19 Julho 2017
A linha do papa em torno da verdade não poupa nem o irmão de Ratzinger e o cardeal Müller que acaba de ser dispensado do seu cargo.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 18-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Choque”: não há outra palavra para descrever o efeito da publicação do “Relatório Weber” no Vaticano sobre o que aconteceu na diocese de Regensburg, Alemanha. O Papa Francisco ficou muito triste com o que veio à tona no documento, que piorou, para além de toda imaginação, o quadro já muito grave que surgiu há um ano e meio, em um primeiro relatório.
Ainda mais prostrado ficou Bento XVI, já que o caso diz respeito à cidade onde ele lecionou na universidade por muitos anos e envolve o seu irmão Georg.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, esse é o comentário sobre o choque por parte do padre Hans Zollner, jesuíta que dirige o Centro para a Proteção dos Menores, da Universidade Gregoriana, e que faz parte da Comissão Pontifícia desejada pelo Papa Francisco. Zollner, alemão, nasceu justamente em Regensburg, em 1966, mas frequentou outras escolas, não as mesmas onde ocorreram as violências.
A frase citada por Zollner é um famoso versículo do Evangelho de João. Um versículo que, embora não estando no lema episcopal de Rudolf Voderholzer, bispo de Regensburg desde o dia 6 de dezembro de 2012, parece feito especialmente para ele.
Essa frase de Jesus é a que parece ter inspirado Voderholzer em uma decisão sem precedentes. Ele deu a atribuição a um advogado independente, Ulrich Weber, de sondar 60 anos de histórias de violências e abusos sexuais (alguns casos remontam ao imediato pós-guerra, e as vítimas já ultrapassaram os 80 anos) ocorridos em duas escolas católicas vizinhas da instituição cultural mais prestigiosa da cidade, o famoso Coro da Catedral. “E Weber o agradeceu publicamente por isso.”
A operação transparência, em suma, não parou nem mesmo em Regensburg. Isto é, não parou diante do fato de que essa cidade alemã está indissoluvelmente ligada à vida do Papa Emérito Bento XVI e do seu irmão Georg.
“O bispo Voderholzer levou a sério o compromisso de tolerância zero do Papa Francisco contra a pedofilia e a sua responsabilidade como pastor, a que os estadunidenses chamam de accountability”, acrescenta Zollner.
Voderholzer deu carta branca para Weber e deu-lhe pleno acesso aos arquivos. Os resultados que surgiram são chocantes, a tal ponto que “devem despertar em nós inquietação e vergonha”, diz o Pe. Hans. “Pelo número das vítimas envolvidas, pela longa duração dos abusos físicos e sexuais, pelo clima de violência e terror.”
E, não por último, pelas acusações contidas no relatório contra Georg Ratzinger, irmão de Bento XVI, por não ter denunciado aquilo de que tinha ficado sabendo. Assim como aquelas contra o imediato antecessor de Voderholzer, o cardeal Gerhard Müller, durante dez anos (2002-2012) à frente da diocese de Regensburg, cujo mandato como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – que tem entre as suas tarefas também o de enfrentar os casos de pedofilia do clero – não foi renovado pelo Papa Francisco no início deste mês de julho.
Já se sabia que o Relatório Weber já estava concluído que seria tornado público dentro de poucas semanas. Mas, no Vaticano, defende -se que a decisão papal sobre Müller tem a ver com outras coisas, e não com o Relatório Weber.
Em desacordo com Müller, quem havia renunciado no dia 1º de março de 2017 foi Marie Collins, uma sobrevivente dos abusos de um padre, que tinha sido nomeada pelo papa para a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores. “Eu não estava em Regensburg durante o mandato episcopal do cardeal Müller”, comenta Zollner brevemente, mas, ao mesmo tempo, enfatizando que “aqueles que querem a verdade devem ser admirados pela coragem de olhar a realidade de frente e pela decisão, mesmo que com décadas de atraso, de prestar ajuda às vítimas e alguma forma de apoio e compensação”.
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O choque de um relatório sobre pedofilia: transparência de Francisco avança também em Regensburg - Instituto Humanitas Unisinos - IHU