17 Janeiro 2017
Representantes do agronegócio, especialmente membros da bancada ruralista, engenheiros agrônomos e profissionais de uma imprensa subserviente, que se sentiram aludidos, reagiram indignados e iniciaram uma campanha difamatória, de desqualificação e ofensas do samba, destaca a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em nota pública publicada nessa segunda feira, dia 16 de janeiro de 2017.
Eis a nota.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) manifesta por meio da presente nota pública os seus agradecimentos, parabéns e solidariedade à escola carioca Imperatriz Leopoldinense em razão da sábia e corajosa decisão de produzir e levar para a Marquês de Sapucaí o samba-enredo “Xingu: O Clamor que vem da floresta”.
Representantes do agronegócio, especialmente membros da bancada ruralista, engenheiros agrônomos e profissionais de uma imprensa subserviente, que se sentiram aludidos, reagiram indignados e iniciaram uma campanha difamatória, de desqualificação e ofensas do samba, de críticas injustas à Imperatriz Leopoldinense, e uma sequência de ataques preconceituosos, racistas e estigmatizantes contra os povos indígenas do Brasil. Tanta revolta porquê?
Para a Imperatriz Leopoldinense, o samba-enredo, a partir de um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável, “celebra a diversidade”, ressalta “a rica contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira” e constitui “uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade”, considerando que “a produção muitas vezes sem controle, as derrubadas, as queimadas e outros feitos desenfreados em nome do progresso e do desenvolvimento afetam de forma drástica o meio ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras”, com resultados devastadores, impactos imensuráveis, “na maioria das vezes irreversíveis”, como os provocados pela Hidrelétrica de Belo Monte (o “monstro”).
Em efeito, o samba-enredo faz um alerta sobre a destruição em curso da mãe Natureza, e no seu compromisso em dar voz à diversidade, visibiliza os povos indígenas, e denuncia o atual Estado nacional, dominado por uma classe hegemônica que insiste em se enxergar como a única responsável pela formação social brasileira, ignorando a diversidade étnica e sociocultural que compõe o país.
Para a Apib, a letra do enredo não inventa a história, faz apenas justiça ao tornar pública a verdade de que até hoje os invasores roubam de fato as terras dos povos originários e praticam esbulho e destruição, devoram mesmo, através dos grandes empreendimentos (como Belo Monte) os bens naturais, matam as matas e secam os rios, pensando apenas nos seus lucros, por isso que não pouparam esforços para ajustar a seus interesses o Código Florestal e outros instrumentos jurídicos que visam dar legalidade a suas atrocidades contra os povos e a Natureza.
Os representantes do agronegócio reiteram as campanhas veiculadas pela mídia corporativa, ressaltando que ele é responsável por 30% dos empregos, 40% das exportações e 22% do PIB e que as terras indígenas não produzem nada, não contribuem com o PIB e não geram emprego.
No entanto estudos do Instituto de Pesquisa da Amazônia - IPAM e da Universidade de Brasília – UNB, afirmam que as Terras Indígenas são áreas que comprovadamente apresentam baixas taxas de desmatamento dentro de seus limites e ainda possuem um efeito inibidor do desmatamento em um raio de 10 km em seu entorno – isso significa que, além de preservar as florestas e ecossistemas dos seus territórios, os povos indígenas ainda garantem que o seu entorno também seja menos destruído, o que tem salvo o Brasil de uma maior catástrofe ambiental. Em 2016, ano que o desmatamento na Amazônia cresceu 28,7% em relação ao ano anterior, as maiores taxas foram observadas em áreas privadas (35,4%), enquanto a taxa de derrubada em Terras Indígenas foi de apenas 1,28%, configurando-se como a categoria fundiária com as menores taxas de desmatamento.
Ainda de acordo com os estudos, por causa do desmatamento, a região da Bacia do Xingu sofreu com um aumento de temperatura regional de cerca de 5°C no período de 2002 a 2010. Apenas nas áreas que mantiveram a floresta, no Parque Indígena do Xingu e entorno, a temperatura permaneceu estável. Enquanto a temperatura nas áreas de floresta permaneceu na média de 25°C a 28°C, em áreas desmatadas a temperatura chegou à média de 33°C.
Por tudo isso, a APIB reitera os seus agradecimentos e solidariedade à escola Imperatriz Leopoldinense para que continue determinada a marcar presença na Sapucaí, para ecoar o samba-enredo “O Clamor que vem da floresta”. A sua arte certamente contribui para tirar os povos indígenas do esquecimento e da invisibilidade, além de reforçar a decisão deles de jamais se curvarem à cobiça, o racismo e discriminação dos sucessivos dominadores, que hoje eles próprios se revelam como os verdadeiros vilões do meio ambiente e do desmatamento no Brasil.
Por fim, a assessoria jurídica da Apib estuda as medidas judiciais cabíveis para conter a onda de ataques racistas, injúrias e incentivos à violência intensificados contra os povos indígenas por parte de setores do poder econômico, donos ou representantes do agronegócio.
Pelo direito de viver!
Brasília – DF, 16 de janeiro de 2017.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Mobilização Nacional Indígena
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Apib presta solidariedade e agradece à Imperatriz Leopoldinense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU