Por: André | 20 Abril 2015
“O Fórum pela Emancipação e Igualdade é um acontecimento que vem para condensar uma grande quantidade de batalhas discursivas, para dar conta de um novo paradigma, para mostrar, de um modo rotundo e contundente, a gestação de uma nova linguagem da emancipação. Uma linguagem que tem uma memória viva sobre elementos de gestas passadas, que recupera palavras e que também inventa novas linguagens. Uma linguagem que ultrapassa limites fronteiriços e se enriquece de diferentes culturas, mas semelhantes”.
A análise é de Santiago Stura e publicada por Página/12, 15-04-2015. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Há alguns dias aconteceu em nosso país [Argentina] o Fórum Internacional pela Emancipação e Igualdade, organizado pela Secretaria de Coordenação Estratégica para o Pensamento Nacional subordinada ao Ministério da Cultura. Tratou-se de um acontecimento muito importante, onde tivemos a oportunidade de ouvir, aprender e dialogar com referências contemporâneas do pensamento da emancipação. Um evento sobre o qual podemos escrever e refletir sobre muitos pontos. Mas me interessa deter-me em um aspecto central: o fórum refletiu e condensou de um modo explícito e contundente uma bateria de conceitos, ideias, palavras que são apenas plausíveis de serem pensados e enunciados no marco dos governos populares latino-americanos.
O Fórum Internacional pela Emancipação e Igualdade contém e fala uma linguagem da emancipação inimaginável anos atrás. Fixa um sentido, constrói um lugar, uma teoria que nos contém. É um fórum que se envolve na disputa pela verdade, entendendo que o surgimento de uma linguagem da emancipação é o surgimento da emancipação como eixo central. Um marco que nos habilita a nos dizer palavras como igualdade, liberdade, soberania, movimentos populares, distribuição, solidariedade, Estado, esquerda, socialismo, bem viver, progressismo, pátria grande.
Um fórum que pensamos situado em uma perspectiva em que as palavras e os discursos têm um caráter performativo, onde já não são reveladores ou acobertadores de uma verdade, mas em que os discursos constroem verdade, disputam sentido com outros discursos. Palavras que reaparecem, que lutam contra sua suposta obsolescência, discursos que assinalam um horizonte, que correm o limite do pensável e do dizível. Superamos toda ideia que nos podia levar a pensar a existência de um fetichismo discursivo, onde era possível e pertinente a pergunta pela verdade “extradiscursiva”.
Gadamer diria que o “engano da linguagem, a suspeita de ideologia ou inclusive a suspeita de metafísica são, atualmente, giros tão usuais que falar da verdade da palavra equivale a uma provocação”. Para depois dizer que “... devemos colocar-nos de acordo sobre o que pode significar verdade neste contexto. É claro que o conceito tradicional de verdade, a adaequatio rei et intellecus, não tem nenhuma função ali onde a palavra não é entendida em absoluto como enunciado sobre algo, mas, enquanto existência própria, estabelece e realiza uma pretensão em si mesma”. Não podemos abordar a complexidade do social pensando em véus que distorcem, e que devemos correr para ter acesso ao “real” ou à “verdade”.
O discurso como performativo é construtor de verdade, é ação política. Toda ação política é um discurso e todo discurso é uma ação política. É a partir dali que devemos pensar o discurso. Um pensador como Angenot dirá que “podemos chamar discurso social (...) os sistemas genéricos, os repertórios tópicos, as regras de encadeamento de enunciados que, em uma dada sociedade, organizam o dizível – o narrável e opinável – e asseguram a divisão do trabalho discursivo”.
O Fórum pela Emancipação e Igualdade é um acontecimento que vem para condensar uma grande quantidade de batalhas discursivas, para dar conta de um novo paradigma, para mostrar, de um modo rotundo e contundente, a gestação de uma nova linguagem da emancipação. Uma linguagem que tem uma memória viva sobre elementos de gestas passadas, que recupera palavras e que também inventa novas linguagens. Uma linguagem que ultrapassa limites fronteiriços e se enriquece de diferentes culturas, mas semelhantes.
Uma linguagem que vem para ultrapassar limites, para ativar sonhos que pareciam impossíveis, para abrir novos horizontes. Uma linguagem que reconhece as particularidades e as dificuldades que cada processo político enfrenta, mas ao mesmo tempo permite articular todas as experiências na constituição de um novo paradigma. Um paradigma que não estabelece um dogma fechado de pontos a seguir, mas que, pelo contrário, coloca no centro da cena palavras rebeldes, palavras que permitem o jogo da significação, sempre a favor do aprofundamento democrático. Emancipação e igualdade, é disso que se trata.
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As lutas pela linguagem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU