15 Agosto 2018
O cardeal Donald Wuerl expôs sua visão sobre a participação dos leigos em novas estruturas de supervisão, respondendo aos recentes escândalos da Igreja dos Estados Unidos. Ele é um dos vários bispos que estão pressionando para haver colaboração entre leigos e bispos a fim de garantir a responsabilidade da hierarquia da Igreja.
A informação é de Ed Condon, publicada por Catholic News Agency – CNA, 13 -08-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Em um artigo publicado no sítio da revista da Arquidiocese de Washington DC, Catholic Standard, Wuerl afirma que há um quadro teológico bem estabelecido para uma maior participação dos leigos enquanto a Igreja enfrenta a "atual situação desafiadora e busca alguma resposta estrutural e autenticamente católica".
Referindo-se à crise generalizada de casos de abuso sexual do início do milênio, quando houve objeção ao fato de as dioceses não terem apresentado respostas adequadas às acusações de abuso, os bispos agiram na tentativa de fazer mudanças significativas, segundo o cardeal.
"Em 2002, quando enfrentamos a terrível crise de abuso infantil, os bispos produziram a Carta para a Proteção de Crianças e Jovens (Charter for the Protection of Children and Young People). Depois, no mesmo ano, o documento 'normas essenciais', criado para a implementação da Carta, também foi aprovado pelos bispos e pela Santa Sé."
Nas últimas semanas, a credibilidade da Carta de Dallas foi questionada por observadores que salientaram o importante papel de Theodore McCarrick na elaboração das disposições e no discurso contra o abuso.
Outros destacaram que o fracasso na aplicação da carta e das normas essenciais para os bispos, bem como sacerdotes e diáconos, foi deliberado. Embora tenha ocorrido após questionamentos legítimos sobre a autoridade da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos para aprovar normas vinculativas em relação aos bispos, em retrospectiva, parece ter prejudicado ainda mais o trabalho de 2002.
Mas segundo o cardeal Wuerl, vários pontos práticos positivos foram alcançados com a Carta de Dallas e nos anos seguintes, ou seja, as crises mais recentes têm que ver com o passado, e não com acusações atuais.
"Parece justo dizer que a carta funcionou e continua funcionando. Quase todos os casos de abusos clerical que ouvimos hoje são anteriores à carta."
Para Wuerl, muitas reformas da carta poderiam ser adaptadas ou expandidas para considerar também as acusações contra os bispos.
"Um componente-chave na implementação da Carta [de Dallas] para a Proteção de Crianças e Jovens é o Conselho Nacional de Revisão dos EUA, que supervisiona se a diocese está em conformidade com a Carta, e os conselhos de revisão diocesanos, que reveem as alegações para determinar sua credibilidade. O que seria útil hoje é que o mesmo mecanismo fosse disponibilizado para lidar com alegações de abuso ou má conduta de algum bispo."
O cardeal sugeriu especificamente que um ou mais conselhos sejam criados, com leigos de ambos os sexos e bispos como membros. Os conselhos poderiam ser criados "em nível nacional ou regional", ficando responsáveis por avaliar a credibilidade das acusações contra os bispos.
"A serviço da responsabilização e da transparência, parece que esses conselhos que refletem a composição da Igreja, com leigos e clero, ajudariam a destacar esse novo nível de responsabilização", escreveu Wuerl.
"Os resultados ou conclusões desses conselhos seriam apresentados ao representante da Santa Sé, o Núncio Apostólico. Assim, haveria o claro reconhecimento de que o julgamento final repousa com o líder divinamente instituído do Colégio dos Bispos, o Bispo de Roma".
Outros bispos, como Edward Scharfenberger, da diocese de Albany, pediram pessoalmente por mais participação leiga nas avaliações das alegações dos bispos. O bispo Scharfenberger sugeriu a formação de um painel liderado por leigos, independente da hierarquia, dizendo que "para ter credibilidade, o painel teria que ser separado de qualquer fonte de poder cuja confiabilidade possa estar comprometida".
Ao apresentar sua proposta, o cardeal Wuerl enfatizou que os bispos e os fiéis fazem parte de um só corpo de Cristo, e que a responsabilização é um esforço mútuo.
Ambas as propostas surgem antes da próxima sessão geral da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, que ocorre em novembro, em Baltimore.
Wuerl havia dito anteriormente, ao National Catholic Reporter, que seria inaceitável que os bispos esperassem até a conferência para propor respostas para a crise: "Precisamos nos antecipar a novembro, para que quando chegarmos... possamos começar a reunião com muito trabalho pronto e testando as ideias em vigor".
Até agora, as discussões centraram-se sobre como envolver os leigos numa possível nova estrutura ou processo, mas outros questionaram se é possível acreditar em processos envolvendo os bispos estadunidenses.
Um canonista que já trabalhou em casos de abuso sexual envolvendo bispos estadunidenses disse à CNA que tinha suas dúvidas.
"Se vai haver um tribunal [painel de juízes] para um caso contra um bispo estadunidense, as últimas pessoas que eu iria querer que se envolvessem seriam outros bispos estadunidenses", disse.
"Apesar de suas boas intenções, sempre me preocupo com a objetividade ao lidar com estas questões - por causa das conexões pessoais e por causa da carga sobre a questão do abuso sexual na Igreja dos Estados Unidos".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal Arcebispo de Washington define plano para envolver leigos no processo de responsabilização dos bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU