25 Janeiro 2018
O filósofo e professor Roberto Romano, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), avalia que a decisão que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em segunda instância, no caso do tríplex em Guarujá (SP), "foi impensada". "A decisão não abarcou a complexidade da situação política em que nós vivemos", afirmou.
A reportagem é de Guilherme Azevedo e publicada por Uol, 24-01-201
Segundo Romano, os eleitores de Lula, em grande medida de origens mais pobres, não têm uma relação de confiança com o Judiciário brasileiro. "Ao contrário, é uma relação dos setores mais pobres ou de estranheza ou de animosidade contra esses juízes."
O estudioso exemplifica a relação conflituosa entre a Justiça e os mais pobres com a crise da segurança pública, do sistema prisional e da escalada da violência, que afeta muito o cidadão comum. "Não seria o caso de pedir [aos juízes da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre] uma decisão populista, mas um compromisso com a sociedade em que vivemos", ressalvou.
Para Romano, a hora, agora, é de ponderação, contra a possibilidade de radicalizações que ameacem a própria democracia brasileira e aprofundem ainda mais o quadro atual de incerteza, em todos os campos, político, econômico e social.
"Esse momento não é para atingir e piorar ainda mais nossas contradições, mas de todos os partidos e políticos voltarem para as suas bases e redefinirem as prioridades para o país. Precisamos de projetos de nacionalidade. Não podemos colaborar para o caos."
"Cria-se um vácuo no processo eleitoral"
A imprevisibilidade é, para ele, também a marca da próxima eleição presidencial, agravada com a possibilidade de Lula não poder concorrer como consequência da condenação em segunda instância. "Se estabeleceu agora uma incerteza quanto a outubro. Cria-se um vácuo no processo eleitoral que pode até comprometer a legitimidade do pleito. Fora Lula, agora 'sub judice' [dependendo da Justiça], não há até o momento nenhuma força política capaz de arrebanhar o público."
Leia mais
- O julgamento e os impactos políticos da condenação do ex-presidente Lula. Algumas leituras
- O revés do mito da esquerda que domina a política brasileira há 30 anos
- Condenação pode aprofundar enfrentamento, diz cientista político
- Lula durante ato em São Paulo: “Quero avisar a elite que espere, porque nós vamos voltar”
- "Lula só não começa a campanha em agosto se o PT ou ele não quiserem"
- Histórico, julgamento de Lula leva novos ressentidos ao banco dos réus
- Chance de julgamento definir futuro de Lula é 'zero', diz diretor de consultoria nos EUA
- Em 6 pontos, o que acontecerá com Lula após o julgamento desta quarta-feira?
- Por que seria melhor para a direita se Lula fosse absolvido
- O paradoxo de Münchhausen do caso Lula: se o MPF ganhar, Moro perde
- Os dois brasis que medem força no julgamento de Lula
- 'Com ou sem Lula, a esquerda terá de se repensar', diz Haddad
- Processo contra Lula é mais político e ideológico do que construído sobre as bases do direito público. Entrevista especial com Roberto Romano
- O direito de Lula ser candidato e o apoio à sua candidatura: duas opções diferentes
- O direito de Lula ser candidato e a denúncia do entreguismo: duas frentes complementares que se retroalimentariam
- Como lei apoiada por Lula e pelo PT pode tirá-lo das eleições presidenciais
- Julgamento de Lula, a primeira data crucial da eleição presidencial de 2018
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Decisão foi impensada por ignorar complexidade do país, diz Roberto Romano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU