18 Novembro 2025
As conclusões do presidente da cúpula do clima antes de entrar de vez nas negociações são um documento tão genérico que servem tanto para apoiar o acordo mais ambicioso quanto o mais decepcionante. Os planos apresentados pelos países reduzem as emissões que causam a crise climática em menos da metade do necessário
A informação é de Raúl Rejón, publicada por El Salto, 17-11-2025.
O presidente da COP30, André Correa do Lago, publicou no domingo à noite um resumo de suas consultas para circular nesta segunda-feira, o dia em que começa o jogo da verdade na Cúpula do Clima no Brasil. Um documento tão genérico que cabe quase qualquer coisa. Agora, os países e Correa do Lago têm cerca de 120 horas para arrancar um acordo em Belém do Pará.
Todas as opções estão abertas. Tudo de bom e tudo de ruim ainda é possível, relata de Belém do Pará o responsável de clima da organização Ecologistas en Acción, Javier Andaluz. O documento com o qual ministros e chefes de delegação começaram o dia não faz mais que expor onde estão os impasses: será que vai ser fechada a lacuna entre os planos climáticos apresentados e o caminho necessário para manter o aquecimento global em, no máximo, 1,5 ºC? Como os países desenvolvidos vão disponibilizar o dinheiro comprometido para que os países em desenvolvimento combatam a mudança climática e se adaptem aos seus impactos?
Muitos países estão pressionando para concretizar um plano sobre como abandonar os combustíveis fósseis, mas países como a Arábia Saudita tratam isso como uma linha vermelha, explica nos corredores da COP o coordenador da campanha de mudança climática do Greenpeace, Javier Zorrilla.
O mesmo acontece com a questão do financiamento – acrescenta o ativista – a União Europeia não quer abrir uma negociação exclusiva sobre o artigo do Acordo de Paris que trata desse assunto e, mais uma vez, a Arábia Saudita pressiona para que isso aconteça.
O resumo apresentado pelo presidente Correa do Lago é algo muito genérico, não contém nenhum acordo. Trata-se mais de uma enumeração dos temas conflituosos, comenta Andaluz, que analisa que, com esse nível de falta de concretude, a COP parece caminhar para precisar ser prorrogada.
O responsável do Greenpeace concorda que agora é observar como os países reagem a essas diretrizes presidenciais, porque elas continham todo o espectro: desde o mais positivo até o mais perigoso.
'Hojas de ruta' por todos os lados
Enquanto isso, o governo brasileiro impulsionou iniciativas paralelas, ou seja, fora dos fóruns oficiais da ONU na COP. Fez isso tanto para reunir países mais dispostos a se envolver em uma rota para o abandono dos combustíveis fósseis quanto para o freio ao desmatamento. Embora esses anúncios estejam sendo muito divulgados, o problema é que essas rotas não fazem, neste momento, parte das negociações oficiais.
Uma evidência disso: a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, deixou claro em entrevista ao The Guardian nesta segunda-feira que essa rota para deixar o petróleo, o carvão e o gás é uma resposta ao que a ciência nos mostrou. Uma resposta ética. E, ao mesmo tempo, acrescentou que ela seria voluntária para os países que quisessem participar.
Nesta segunda-feira, os ministros e chefes de delegação enviados pelos países ao Brasil se encontraram frente a frente numa sessão plenária repleta de discursos. Pedíamos que houvesse aspectos concretos, planos fortes para acabar com os fósseis, proteger o futuro das florestas, impostos sobre os fósseis, transição justa e financiamento para adaptação, relata Zorrilla. Mas isso não foi ouvido, finaliza.
Nesse sentido, o comissário europeu de Ação Climática, Wopke Hoekstra, após a assembleia em Belém, falou genericamente sobre o que chamou de o óbvio: o mundo tem um enorme problema, então devemos cortar as emissões e fazê-lo em todos os lugares, porque a mudança climática não faz distinções.
Hoekstra evidenciou qual será a linha da União Europeia no Brasil: falar mais de ações concretas de redução de CO₂ do que de dinheiro. Esta COP trata do que está sendo feito concretamente. E mais é necessário. Depois de avaliar onde estamos coletivamente, a resposta é clara: não estamos fazendo o suficiente.
Os planos apresentados pelos países reduzem as emissões que causam a crise climática em menos da metade do necessário
Também nesta segunda-feira se soube que a vice-presidenta terceira e ministra da Transição Ecológica, Sara Aagesen, foi escolhida pelo presidente da COP30, André Correa do Lago, como cofacilitadora, junto com o Egito, nas negociações sobre mitigação da mudança climática.
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