13 Julho 2018
“Entre os muitos e diversos rótulos que já me atribuíram na vida, pois bem, faltava o de trotskista. E, menos do que nunca, eu tive a ideia, de minha parte, de atribuí-lo a qualquer outra pessoa. Imagine então ao Papa Francisco...” O filósofo Gianni Vattimo, reconhecido estudioso de Heidegger desde o seu primeiro ensaio de 1963, nunca perdeu o gosto pela polêmica. Nem mesmo hoje, quando se encontra no centro de um debate por causa do telefonema recebido justamente do Papa Francisco, que ligou para ele depois de receber seu último ensaio, Essere e dintorni [Ser e arredores], publicado na coleção Fari da editora La Nave di Teseo (aqui também nos passos de Heidegger).
A reportagem é de Paolo Conti, publicada em Corriere della Sera, 12-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bergoglio recebeu o livro a partir da misteriosa corrente de colaboradores que entrega materiais interessantes ao pontífice: e os dois logo se falaram. “Eu também li sobre uma possível conversão minha depois do telefonema com o papa... Mas eu não me converti agora! Eu me declaro uma pessoa religiosa há muito tempo”. Apenas uma pessoa religiosa, Vattimo? “Não. Continuo sendo o que fui, ou seja, um católico-comunista. Esse é o meu ponto de referência, mesmo que os contextos tenham mudado.”
Vattimo não se faz de rogado para esclarecer, do seu ponto de vista, a questão que, nos últimos dias, pareceu mais espinhosa: sua definição do Papa Francisco como possível líder revolucionário.
O filósofo explica: “Eu simplesmente defendo que o atual pontífice é uma das raras figuras no mundo, ou talvez a única, capaz de liderar uma transformação radical do atual quadro social e econômico. Se acompanhamos com atenção a pregação do Papa Bergoglio, facilmente entendemos que ele certamente está trabalhando não por uma revolução, porque um papa não faz uma revolução, mas para realizar uma grande mudança. E, do meu ponto de vista, tal operação, no mundo atual, certamente não pode ser iniciada por um homem político, mas apenas por uma personalidade de inspiração religiosa, que tenha uma motivação ligada à fé. E essa é a razão pela qual eu falo do Papa Francisco”.
Depois, Vattimo acrescenta, para evitar quaisquer mal-entendidos futuros: “Eu certamente não espero que Bergoglio passe a ser o líder comunista de um movimento. Seria absurdo. O Papa Francisco obviamente está ligado à ortodoxia da fé. Naturalmente eu sei disso”.
O filósofo não renega nem mesmo o discurso de março de 2015 proferido no Teatro Cervantes, no centro de Buenos Aires, no Fórum Internacional pela Emancipação e a Igualdade: “Lá, eu defendi a causa de uma nova Internacional Comunista e, ao mesmo tempo, ‘papista’, com Francisco como seu líder indiscutível, o único capaz de liderar uma revolução política, cultural e religiosa contra o poder excessivo do dinheiro. Mas se trata de uma hipótese minha e eu certamente não arrastei o papa para esse campo no nosso telefonema. Claramente não falamos disso. O que eu fiz em Buenos Aires foi uma provocação. Além disso, estávamos na América do Sul...”.
E o que isso significa, Vattimo? “Eu acho que, a partir daquela área geográfica, podem chegar grandes novidades para o futuro do mundo. Eu acredito que o Papa Francisco representa apenas o início desse processo.”
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Vattimo: ''O telefonema do papa? Não foi uma conversão. Continuo sendo católico-comunista'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU