25 Novembro 2015
No próximo dia 25 de novembro, o padre italiano Angelo S. Lazzarotto será homenageado pela Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão com o prestigiado prêmio internacional Matteo Ricci.
A reportagem é de Gerolamo Fazzini, publicada no sítio Vatican Insider, 22-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Missionário do PIME, natural de Treviso, 90 anos completos, o padre Lazzarotto é jornalista e estudioso, considerado por muitos como um confiável observador sobre o planeta-China e, em particular, sobre a Igreja que lá vive. Dentre outras coisas, ele foi um dos fundadores do Holy Spirit Study Centre de Hong Kong, um dos principais centros católicos de pesquisa sobre a Igreja na China.
Eis a entrevista.
A Universidade Católica está prestes a lhe atribuir o Prêmio Internacional Matteo Ricci. Na sua opinião, quais são os elementos de maior interesse atual que nos foram deixados pelo grande missionário de Marche?
Eu penso na seriedade da pesquisa científica do padre Matteo, no seu profundo respeito pela cultura chinesa e na sua excepcional capacidade de diálogo. São qualidades fundamentais também hoje para poder incidir em uma sociedade que mudou muito, mas que talvez seja mais condicionada do que nos tempos de Ricci. Hoje, o absolutismo do sistema político tenta monopolizar também a cultura.
Nessas décadas, você pôde conhecer de perto a realidade cultural chinesa ou, ao menos, muitos dos seus expoentes. Que impressão você teve?
Eu pude ter os primeiros contatos diretos com alguns expoentes da cultura chinesa somente depois da abertura de Deng Xiaoping (1968). Lembro-me do interesse que eu encontrei, até mesmo pela religião, em professores da Academia das Ciências Sociais de Pequim. Eles ainda sentiam os desastres da "Revolução Cultural", estavam ansiosos por contatos com o Ocidente cristão e precisavam recuperar obras destruídas. Esse foi um dos serviços que eu tive a oportunidade de oferecer, graças também às instalações do Instituto Italo-Chinês.
Matteo Ricci foi não só um grande homem de cultura, mas, fundamentalmente, um missionário. Em termos de evangelização, quais são hoje as prioridades para a Igreja Católica chinesa?
Eu acho que a Igreja Católica na China precisa ser reconhecida pelo que é. O condicionamento mais pesado, de fato, vem de estruturas impostas pelas autoridades "como principais responsáveis pela vida da comunidade católica". O Papa Bento XVI recordou isso na "Carta aos católicos da China" (2007), denunciando a existência de organismos que visam a implementar princípios de independência, autogoverno e autogestão da Igreja, não conciliáveis com a doutrina católica. Isso afeta principalmente a escolha dos bispos, que é de fundamental importância para a vida da Igreja.
Você visitou a China com regularidade desde que ela se reabriu ao exterior depois da longa temporada maoísta. No entanto, há quatro anos, você viveu a surpresa de ter o seu ingresso recusado na China, assim como aconteceu com outros eclesiásticos. Por que isso aconteceu? Que sentimentos o senhor guarda no seu coração desde então?
Eu acompanhava um grande grupo de amigos e possuía um visto regular, como dezenas de vezes antes disso. Ao me mandarem de volta, na fronteira de Pequim, não me foi dada nenhuma razão. Era um momento de tensão particular com a Santa Sé, que tinha oficializado a excomunhão de alguns bispos ordenados contra o explícito parecer do papa. Quanto aos meus sentimentos em relação a China e ao povo chinês, obviamente continuam sendo os mesmos de sempre.
O Papa Francisco repetidamente diz que ama o povo chinês e manifestou um intenso desejo de visitar a China. Na sua opinião, o que poderia ajudar a melhorar a situação atual no que diz respeito às relações entre a comunidade dos fiéis chineses e a autoridade estatal?
Alguns pequenos sinais de diálogo foram notados nas últimas semanas. Perseverar nos pequenos passos, sem dúvida, é a escolha certa. No entanto, continua sendo evidente de que precisamos de muita oração. Devemos pedir o milagre de que a suprema autoridade chinesa capte no Papa Francisco não o rosto de um concorrente político diante do mundo, mas, no máximo, de um possível colaborador e amigo para um futuro melhor do povo chinês.
No caminho de Matteo Ricci aos altares gradualmente vão surgindo de forma clara os traços da santidade do grande jesuíta. A sua causa de beatificação concluiu o processo diocesano e chegou em Roma. O que isso pode significar para o diálogo com a China?
Levando em conta a grande estima de que o Mestre Li Madou goza ainda hoje na República Popular da China, estou convencido de que o seu reconhecimento público por parte do papa seria saudado como um presente também pela opinião pública chinesa.
Enquanto isso, em Xangai, começou o caminho da causa de beatificação do mais famoso convertido de Ricci, ou seja, de Paulo Xu Guangqi, um leigo chinês, intelectual e funcionário imperial de altíssimo nível. Qual é a sua opinião a respeito?
Estou convencido de que isso seria um presente ainda maior para a China, especialmente pela sua classe intelectual, mas também, talvez, pela política. Infelizmente, na China, o caminho foi apenas indicado. Sabe-se que um eventual processo canônico leva muito tempo: só uma intervenção das supremas instâncias eclesiais poderiam tornar possível um discurso concreto sobre o caso de Paulo Xu.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"A beatificação de Ricci? Seria um presente para a China" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU