde de suas igrejas, dispõe de uma ferramenta poderosa porque temida, influente e amplamente difundida: a sua imprensa. Infelizmente tudo o que o Papa disse desde o início de seu pontificado até agora, mas antes o mesmo aconteceu também com Bento XVI, sobre o drama da pedofilia especialmente entre os membros do clero, raramente resultou em "procedimentos concretos" e poucas mídias católicas se valeram das consequências, especialmente, de colocar-se a serviço da mudança de mentalidade dos sacerdotes hoje existentes e daqueles que o serão amanhã. Embora hoje se registrem algumas mudanças, a imprensa católica continua em grande parte a calar sobre a questão e seus mecanismos de autocensura e autocontrole ainda são ferrenhos.
Um verdadeiro pecado. Se um dia essa imprensa mudar radicalmente a sua conduta profissional e moral, poderá ser tarde demais.
Os abusos sexuais de vários membros do clero, em todos os países e continentes, pertencem à terrível consequência da autorreferencialidade, do abuso de poder.
Aqui está um resumo da análise de Andrea Grillo de um ano atrás: "A questão diz respeito a um déficit estrutural de Igreja católica contemporânea, que Francisco coloca em plena luz, e contra a qual ele pediu com grande ênfase uma mudança estrutural. O exercício da violência sobre menores não é primariamente uma questão moral, mas uma questão de exercício autorreferencial das autoridades, que anula os direitos de terceiros. No sentido de que não percebe sua existência e se remove a sua consistência. E aqui é preciso fazer uma dupla consideração, que ajuda a compreender melhor também as diferentes resistências ao pontificado e seu ímpeto reformador. O pontificado de Francisco atua primeiramente sobre este ponto: contesta frontalmente a autorreferencialidade, que é a verdadeira raiz da distorção de formação e relacional"
Reflexões, juízos e análises a serem plenamente compartilhadas, como também são compartilháveis essas conclusões de A. Grillo: "Diante disso, existem duas reações Por um lado, há o número daqueles que se opõem abertamente e pelo conteúdo à reforma, defendendo inescrupulosamente toda forma de poder autorreferencial. E eles encontram todos os meios, processuais ou não, para criar obstáculos à mudança e à conversão da Igreja, mas há também algumas pessoas - em diferentes níveis da hierarquia e também bem colocadas em jornais "amigos" - que estão dispostas a reconhecer em palavras todos os conteúdos novos, mas sem qualquer flexibilidade no plano dos procedimentos. Não ser autorreferencial não é uma questão de intenção, é uma questão de ‘praxe’".
Os casos de pedofilia clerical não tendem a diminuir, pelo contrário. Nos últimos meses, foram registrados inclusive mais casos de bispos envolvidos em abusos ou ocultação do que a imprensa relatou no passado. Há países em que talvez, pelo que podemos compreender até agora, poderiam surgir várias situações escandalosas relativas aos membros dos Episcopados.
É um ponto crucial sobre o qual a imprensa, especialmente a católica, é chamada a dar uma contribuição corajosa de verdade e de cura. A pedofilia clerical, a montante, quase sempre tem um primeiro responsável: o bispo. Os seminários em que são escolhidos e aceitos os candidatos ao sacerdócio, onde são formados e preparados, onde são finalmente encaminhados para o Povo de Deus, são responsabilidade dos bispos diocesanos. Eles também são chamados a responder e a imprensa não deveria poupá-los nesse sentido.
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Lembre-se sempre que os responsáveis e autores de pecados e crimes tais como os abusos sexuais de crianças temem mais a imprensa do que o inferno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU