25 Novembro 2025
"Sim, o perdão precede o nosso pecado e nem sequer exige o arrependimento, porque Deus sabe que é o seu perdão que realiza o arrependimento e abre o caminho para a remissão dos pecados!", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por Famiglia Cristiana, 23-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O que é extraordinário no cristianismo e pode ser escandaloso para alguns é o anúncio do perdão, da misericórdia de Deus narrada por Jesus.
Se formos honestos, devemos confessar que temos dificuldade em compreender isso: sou idoso, tenho oitenta anos, mas sempre ouvi jovens e idosos exclamarem, em determinado momento, ao se depararem com a misericórdia, com o perdão: "Mas o culpado deve se arrepender, o culpado deve pedir perdão, o culpado deve se converter e expiar seus pecados: perdão, sim, mas também justiça!"
É assim que os humanos raciocinam, porque esse é o seu conceito de justiça: se for desrespeitada, deve ser reparada e o criminoso punido.
Em vez disso, a palavra de Deus contida nas Escrituras e proclamada por Jesus nos oferece uma perspectiva diferente. O profeta Miquéias já afirma que Deus toma os nossos pecados e os lança nas profundezas do mar (cf. Mi 7,19), onde não os encontra mais, ou seja, os esquece, enquanto nós não esquecemos o mal que nos foi feito! Isaías pede para acolher o perdão de Deus porque "embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve" (cf. Is 1,18).
Sim, o perdão precede o nosso pecado e nem sequer exige o arrependimento, porque Deus sabe que é o seu perdão que realiza o arrependimento e abre o caminho para a remissão dos pecados! É por isso que Jesus diz à prostituta que se aproxima dele e o unge com unguento: “os teus muitos pecados te são perdoados, porque muito amaste; vai-te em paz!” (cf. Lc 7,36-50).
Ficamos assombrados diante desse perdão que não exige condições, mas é o perdão de Deus, aquele de que precisamos. Segundo Paulo, não há pecado que não possa ser perdoado, porque “se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo” (2Tm 2,13).
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