05 Dezembro 2025
A maior ordem budista da Coreia do Sul pediu a retirada imediata de uma proposta de lei especial que prevê apoio governamental à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que terá lugar em Seul, em 2027, alegando que esta viola o princípio constitucional da separação entre religião e Estado.
A reportagem é publicada por 7Margens, 03-12-2025.
“A nossa reivindicação é dirigida ao governo e à Assembleia Nacional, não à Igreja Católica”, que organiza o encontro internacional de jovens, esclareceu o Venerável Sungwang, da Ordem Jogye, em declarações à UCA News, enfatizando: “o projeto de lei viola claramente a Constituição”.
De acordo com o líder religioso, todos os 61 membros votantes do Conselho Central da Ordem Jogye do Budismo Coreano se opuseram unanimemente ao projeto de lei na sua última assembleia geral, que decorreu no passado dia 19 de novembro.
A Ordem Jogye, que representa cerca de 70% dos templos budistas do país, é o órgão máximo de decisão do budismo coreano, comparável a uma conferência episcopal na Igreja Católica, refere a UCA News.
Uma declaração emitida após aquela assembleia geral sublinha que o Estado “não pode apoiar uma religião específica e as organizações religiosas não devem exercer poder político”. O texto afirma ainda que a proposta de lei — a Lei Especial de Apoio à Jornada Mundial da Juventude de Seul 2027 — canalizaria recursos públicos para o que é descrito como “um evento religioso para a evangelização católica, e não um evento internacional que garanta valor público para a sociedade coreana”.
A JMJ irá decorrer de 29 de julho a 8 de agosto de 2027 e a arquidiocese de Seul prevê receber 1 milhão de pessoas na missa de encerramento. Os organizadores afirmam que o apoio do governo é essencial para a segurança, o transporte e a coordenação entre as diferentes entidades envolvidas.
Em setembro, Dom Lee Kyung-sang, chefe da comissão, havia já adiantado que o evento é “três vezes maior que as Olimpíadas”, enfatizando que o apoio do governo é necessário para o controle de multidões, segurança, alojamento temporário e serviços multilíngues.
A afirmação do bispo surgiu na sequência de a Coligação Civil de Reforma Inter-religiosa — composta por 29 grupos de cinco grandes religiões — se ter oposto à legislação, alegando que uma lei que concedesse “tratamento preferencial institucional” a uma religião violaria a constituição do país.
Dom Lee detalhou que os organizadores planejam solicitar cerca de 50 bilhões de won (cerca de 29 milhões de euros) em financiamento governamental, de um orçamento total de 300 bilhões de won. O prelado assegurou que os fundos seriam usados para segurança pública e não para atividades da Igreja.
Outros líderes católicos também enfatizaram a necessidade de uma estrutura que envolva todo o governo, visto que o Papa Leão XIV deverá participar no evento como convidado de Estado.
Em resposta às críticas de que a JMJ é um evento católico, Lee acrescentou ainda que os organizadores planejam oferecer programas culturais e artísticos, e esperam promover a harmonia inter-religiosa convidando jovens não católicos e explorando a cooperação com templos budistas para o acolhimento e estada dos participantes.
Embora insista que não se opõe à própria JMJ, a Ordem Jogye afirma que o dinheiro dos contribuintes não deve financiar um evento religioso específico e alerta contra a criação de “um precedente perigoso de conluio entre política e religião”.
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