28 Setembro 2010
Além de ser um meio de hiperdesperdício de água, os lava-jatos para carros são uma fonte de produção de resíduos sólidos. Isso porque nas “águas de lavagem de automóveis pode existir detergentes de vários tipos, biodegradáveis ou não, restos de poeira, fuligem, graxa, gasolina e todo tipo de resíduo produzido pelos automóveis”, explica o professor Roberto Naime. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por email, Naime falou sobre o impacto que os lava-jatos causam no meio ambiente e aponta que na água, misturada com os produtos utilizados para a limpeza dos veículos, estão presentes efluentes como “flúor, nitratos e chumbo, entre outros produtos que podem provocar intoxicações como fluorose, metemoglobina e saturnismo”.
Roberto Naime é graduado e mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É doutor em Geologia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente, é professor na Universidade Feevale. É autor de Impactos ambientais no agronegócio (Cuiabá: Ecos de Cuiabá, 2007) e Gestão de Resíduos Sólidos – uma abordagem prática (Novo Hamburgo: Editora Feevale, 2005), entre outros.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Para entendermos os impactos dos lava-jatos de automóveis, o senhor pode, primeiramente, explicar quais são os efluentes líquidos presentes nesse tipo de serviço?
Roberto Naime – A bibliografia especializada cita o flúor, nitratos e chumbo, entre outros produtos que podem provocar intoxicações como fluorose, metemoglobina e saturnismo. Mas de uma forma mais simples é fácil entender que nas águas de lavagem de automóveis podem existir detergentes de vários tipos, biodegradáveis ou não, restos de poeira, fuligem, graxa, gasolina e todo tipo de resíduo produzido pelos automóveis.
IHU On-Line – Quando se lava o carro em casa, seja com balde ou com mangueira, os efluentes são os mesmos?
Roberto Naime – Os efluentes são os mesmos sim, mas numa lavagem com balde nós não espalhamos estes efluentes pelos jardins, calçadas e demais espaços urbanos particulares ou públicos. Além da enorme economia de recursos hídricos que ocorre quando a lavagem é feita por balde com paninho em relação à lavagem com mangueira.
IHU On-Line – Que tipo de programas de gestão de resíduos sólidos os serviços de lava-jatos precisam organizar?
Roberto Naime – Se pensarmos bem, não é nenhuma “ecochatice” imaginar que ocorram contaminações por óleos e graxas e até restos de combustíveis em todos os panos usados pelos serviços de lava-jatos. Estopas e resíduos de fábricas que fazem manutenção de máquinas e que têm graxas e óleos necessitam ser descartados em aterros de resíduos de classe I, que são resíduos perigosos. Evidentemente que o grau de diluição dos panos é muito maior e não configura risco à saúde humana, mas panos que lavam automóveis e motores de automóveis devem ter algum tipo de contaminação com óleos e graxas.
IHU On-Line – O funcionário que trabalha diretamente com esses lava-jatos pode sofrer algum impacto também em função dessa água contaminada que gera resíduos sólidos?
Roberto Naime – Poder, pode, mas é um hábito cultural tão arraigado o cuidado com o automóvel que ficar falando nisto pode ser considerado uma chatice. Mas é lícito imaginar que possam ocorrer a saturação por flúor, a contaminação pelos nitratos ou por algum tipo de contaminação por chumbo.
IHU On-Line – E o que a entrada desses resíduos significa para os solos?
Roberto Naime – Contaminação dos solos e das águas do lençol freático ou dos aquíferos subterrâneos que saturam rochas. É evidente que esta contaminação é muito diluída nas águas e não constitui perigo para a qualidade de vida.
IHU On-Line – Quem controla o funcionamento dos lava-jatos no Brasil?
Roberto Naime – Conforme observamos, existem enormes dificuldades de estrutura e recursos, tanto humanos quanto materiais nos órgãos de fiscalização ambiental. Lava-jatos certamente não são atividade prioritária para preocupação da fiscalização ambiental que tem realidades bem mais urgentes para se preocupar. Desta forma, acredito que nenhum tipo de órgão ambiental especificamente tenha programas sistêmicos para fiscalizar esta atividade.
IHU On-Line – Há possibilidade de reutilização ou tratamento dessa água utilizada nos lava-jatos de automóveis?
Roberto Naime – Existe sim. Estas águas seriam passíveis de tratamentos físico-químicos de água. A questão é que estruturas deste tipo são onerosas e a realidade dos lava-jatos é que se tratam de pessoas desempregadas que se tornam subempregadas ou empreendedoras deste tipo de atividade que não requer elevados investimentos. Sabemos que exigir providências neste setor seria criar problemas sociais enormes como consequência. O pessoal dos lava-jatos não tem condições financeiras ou capacidade de gestão para coletar as águas e remeter para tratamento.
IHU On-Line – Para quem lava o carro em casa, que tipo de cuidados é preciso ter com essa água que é colocada em contato direto com o solo?
Roberto Naime – O que se pode dizer é que quanto menos água, melhor será para reduzir o desperdício com recursos hídricos e que o uso do balde é melhor que o de mangueira, porque todos os resíduos e impurezas tendem a ser coletados na água do balde e não espalhados por jardins ou áreas privadas ou públicas. Em cidades em que existe tratamento de esgoto, este efluente resultante da higienização de veículos deve ser remetido para tratamento junto com o esgoto.
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Os prejuízos dos lava-jatos para o meio ambiente. Entrevista especial com Roberto Naime - Instituto Humanitas Unisinos - IHU