29 Agosto 2016
Fortes sinais de aproximação entre a Santa Sé e a China chegam nestas horas. Foi o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que marcou um claro passo à frente no diálogo diplomático, "São muitas as esperanças e as expectativas por novos desenvolvimentos e por uma nova era nas relações entre a Sé Apostólica e a China, em benefício não só dos católicos na terra de Confúcio, mas de todo o país, que possui uma das maiores civilizações do planeta".
A reportagem é de Carlo Marroni, publicada no jornal Il Sole 24 Ore, 28-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O "primeiro-ministro" do Papa Francisco, chefe da diplomacia pontifícia e hábil tecelão de relações com Pequim há quase 15 anos, falou em Pordenone e evocou a figura do cardeal Costantini, que foi o primeiro delegado papal na China, há quase um século .
"Eu ousaria dizer que tudo isso também irá beneficiar uma ordenada, pacífica e frutífera convivência dos povos e das nações em um mundo como o nosso, dilacerado por tantas tensões e por tantos conflitos."
A mensagem é clara: um entendimento quer visar ao "bem dos chineses" e, portanto, não é funcional a supostos objetivos geopolíticos vaticanos, em perfeita sintonia com a pastoral do papa nas relações entre os povos. "A minha esperança é de que esse caminho que começou possa seguir em frente e se concluir com um acordo em benefício da Igreja na China e de todo o povo chinês", disse o purpurado.
"O mais importante é que o caminho está sendo feito, os contatos foram retomados, e estamos caminhando, creio que com boa vontade de ambas as partes, para poder chegar realmente a um acordo que seja satisfatório para todos."
Um longo discurso, no qual Parolin também traça as chaves do sucesso das relações entre os dois países entre as duas guerras mundiais (estão interrompidas desde 1951), acima de tudo, "a inculturação cristã contra o ocidentalismo, que dava uma veste europeia ao cristianismo no Extremo Oriente, acabando por apresentá-la como uma religião estrangeira, tratada como um corpo estranho".
Palavras que remetem ao espírito de Matteo Ricci, o jesuíta cuja figura é muito amada também na China. "As desejadas relações novas e boas com a China – incluindo as relações diplomáticas, se Deus quiser! – não são fins em si mesmas ou desejo de alcançar algum tipo de sucesso 'mundano', mas são pensadas e buscadas não sem temor e tremor, porque aqui se trata da Igreja, que é coisa de Deus, apenas por serem 'funcionais' – repito – para o bem dos católicos chineses, para o bem de todo o povo chinês e da harmonia de toda a sociedade, em favor da paz mundial."
Naturalmente, há a questão das perseguições sofridas na China por padres e bispos: o Papa Francisco, salientou Parolin, "como também os seus antecessores, conhece bem a bagagem de sofrimentos, de incompreensões, muitas vezes de silencioso martírio que a comunidade católica na China carrega sobre os seus ombros: é o peso da história!".
Um discurso rico em história e em experiências: ele lembrou como a França, no início do século XX, se opôs a um acordo, temerosa de perder o seu primado de "representação" católica: pois bem – disse ele – a Igreja, na época, rejeitou a ideia de um "protetorado" ocidental nas relações com Pequim, e – lê-se nas entrelinhas – o princípio hoje é ainda mais válido.
Com efeito, contra a hipótese de um acordo, registram-se fortes posicionamentos, especialmente por parte de ambientes conservadores estadunidenses. "Deve ser realisticamente aceito que os problemas a serem resolvidos entre a Santa Sé e a China não faltam e podem gerar, muitas vezes por causa da sua complexidade, posições e orientações diferentes."
E concluiu falando da "máxima consideração, enorme empenho e amor sem limites pelo povo chinês" por parte dos bispos de Roma. O discurso de Parolin é o último de uma série de fortes sinais em relação a China iniciada há dois anos pelo papa no retorno da viagem à Coreia – quando o voo papal foi autorizado a sobrevoar o território chinês – e continuou com mensagens e palavras de esperança para visitar o país, e que depois culminou com a entrevista do papa ao jornal Asia Times, em fevereiro ("Não tenham medo da China"). Apenas três dias atrás, Parolin tinha antecipado essas questões em uma entrevista ao jornal Avvenire, lembrando que Francisco quer escrever uma página nova. E aciona a sua diplomacia em chave de "exercício de justiça e misericórdia", disse.
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