Por: Ricardo Machado | 13 Dezembro 2016
A abertura do I Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais ocorreu na manhã da segunda-feira, 12-12-2016, no Auditório Central da Unisinos, contando com a participação do doutor e Pró-Reitor acadêmico da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, Pedro Gilberto Gomes, além dos demais professores doutores Dorotea Kersch, diretora adjunta da Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-graduação, Gustavo Fischer, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, e Jairo Ferreira, coordenador da atividade. O evento reúne pesquisadores do Brasil, Argentina, França, Suiça e Dinamarca. A primeira atividade do dia teve a presença dos professores Bernard Miège, Université Stendhal Grenoble III, na França, e Daniel Peraya, Université de Genéve, na Suíça, que participaram por meio de videoconferência, e Antônio Fausto Neto, Unisinos.
Durante sua fala de abertura, Pedro Gilberto Gomes ressaltou que a Unisinos “é uma universidade de pesquisa global e que somente será capaz de ser ainda melhor se tiver a capacidade de dialogar com os outras universidades, respeitando as diferenças, e sobretudo se tiver a capacidade no debate acadêmico de aceitar a pluralidade das diferentes perspectivas. Essa é uma discussão para que brotem posições e em conjunto possamos construir interpretações sobre a realidade que está se constituindo”, enfatiza.
Retomando o debate mais de fundo, o professor Bernard Miège considera que os processos de midiatização enfatizam alguns traços das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, mas que devemos ter cuidado com generalizações. “O desenvolvimento da segunda era digital, que se apoia nas TICs integradas aos dispositivos – da genética a robótica –, faz emergir questões se, de fato, podemos unificar a análise de todas essas TICs em uma única categoria. Será que todos eles ainda pertencem à midiatização ou são elementos de outras áreas?”, provoca o professor. “ Parece-me que é preciso manter uma especificidade dos fenômenos de midiatização para podermos assimilá-los e estudá-los de uma forma rigorosa, e não fazer como se eles procedessem nos mesmos modus operandi”, pondera.
De outro modo, o professor chamou atenção para duas características que ele classificou como preocupantes. “Por um lado, há a tendência à vigilância generalizada, em que se criaram cérebros poderosos de controle nas áreas políticas e econômicas, que não pode deixar de nos interessar. Por outro, há a algoritmização do consumo, que é o fato de usar dados para observar práticas digitais e colocar os indivíduos consumidores em situação de respostas aos dispositivos. Entramos em uma nova ordem mundial”, coloca Miège.
Jairo Ferreira (à esq), Dorotea Kersch, Pedro Gilberto Gomes e Gustavo Fischer (Foto: Ricardo Machado/IHU)
Na mesma linha de Miège, o professor Daniel Peraya, sublinhou a importância de pensar a midiatização intrinsecamente ligada aos dispositivos. “Os dispositivos são estruturados por certas dinâmicas e, também, são estruturantes, de modo que estruturam meios simbólicos e relacionais e geram certos efeitos nas relações dos sujeitos aprendizes”, afirma Peraya. “A midiatização é um artefato material simbólico com cadeias simbólicas”, explica.
Para Peraya, a midiatização é um processo que se interpenetra com as questões da educação a distância. “Hoje nos dispositivos de educação online se produz uma corrente que não para de avançar e se ampliar. As distinções clássicas entre universidades que ofereciam cursos presenciais e as que ofereciam a distância tendem a desaparecer. Um dos grandes desafios é saber o que vai acontecer no nível do dispositivo e como será a garantia da pertinência e da qualidade da educação midiatizada”, assinala o pesquisador.
Antônio Fausto Neto
Na perspectiva do professor Antônio Fausto Neto, o conceito de midiatização na contemporaneidade se desloca de um debate sobre os meios emergentes para o debate sobre as relações entre tais dispositivos e os atores sociais. As análises prescindem de algo que ele chama de intervenção socioantropológica. “À medida que tecnologias são convertidas em meios, elas afetam todas as práticas sociais, as operações midiáticas se tonam referências para a própria existência”, analisa o professor.
“Há uma nova arquitetura no interior do qual novos e velhos meios se tocam. Produtores e receptores que antes se articulavam em ‘contratos’, de produção e leitura, mudam para ‘contatos’”, propõe Fausto Neto. “Esta zona de contato, entendida como interpenetração, produz uma nova gestão social que não se faz no interior dos campos, mas nos circuitos interacionais nos quais se encontram e vão além. Está aí o território da circulação como novo campo interacional para entendermos a midiatização como processo”, frisa.
O evento ocorre entre os dias 12 e 15 de dezembro da Unisinos, em São Leopoldo, com as conferências principais sendo realizadas no Auditório Central. Para consultar a programação do evento clique aqui.
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A complexificação das sociedades contemporâneas ampliada pela midiatização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU