05 Fevereiro 2016
Fonte: www.esquerda.net |
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Na programação, dia 23 de março (quarta-feira), das 14h30min às 16h, contempla-se um espaço de debate a partir da exibição do filme “O Evangelho segundo são Mateus” de Pier Paolo Pasolini (França, Itália, 1964, Drama, 133min), com a mediação do conferencista MS Marcus Mello (Sala PF Gastal, Usina do Gasômetro – Porto Alegre/RS). O filme foi indicado para o Prêmio Oscar e recebeu o Grande Prêmio da Oficina Católica do Cinema. Depois de 50 anos, o filme é reabilitado e reconhecido pelo Vaticano como a “melhor obra cinematográfica sobre Jesus”. Inaugurando um tempo de perdão e misericórdia ao invés de descaso e "condenação do limbo".
“Embora Pasolini tenha feito uma releitura do livro de Mateus,
ele contribui para a sociedade moderna
‘resgatando a humanidade de Cristo,
pois até 1964 as pessoas conheciam
um Cristo loiro, alto e de olhos claros’”.
Vanildo Luiz Zugno
O Cristo marxista de Pasolini
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Fonte: lidianacinema.blogspot.com |
“O fato de ser um ateu não retira de Pasolini
o dom e a capacidade de retratar Jesus com profundidade e beleza”.
Faustino Teixeira
Revista IHU On-Line 412
É a poesia do absurdo e do escândalo. Nela o poético torna-se drama. Porque assume a prosa da existência. Em Jesus, especialmente no evento da encarnação, ocorre aquilo que permite uma tônica teológica singular e fundamental para entender seja o Jesus de Pasolini seja o Jesus dos Evangelhos – afinal de contas são os mesmos: a kénosis. O rebaixamento de um Deus que se faz gente, ou ainda, um galileu, um nazareno. Ser de Nazaré equivale ser “alguém que nada valia” para o sistema politico, social e religioso de seu tempo.
"Eu certamente não procuro o escândalo. Deus é escândalo neste mundo.
O Cristo, se voltasse, seria novamente o escândalo.
Ele já o foi no seu tempo e voltaria a sê-lo hoje.
É um Deus que destrói a boa consciência conquistada a bom preço,
no abrigo da qual vivem ou vegetam os bem-pensantes,
os burgueses, encerrados em uma falsa ideia de si mesmos."
Silvia D'Onghia
O olhar de Cristo, há 50 anos.
O Jesus de Pasolini perpassa esse transfundo de proximidade daqueles que “não são nada” - simbolizado nos personagens comuns do filme –, através de uma ação transformadora, mas, sobretudo de uma palavra e um discurso que faz bem como possibilidade ética do agir transformador. Aqui encontramos os dois elementos centrais do filme: “Não vim trazer paz, mas espada” e o “Sermão da montanha” (ou ainda, os discursos de Jesus). É o rompimento kenótico com um Jesus açucarado ou superstar, sem carne e sem proposição concreta na vida das pessoas. Ao ser “descontruído” por Pasolini revela-se na genuinidade e na experiência real de Jesus de Nazaré, como é narrado nas Escrituras. Nesse sentido, chegamos à própria experiência de Pasolini, que não quer simplesmente a dessacralização, mas desmantelar os ídolos para que ressurja aquilo que é essencial.
O grito profético-poético de Pasolini, encontra uma Igreja dogmática e política, que não se afastou do ensinamento do Evangelho. É uma Igreja distante dos fiéis. As leis/normas são mais importantes que o amor e a caridade. Não é capaz de falar ao ser humano do seu tempo dos riscos e perigos que uma sociedade do consumo poderia implicar. Não é uma critica rançosa (tipicamente de anticlericais, ateus e marxistas), mas contundente e permanece relevante na atualidade, sobretudo encontrada na atração pelo Cristo que propriamente concebia. Em meio a duras críticas, uma admiração por João XXIII que nasce de sua abertura as questões importantes de seu tempo.
"Instintivamente, estendi a mão ao criado mudo,
peguei o livro dos Evangelhos que estava no quarto
e comecei a ler desde o início,
isto é, a partir do primeiro dos quatro Evangelhos,
aquele segundo Mateus.
A ideia de um filme sobre os Evangelhos
também tinha me vindo outras vezes,
mas aquele filme nasceu ali, naquele dia, naquelas horas.
O único, portanto, ao qual eu podia dedicar aquele filme
não podia ser senão ele, o Papa João XXIII".
Pasolini
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Para acessar o filme "O Evangelho segundo são Mateus"
Versão em espanhol clique aqui
Versão em italiano clique aqui
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Fonte: sensesofcinema.com |
Filmes para conhecer Pasolini
Em 2015, Abel Ferrara reconstitui as horas finais do polêmico diretor italiano Pasolini. O filme acompanha as suas ideiais para um filme não realizado, sua última entrevista polêmica, os textos provocadores contra a ordem estabelecida e a relação com os desejos homosexuais.
Para acessar o filme "Pasolini" clique aqui
Por Jeferson Ferreira Rodrigues