10 Agosto 2018
A Série Relatos da Fome traz à tona histórias que fazem parte da memória de um povo resiliente e que lutou por políticas públicas sociais para superá-las. E conseguiu. Mas os últimos anos de um governo que traduz investimento social como gasto e os corta para favorecer o mercado financeiro, pode aproximar o povo dessa realidade outra vez. Prestes a voltar ao Mapa da Fome, o Brasil presenciou a Caravana Semiárido Contra a Fome, uma mobilização que percorreu o país para denunciar o aumento da extrema pobreza, da mortalidade infantil e dos cortes nas políticas públicas. Dessa Caravana, pessoas trazem seus relatos de dificuldade e de luta.
A reportagem é publicada por Articulação do Semiárido - ASA, 09-08-2018.
Maria Francisca de Alcântara é uma Severina, como muitas outras severinas do Semiárido. Quando criança, no sertão alagoano, testemunhou o retrato da fome na comunidade, Sítio Poço Doce 2, na cidade de Piranhas. Ela viu crianças perecerem por tomar a água barrenta, que no tempo da seca era a única que tinha para matar a sede do povo que vivia na região. Era preciso trabalhar em troca de comida, era preciso resistir e tentar sobreviver com as migalhas que eram ofertadas em troca do trabalho duro nas frentes de emergência. Leia mais
Por muitos anos, na região Semiárida brasileira, a fome era tão naturalizada que chegava a ser passada como herança de pais para filhos. De norte a sul se ouvem histórias de pessoas que precisaram enfrentar os dias e noites sem ter se quer farinha pra por no “bucho”. “Fome, graças a Deus, eu não passei, mas minha avó teve e minha mãe e meu pai também teve. Na década de 30, na guerra da revolta, em Princesa Isabel, minha vó saiu com uma panela de barro na cabeça, com pirão de mucunã, não era de milho não! Quem morar no Semiárido e disser que ninguém da família passou por situação de fome eu digo que ele não conhece o Semiárido”, lembra com tristeza, o agricultor Audeci Nunes da Silva, que mora na comunidade Lagoa de São João, na cidade de Princesa Isabel, na Paraíba. Lei mais
Marenise de Jesus Oliveira nasceu em uma fazenda chamada Marruás, no município de Santaluz, região semiárida da Bahia. Filha de família camponesa farta em filhos, 19 contando com ela, Marenise viveu bem de perto a dura realidade de uma infância dedicada ao trabalho e, quase sempre, sem ter o que comer. Sua irmã mais velha foi mais uma que entrou para a taxa da mortalidade infantil da década de 50 – 60, vítima da desnutrição. Leia mais
Vera Lúcia Félix de Brito mora numa comunidade do agreste alagoano chamada Serra Bonita, no município de Palmeira dos Índios. Ela é prova de que o problema da fome não é só a falta do que comer, mas é também a restrição alimentar causada pela escassez de recursos que, em décadas passadas, levou a subnutrição aos lares das famílias agricultoras de todo o país, em especial do Semiárido. A comida pouca, a água salobra, e os dias exaustivos de trabalho eram a sina da população que de cabeça baixa aceitava a condição como se fosse uma espécie de castigo divino do qual não podiam se esquivar. Leia mais
No Semiárido, quando o assunto é fome, é corriqueiro se ouvir falar das mortes dos “anjinhos”, crianças recém-nascidas que morriam por conta da desnutrição, afinal do peito das mães subnutridas não se produzia o leite forte para alimentar os/as pequenos/as. As que conseguiam aprender a andar, posteriormente eram vítimas da cólera e de outras doenças causadas pela má qualidade da água consumida e pela desnutrição. Para Evanuzia Araújo, filha de pai, vaqueiro e agricultor, e de mãe, dona de casa e agricultora como ela frisa, nas décadas de 70 e 80 e inicio dos anos 90, a morte de crianças era tão comum quanto o retrato da fome esculpido nos corpos magros e rostos sofridos das muitas pessoas que sem esperança, esvaziavam os sonhos assim como seus organismos esvaziavam-se de nutrientes essenciais à vida. Leia mais
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Relatos da Fome - Instituto Humanitas Unisinos - IHU