10 Dezembro 2025
Um relatório acadêmico revela que a maioria dos trabalhadores, mesmo os do setor formal, não consegue mais comprar a cesta básica. Os cortes de subsídios e a inflação nos serviços estão condenando as famílias a uma crise que não conhece alívio.
A reportagem é publicada por Tiempo Argentino, 08-12-2025. A tradução é do Cepat.
Um relatório do Instituto Gino Germani da Universidade de Buenos Aires expõe a dimensão do colapso social atual: 72% dos trabalhadores argentinos, incluindo trabalhadores formais e informais, ganham menos de um milhão de pesos por mês, um valor muito abaixo da Cesta Básica Universal, que ultrapassa 1,2 milhão de pesos. Esse número não é uma abstração, mas um retrato de um país em que a maioria dos trabalhadores é pobre, demonstrando o fracasso retumbante das políticas econômicas oficiais em preservar o poder de compra.
A categoria “trabalhador pobre” não é mais um problema marginal, mas uma norma estrutural que permeia todo o mercado de trabalho. No setor formal, 58% dos trabalhadores assalariados não atingem o limiar crítico de renda, e um em cada cinco trabalhadores em tempo integral (40 horas semanais) vive na pobreza. Entre os trabalhadores informais e os autônomos pouco qualificados, a situação é catastrófica, afetando quase 90% deles, o que demonstra que o problema é sistêmico e não pode ser resolvido simplesmente com empregos formais.
Uma economia contra os trabalhadores
Esse colapso não é acidental, mas a consequência direta de um plano econômico que priorizou a austeridade fiscal em detrimento da proteção social e dos interesses da força de trabalho. Pesquisadores identificam a “pobreza residencial” como um novo e generalizado flagelo, gerado pela alta descontrolada dos preços dos alimentos e, sobretudo, pelos aumentos exorbitantes das tarifas de serviços públicos. O gasto com eletricidade, gás e água passou de 4% do salário mediano no final de 2023 para 11% em 2025, um golpe devastador para os orçamentos familiares que elimina qualquer possibilidade de poupança.
A resposta desesperada dos cidadãos a esse cenário se reflete no aumento do número de trabalhadores com mais de um emprego, que agora afeta 12% da população empregada. Essa estratégia de sobrevivência, em que até mesmo os trabalhadores com emprego formal precisam buscar uma renda extra, expõe a insuficiência dos salários e a profundidade da crise. Longe de ser um motor de mobilidade social, o trabalho se tornou uma sentença para uma corrida exaustiva apenas para se manter à tona.
Diante desse panorama, as prioridades do governo ficam evidentes. Enquanto um programa de austeridade é implementado, penalizando o consumo e a renda das pessoas comuns, o estudo da UBA confirma que o modelo consolidou uma Argentina em que trabalhar não garante mais escapar da pobreza, mas, para a maioria, apenas administrá-la. A economia, gerida com uma abordagem fria e objetiva, produziu uma realidade social alarmante: um país de trabalhadores que, apesar de seus esforços, são sistematicamente empobrecidos pelas decisões de quem administra o orçamento.
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