22 Fevereiro 2018
"Certamente, a CF 2018 será um tempo forte e favorável de conversão, de mudança de vida, dentro do horizonte e dos mistérios da Páscoa do Senhor, vendo em cada humano a dignidade de filhos e filhas, cujos rostos são muitas vezes desfigurados pela violência", escreve Carlos Moura, Secretario Executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz - Organismo da CNBB.(1)
Em sintonia com a necessidade de refletir sobre temas que afligem a sociedade, a CNBB - na Campanha da Fraternidade 2018 - indica a violência como assunto a ser debatido por todas as pessoas de boa vontade, em busca de soluções capazes de superarem um estado de coisas que não respeita a dignidade das pessoas.
Com efeito, no Texto-Base da CF 2018, a CNBB afirma: “Nesta Campanha da Fraternidade desejamos refletir a realidade da violência, rezar por todos os que sofrem violência e unir a forças da comunidade para superá-la (...) os índices de violência no Brasil superam significativamente os números de países que se encontram em guerra ou que são vitimas frequentes de atentados terroristas”.
A CNBB, mais uma vez, manifesta seu compromisso de apoio aos empobrecidos e a todos que sofrem com as violências perpetradas socialmente ou por meio institucional. Impossível a convivência passiva ante o descalabro reinante no país, quando milhões de brasileiros carecem do mínimo de condições para um vida condigna, aliás “ao inviabilizar a formação dos mais pobres para a autonomia de pensamento, restringir os horizontes do interesse pelo exercício da cidadania, limitar as possibilidades de participação ativa na política, o Estado, outras instituições brasileiras e os segmentos sociais das elites contribuem para a continuidade de relações sociais pautadas na exclusão, no autoritarismo e na violência” (Texto-Base, página 25 nº 57).
Ressalte-se, que o documento da Entidade, baseia-se em pesquisas de órgãos responsáveis, a exemplo do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores dos Direitos Humanos, cujos índices de violência são de inaceitáveis: 61.163 homicídios; 7 pessoas mortas por hora; 2,6 mil latrocínios; 4,2 mortos em ações policiais; 49 mil estupros. Há mais vidas dilaceradas por variadas violências: a fome que ronda os lares dos mais pobres, a incúria hospitalar, o desemprego, a inépcia, a desonestidade dos servidores públicos de todos os matizes, a sonegação empresarial e muitas outras.
Em solenidade de abertura da CF 2018, Dom Sergio da Rocha, Presidente da CNBB, relembrou o compromisso opcional pelos pobres, ao declarar: "A vida e dignidade das pessoas e de grupos sociais mais vulneráveis são continuamente violados de muitos modos" (...) "a indignação diante da violência representada pelas situações de exclusão e negação dos direitos fundamentais, especialmente dos mais pobres e fragilizados, não pode ser menor do que a despertada por crimes bárbaros".
É importante registrar a presença da Presidente do STF na abertura da CF, que se comprometeu com os objetivos da Campanha. Tal participação reflete a tradição da CNBB de sempre se colocar numa postura de diálogo e no horizonte de assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, conforme determina a Constituição Federal.
Na abertura da CF 2018, manifestei-me com relação à violência que vitima a comunidade negra, mormente os jovens negros, realidade, também revelada no Texto-Base. Negras, negros, indígenas, grupos sociais marginalizados em razão de preconceitos são os maiores alvos de ações violentas físicas e ou psíquicas.
A CF 2018 oferece a oportunidade de diálogo Estado e sociedade, incumbe-lhes o dever de garantir a justiça e a paz em favor de todos os cidadãos, sustentar o equilíbrio verdadeiro mediante equânime distribuição das riquezas.
Evidentemente, que ao agir na perspectiva dos interesses dos mais vulneráveis, a CNBB nem sempre é compreendida pelas franjas autoritárias presentes na sociedade brasileira. Presas em suas leituras herméticas, preconcebidas e raramente pastorais, são portadoras de teses absurdas e distantes da realidade do povo de Deus.
A intervenção federal, sob comando militar no estado do Rio de Janeiro, deve ter por escopo a garantia da inviolabilidade do lar, da cidadania e não somente os patrimônios, quer sejam públicos ou privados. Além do mais, a prevenção é indispensável bem como mecanismos de atendimento aptos à saúde, à educação, ao transporte, ao emprego, ao lazer e aos direitos impostergáveis para uma comunidade viver em paz.
Certamente, a CF 2018 será um tempo forte e favorável de conversão, de mudança de vida, dentro do horizonte e dos mistérios da Páscoa do Senhor, vendo em cada humano a dignidade de filhos e filhas, cujos rostos são muitas vezes desfigurados pela violência.
***
O Instituto Humanitas Unisinos - IHU discutirá a questão da violência, tema da Campanha da Fraternidade 2018, no ciclo de estudo e debates Violências no mundo contemporâneo, interfaces, resistências e enfrentamentos, que ocorre de 08 de março a 17 de maio de 2018. As conferências acontecem no Campus da Unisinos São Leopoldo. Inscreva-se aqui.
Veja abaixo a programação:
***
Nota:
(1) "O artigo “CF 2018: uma reflexão necessária!”, nascido no contexto do Ato de Lançamento da Campanha da Fraternidade 2018. Importa destacar que o autor participou do evento em evidência, realizado em 14 de fevereiro na sede nacional da CNBB", escreve o autor do texto ao enviá-lo para ser publicado.
Segundo ele "o texto em comento, tem a intenção de oferecer um olhar sobre o lançamento da CF 2018, na perspectiva de um cristão leigo, militante dos direitos humanos, particularmente das comunidades negras. Rogo a publicação do mencionado, evidentemente, se for do interesse dessa prestigiosa instituição que prima por apontar novas questões e buscar respostas para os grandes desafios de nossa época, a partir da visão do humanismo social cristão".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
CF 2018: uma reflexão necessária! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU