Chile. Os povos originários entre o reconhecimento e a repressão do Estado

Bandeira Mapuche, Wiphala e do Chile. Foto: Wikiflags

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 06 Julho 2018

O senador chileno Francisco Huenchumilla apresentou, na quarta-feira, 04-07, um projeto que reconhece os direitos dos povos indígenas. A proposta visa assegurar os territórios e a cultura dos povos originários, assumindo o estado chileno como plurinacional. Por outro caminho, o presidente Sebastian Piñera propõe um "Plano para a Paz".

A proposta de reforma da Constituição foi considerada pelo senador Huenchumilla como profunda, e determina um marco de antes e depois na história do país. O projeto prevê autonomia e autodeterminação dos povos originários, garantindo jurisdição própria nos territórios indígenas. Desse modo, as comunidades indígenas poderiam ter seus próprios governos e legislações assegurados em seus territórios.

Na reforma estaria garantida a soberania dos povos sobre seus territórios. Assim, a forma de organização, suas instituições e modelos de desenvolvimento são autodeterminados e cabe ao Estado chileno garantir o financiamento dos meios.

Para a participação das populações indígenas, a reforma asseguraria um percentual de cadeiras no Congresso Nacional. Todas as medidas do Estado chileno, em qualquer instância de administração – municipal, provincial, nacional –, que impactassem na organização, na cultura e na identidade dos povos devem ser apresentadas para consulta das entidades autônomas.

Os territórios indígenas estariam sob total jurisdição das comunidades. Assim, se asseguraria o direito de uso e controle dos recursos naturais. As legislações civis e penais das comunidades seriam vigentes sobre os territórios e não somente para os indivíduos hereditários das etnias.

O senador Huenchumilla, do Partido Democrata Cristão, oposição ao governo Piñera, e natural de Temuco, capital da Araucanía, apresentou o projeto menos de uma semana depois da visita presidencial à região — a qual 45% da população é de povos originários, e 30% da população total é de povos mapuches. A região de Araucanía é centro dos principais conflitos do Estado com a população mapuche. Nos últimos anos, o governo de Michelle Bachelet descumpriu o acordo de não usar a Lei Antiterrorismo contra as populações que reivindicavam soberania sobre seus territórios. No ano passado, Sebastián Piñera chegou a manifestar apoio à decisão de Bachelet. Na última visita a Temuco, dia 28-06, o presidente apresentou uma nova operação policial dos carabineros para "combater o terrorismo com eficácia".

A resolução dos conflitos entre o Estado e os mapuches são uma das pautas do atual presidente. Sebastián Piñera, além da operação militar, elaborou um "Plano de Paz" que oferece propostas de desenvolvimento econômico e social e o reconhecimento constitucional para as populações originárias. Em relação aos territórios, Piñera propõe a criação de um organismo para demarcações e controle dos acordos pelo Estado. Por conseguinte, garantir a entrega de uma só vez das terras às comunidades mapuches e suas subdivisões.

 

A contradição entre os projetos está na autonomia e na autodeterminação dos povos originários. Para Huenchumilla é necessário garantir o Estado chileno como plurinacional e plurilíngue por reconhecer que o território entre as atuais fronteiras fora ocupado e explorado antes da colonização. Assim, tornando o Chile um Estado que se reconhece as diferentes nações que o constituem.

Caso alguma das medidas seja efetivada, será incluído pela primeira vez na Constituição de 1980 o termo “povos indígenas”. No Censo de 2017 o percentual de pessoas que se declarava pertencente a algum povo originário chileno foi de 12,8%, mais de 2,1 milhões de pessoas. Destes, 79%, ou mais de 1,7 milhão, se considera de origem mapuche.  

Leia mais