Por: André | 05 Novembro 2014
A crise foi resolvida 444 dias depois com a libertação de 52 reféns; a tomada da embaixada dos Estados Unidos no Irã segue sendo reivindicada pelos grupos mais conservadores da Revolução Iraniana, que se opõem à política de degelo do presidente moderado Hassan Rouhani.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 01-11-2014. A tradução é de André Langer.
A 35 anos da tomada da embaixada estadunidense no Irã, ocorrida no dia 04 de novembro de 1979, ainda hoje segue sendo reivindicada pelos grupos mais conservadores da Revolução Iraniana que se opõem à política de degelo posta em marcha com a Casa Branca pelo presidente moderado, Hassan Rouhani. A crise foi resolvida 444 dias depois, com a libertação de 52 diplomatas e cidadãos estadunidenses, no dia 20 de janeiro de 1981. Anteriormente, outro grupo havia sido posto em liberdade por questões humanitárias.
Tudo começou quando aproximadamente 500 estudantes ocuparam a sede diplomática estadunidense, durante uma marcha pelas ruas de Teerã. Ao grito de “marbar Estados Unidos” (morte aos Estados Unidos), os estudantes protestavam pela decisão do governo do democrata Jimmy Carter de dar asilo temporário ao derrocado xá Reza Pahlevi. O ex-monarca havia viajado para Nova York, em 22 de outubro de 1979, para submeter-se a um tratamento contra o câncer, após ser deposto pela Revolução Iraniana, liderada pelo Ruhollah Khomeini para estabelecer um governo de caráter islâmico, em 11 de fevereiro de 1979.
Alguns relatórios, citados pela imprensa, assinalam que a tomada da embaixada foi planejada pelos grupos mais radicais da Revolução Iraniana, comandados pelo aiatolá Sadeg Jaljali. Este aiatolá, que faleceu em novembro de 2003, ganhou notoriedade por ter condenado à morte por contumácia (atitude de se manter obstinadamente em um erro) o ex-hierarca do antigo regime.
Após tomar a embaixada, os estudantes pediram que Washington entregasse o ex-xá, a quem consideravam um títere da Casa Branca, para que fosse julgado pelos crimes cometidos pela política secreta Savak.
Apesar de ter rompido relações diplomáticas com o Irã em abril de 1980, e depois imposto um embargo comercial contra esse país, o presidente Carter nunca conseguiu contornar a crise para conseguir uma solução satisfatória para Washington.
Em 25 de abril de 1980, Carter lançou uma desesperada tentativa de resgate para libertar os reféns chamada de Operação Garra de Águia, que fracassou no deserto iraniano. O comando de marines – que viajava a bordo de um porta-aviões que atravessava o Golpe Pérsico – partiu em oito helicópteros que deviam juntar-se a aviões de transporte em um ponto secreto. Mas duas das aeronaves interromperam sua missão por falhas técnicas durante o voo, e um terceiro helicóptero foi abandonado no deserto. Além disso, um quarto helicóptero chocou-se com um avião de transporte, depois de encher seus depósitos de combustível, causando a morte de oito soldados estadunidenses.
A chegada de Reagan à presidência marcou o início de uma nova etapa na crise, já que a fracassada missão de libertar os reféns foi decisiva para que o candidato republicano vencesse Carter nas eleições de 04 de novembro desse ano. Reagan impôs-se a Carter por 51% dos votos, contra 41% do líder democrata, além de conseguir maioria no Senado pela primeira vez em 28 anos. Carter venceu em apenas seis dos 50 Estados da União.
Finalmente, os reféns norte-americanos foram soltos no dia 20 de janeiro de 1981, após uma série de negociações nas quais interveio a diplomacia argelina. Segundo alguns historiadores, Teerã concordou em negociar seriamente quando a Casa Branca advertiu que o bloqueio econômico disposto pelos Estados Unidos impediria a esse país o suprimento de armamento pesado, o que era fundamental para a guerra contra o Iraque (1980-1988).
No dia 12 de junho de 1981, ambos os governos assinaram os Acordos da Argélia, que implicaram a libertação dos reféns e o fim das sanções ao Irã. Também foram descongeladas as reservas financeiras nos Estados Unidos da ordem de oito bilhões de dólares, e se suspendeu a proibição das importações de petróleo, entre outros pontos.
“A queda do xá do Irã, em 1979, foi de longe a revolução mais importante da década de 1970, e passará para a história como uma das maiores revoluções sociais do século XX”, disse o celebrado historiador britânico Eric J. Hobsbawm em seu livro História do Século XX.
Para Hobsbawm, a Revolução Iraniana “foi a resposta ao programa de modernização e industrialização (e rearmamento) que o xá empreendeu em base a um firme apoio dos Estados Unidos e da riqueza petrolífera do país, cujo valor se multiplicou após 1973 por causa da revolução dos preços da OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo).
Este novo aniversário da ocupação da embaixada estadunidense comemora-se em um momento em que Teerã e o Grupo 5+1, formado por Estados Unidos, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha, estão para assinar um acordo antes da data limite de 24 de novembro, que colocaria fim a mais de uma década de negociações e sanções contra o Irã.
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A Revolução Iraniana. A ferida aberta que marcou o império - Instituto Humanitas Unisinos - IHU