30 Junho 2017
Ex-membro da comissão para casos de abuso sexual, criada pelo Papa Francisco, respondeu à notícia de que a polícia australiana está investigando as queixas contra o chefe das finanças vaticanas, o Cardeal George Pell, com base em acusações de abuso sexual históricos contra menores.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 29-06-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Marie Collins, irlandesa sobrevivente de abusos sexuais clericais, disse que não emitirá um pré-julgamento sobre a inocência ou não de Pell relativo às acusações contra ele. Mas disse que Francisco não deveria ter nomeado em 2014 o cardeal para ser prefeito da nova Secretaria para a Economia.
“O que não hesito em falar é que está provado que o Cardeal Pell é culpado pela condução terrível dos casos de abuso quando ainda atuava na Austrália e por causar uma dor incalculável às vítimas”, disse Collins, em postagem publicada em seu sítio eletrônico pessoal.
“Ele nunca deveria ter sido permitido se esconder no Vaticano para não ter de encarar as pessoas em seu país que precisavam de respostas”, disse.
“O fato de o Cardeal Pell ter sido nomeado para um cargo sênior no Vaticano, ao invés de enfrentar sanções por sua conduta inadequada em casos de abuso, foi um tapa na cara a todos aqueles que ele tanto decepcionou, não só as vítimas, mas também o povo católico que está há anos ouvindo que, hoje, a Igreja vem levando a sério o problema”, continuou.
Pell é a primeira autoridade vaticana a ser acusada por um governo em um caso de abuso clerical. Em nota a jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé no dia 29 de junho, o prelado negou, veementemente, as acusações e disse que estaria retornando à Austrália para se defender.
“Sou inocente destas acusações”, disse Pell, que, segundo informou também, tirou uma licença de sua função em Roma enquanto responde às alegações de abuso. “Elas são falsas. A ideia inteira de abuso sexual é abominável para mim”.
Embora as acusações feitas pela polícia [do estado australiano] de Victoria sejam relativas a acusações concernentes a ações históricas do próprio Pell, os sobreviventes de abuso e ativistas disseram, no passado, que o cardeal agiu de maneira imprópria com padres acusados de abuso em períodos separados, quando servia como chefe das arquidioceses de Melbourne e Sydney.
Pell prestou depoimento em março de 2016 diante da Comissão Australiana para Respostas Institucionais a Casos de Abuso Sexual sobre seus atos durante esses anos.
Collins foi nomeada por Francisco como um dos participantes originais da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores. Ela renunciou em 1 de março deste ano, citando uma frustração com a inação de funcionários do Vaticano quando da implementação das recomendações da Comissão.
No texto publicado nesta quinta-feira, a irlandesa disse que a licença de Pell veio “tarde demais”. Segundo ela, o prelado deveria ter se retirado da função desempenhada no Vaticano quando surgiram as primeiras reportagens, no ano passado, de que ele estava sendo investigado pela polícia da Austrália.
“Assim que uma acusação de abuso sexual foi feita, ele deveria ter se afastado até que a acusação fosse concluída”, disse Collins. “Esse é o padrão que se aplica aos padres e religiosos comuns em meu país e em outros, seguindo as diretrizes da Igreja – por que a posição social deveria fazer alguma diferença?”.
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Marie Collins: a saída do Cardeal Pell vem “tarde demais” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU