25 Abril 2018
"Existe o reconhecimento, pela sociedade e pelos governos, do interesse público sobre as funções sociais, ambientais, culturais e econômicas, não somente produtivas ou mercantis, associadas às explorações agropecuárias, trazendo a agricultura para uma posição de principal sujeito da nova construção de desenvolvimento", escreve Roberto Naime, doutor em geologia ambiental e integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale, em artigo publicado por EcoDebate, 24-04-2018.
Durante as décadas de 1960 e 1970, a agricultura brasileira passou por uma intensa transformação no processo que ficou conhecido como modernização ou Revolução Verde.
Este consistiu na incorporação à agricultura, com grande apoio estatal, de práticas padronizadas de produção, integrando cada vez mais a agricultura com o sistema urbano-industrial.
Com isso, se forçou a agricultura a transferir renda e estimular o desenvolvimento dos centros urbanos e industrial do país, através da venda de matérias-primas a preços baixos, com a compra de insumos e liberação de mão de obra excedente dos campos, também conhecida como êxodo rural.
No processo houve um aumento da produção de commodities agrícolas e do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Porém este crescimento econômico trouxe consigo a aceleração do esgotamento dos recursos naturais e começou a gerar problemas sociais importantes que acabaram por mostrar que esta forma “moderna” de produção não poderia ser o padrão de desenvolvimento sustentável para o país.
A partir do Relatório Meadows e da Conferência de Estocolmo (1968 e 1972) a inquietação a respeito das formas de produção e consumo vigente começaram a tomar forma, dando iniciando aos movimentos ambientais.
Mais de uma década após, no Relatório Brundtland (O Nosso Futuro Comum, 1987) foi enfatizado o conceito de sustentabilidade do desenvolvimento, que culminou na elaboração de um plano de ação, a Agenda 21, na Conferência do Rio de Janeiro, a Cúpula da Terra de 1992.
Assim, 20 anos após a definição de uma agenda mundial, quando a concepção de sustentabilidade começa a aflorar e invade as mídias, universidades, instituições de pesquisas e as políticas dos países inteiros, as críticas ao modelo de agricultura intensiva no uso de insumos externos às propriedades e geradora de poluição e problemas sociais, iniciadas a mais de 40 anos com o Relatório Meadows, se fortalecem e se consolidam.
Os múltiplos aspectos ambientais e socioculturais do desenvolvimento são evidenciados, no contexto de valorização das múltiplas funções desempenhadas pelos recursos naturais, suprindo funções ecológicas, econômicas e recreativas.
Então se passa a compreender que os elementos naturais não são homogêneos e nem “ativos” econômicos, e a se pensar a atividade agrícola como principal ponto de contato e de tensão entre a sociedade e a natureza.
Reconhecendo as importantes funções desempenhadas pelas atividades rurais e suas agriculturas praticadas, e também consignando que é justamente nesta interface que residem alguns dos principais desafios do nosso tempo.
Como continuar produzido cada vez mais alimentos para uma população cada vez mais numerosa, mas com cada vez menos impactos ao meio ambiente.
Mas é sempre bom lembrar que este novo modelo agrícola, não passou nem perto de solucionar o problema da fome, que depende da distribuição de riqueza.
Não faz sentido exercer qualquer condenação prévia e apriorística da biotecnologia ou de qualquer substância química, com apropriação dogmática. Qualquer inovação tecnológica teve como estimulação, os benefícios que podem ser gerados, embora possam ter trajetória tão diferenciada quanto são as intenções e predisposições de toda humanidade.
Assim, todos os procedimentos merecem isenção e avaliações em cada caso, e não condenações gerais de qualquer natureza, que respondam a anseios dogmáticos ou políticos.
Conforme já se referiu, mesmo que não se apregoe qualquer restrição às evoluções científicas que inegavelmente são representadas por incrementos na transgenia, não custa nada admoestar a todas as partes interessadas que é preciso ter um pouco de humildade.
Existe o reconhecimento, pela sociedade e pelos governos, do interesse público sobre as funções sociais, ambientais, culturais e econômicas, não somente produtivas ou mercantis, associadas às explorações agropecuárias, trazendo a agricultura para uma posição de principal sujeito da nova construção de desenvolvimento.
Se a noção de desenvolvimento sempre esteve associada ao aumento quantitativo da atividade econômica, hoje se sabe que este não poderá ser sustentável uma vez que a capacidade de suporte do planeta não é infinita. Se concebe assim o desenvolvimento sob a dimensão da melhora da qualidade de vida, porém sem a implicação do aumento do consumo dos recursos naturais.
Desta maneira, uma forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável é estudar e compreender melhor a capacidade de regeneração dos recursos naturais, especialmente daqueles de uso comum.
Para tanto, o entendimento do papel fundamental dos fluxos da matéria e da energia nos ecossistemas e as relações de causa e efeito das suas modificações de acordo com as atividades antrópicas (humanas) pode ser realizado através de uma das mais importantes ferramentas científicas de que se dispõe, que é a teoria sistêmica e sua integração com as leis da termodinâmica.
A análise sistêmica, baseada na Teoria Geral de Sistemas, quando aplicada à Ecologia, permitiu precursoramente a Howard T. Odum (1924 a 2002) conhecer e modelar o funcionamento das atividades antrópicas em suas interações com os ecossistemas e agroecossistemas.
Sua integração com as leis da termodinâmica levou a definição de critérios que possibilitam analisar o desempenho dos sistemas naturais e antrópicos por meio da conversão dos fluxos de matéria, energia, recursos monetários e informação e em fluxos equivalentes de energia solar.
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Dilema entre crescimento e sustentabilidade na agricultura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU