13 Julho 2018
"A Gaudete et Exsultate é propositiva e não normativa, com isso, para vivenciar a “proposta de santidade”, assunto presente em toda a história do cristianismo, e algumas vezes atualizado pela Igreja como ocorreu com a Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II, é necessário conceber que na vida do cristão a alegria da santidade anunciada nos dois Testamentos bíblicos só atinge sua plenitude quando há um “comprometimento” com a mais valiosa essência do Reino: O Amor anunciado por Jesus, O Cristo", escreve Orlando Polidoro Junior, pastoralista, teólogo e mestrando em Teologia pela PUCPR.
A proposta sugere ao cristão uma abertura de coração para receber a graça, permitindo que O Deus-Trindade o transforme num Bem-Aventurado – repleto de Amor, para que, em saída, com ações dignas, espalhe caridade.
Entendamos caridade como amor pleno ao próximo, e em saída conforme a Evangelii Gaudium n.46, não sair ansiosamente sem rumo, com zelo proselitista, mas sim, sem julgamentos, sair lançando olhares fraternos diretamente nos olhos de todos por onde passa, acolhendo como o pai do filho pródigo – sempre de portas abertas.
Acompanhando alguns artigos publicados aqui no IHU sobre a Gaudete et Exsultate de Francisco, li excelentes reflexões, mas com “pegadas” diferentes aos olhos de seus qualificados autores. Mudando um pouco a visão em relação aos anteriores, este artigo propõe uma Teologia do povo [não populista], mas pastoral; e assim como o Evangelho de Jesus – benevolente e animado, que mesmo com estas características, quase sempre enfrenta vários obstáculos até ser compreendido e manifestado em atitudes de santidade, principalmente entre as comunidades de fé.
Falar de Jesus e de seu Evangelho parecem temas simples de serem absorvidos pelo povo, mas desde aquele tempo até os nossos dias, cada vez mais, sabemos que não é. Isso também é determinante em relação ao ‘processo de santidade’.
Falando a língua dos homens, como o povo entende o que é ser santo num mundo tão “avançado e liberal”? São inúmeras interpretações, particularmente as controvertidas de algumas denominações de cristãos protestantes, que enxergam somente os santos (as) transformados em estátuas, achando que nada representam no Reino. Sem bom senso, não interpretam que eles são modelos excepcionais de vida cristã a ser seguido. Os santos da Igreja Católica transformados em ícones, só são ‘santos reconhecidos pelos humanos’, graças às suas obras abundantes de caridade.
Com o pré-conceito reconhecido até mesmo pela forma de pensar de alguns cristãos Católicos, de que ser santo é somente para ser transformado em estátua, não há como discernir de que ser santo (a) é ser semelhante a Jesus Cristo – é contemplar o mundo com seus olhos. Lendo sobre a vida deles (as), com facilidade compreende-se que, pela graça, Caminhavam à Luz da Verdade da Vida (cf. Jo 14,6)
À Luz do Mestre, o número 71 da Gaudete et Exsultate é bem determinante: "Felizes os mansos, porque possuirão a terra" “É uma frase forte, neste mundo que, desde o início, é um lugar de inimizade, onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou vestir. Em suma, é o reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros. Embora pareça impossível, Jesus propõe outro estilo: a mansidão”.
A mansidão é gerada pela pessoa mansa, mas o que isso significa? Bondade, serenidade, doçura, tranquilidade, brandura, afabilidade, humanidade, etc. São inúmeros os adjetivos que qualificam e dão razão ao que Jesus proclamou.
Fazendo valer o ditado popular, para bom entendedor esta louvável reflexão embasada nas palavras de Jesus basta para que se compreenda com mais sabedoria o que é ser santo no mundo terreno do Deus-Trino.
Como disse Karl Rahner, “a santidade em abstrato não existe”, corretíssimo! Entretanto, quando extraída do coração e transformada em ações de caridade, ela se materializa na vida do irmão em Jesus, tornando-se concreta e muito real. “Cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo” (n.21).
A Gaudete et Exsultate é propositiva e não normativa, com isso, para vivenciar a “proposta de santidade”, assunto presente em toda a história do cristianismo, e algumas vezes atualizado pela Igreja como ocorreu com a Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II, é necessário conceber que na vida do cristão a alegria da santidade anunciada nos dois Testamentos bíblicos só atinge sua plenitude quando há um “comprometimento” com a mais valiosa essência do Reino: O Amor anunciado por Jesus, O Cristo.
Para a maioria dos cristãos, a proposta de santidade no mundo de hoje parece estar longe da realidade de uma vida normal, visto que o mundo proporciona excessivas tentações. São forças opostas entre o Bem Maior do Amor do Deus-Trindade, e os males do neocapitalismo, do hedonismo, do egocentrismo, do secularismo e tantos outros ‘ismos’ tão prejudiciais ao cristianismo, mas não só a ele, a sociedade num todo.
O Capítulo V, o último da Exortação, aborda o tema da luta espiritual, da vigilância e do discernimento. Nestas questões fundamentais para a santidade, fortalecido – luto com toda força pela Teologia centrada na consciência/capacidade espiritual do poder do bem proporcionado pela Santíssima Trindade, e enfraqueço tentando imaginar o poder do mal que o “tal inimigo” possa provocar. No final da oração que Jesus nos ensinou, onde rezamos, mas livrai-nos do mal, não significa o mal do inimigo, mas sim, o mal que o afastamento de Deus provoca. As parábolas de Jesus [3º discurso] em Mateus 13, 1-52 ilumina o campo aonde e como devemos semear o coração para colher bons frutos.
Esta batalha diária exige discernimento. “Um dom que é preciso pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual” (n.166).
"A pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz" (n.76).
O chamado à santidade é para todos [predestinados - cf. Rm 8,29-30; Ef 1,5.11], por isso, com o coração cheio do Amor da Santíssima Trindade, nossos testemunhos diários vão semeando frutos de santidade onde cada um se encontra (cf. n.14).
Por Cristo, com Cristo, e em Cristo.
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A proposta de Francisco na Gaudete et Exsultate não é a santificação do cristão para transformá-lo em uma estátua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU