Sejam muito bem-vindos ao IHUCast, o podcast que traz os principais assuntos publicados no site do IHU. Nesta edição dos Destaques da Semana, mergulhamos nos fatos mais quentes do Brasil e do mundo, da ascensão de uma nova esquerda nos EUA à tragédia climática, da COP à necropolítica brasileira.
Renasce a cidade mais cosmopolita do planeta. É de lá que sopra um vento de ar puro, que traz consigo a promessa de ser um farol a iluminar estes tempos sombrios. Na capital do mundo, onde vivem mais de 340 mil milionários, com a riqueza destes excedendo US$ 3 trilhões, ascendeu à prefeitura, pela primeira vez na história, um imigrante africano, muçulmano, socialista e TikToker. Zohran Mamdani, com apenas 34 anos, foi eleito prefeito de Nova York com mais da metade dos votos. “Neste momento de trevas políticas, nós seremos a luz”, assinalou o futuro prefeito, que fez um discurso marcado pela influência política e o trabalho intelectual de seus pais.
Seu pai, ugandense como ele, chegou aos Estados Unidos em 1963 com uma bolsa de estudos para estudantes da África Oriental. Forjou uma carreira acadêmica focada na análise do colonialismo, do pós-colonialismo e das minorias na África. "Sua mãe, nascida na Índia, desenvolveu sua consciência política no teatro de rua de Delhi. Ao chegar aos Estados Unidos como estudante, tornou-se cineasta, dirigindo filmes que desafiavam sutilmente os preconceitos de Hollywood: roteiros filmados em bairros operários no exterior, comédias românticas ambientadas em contextos políticos históricos e elencos totalmente brancos".
As propostas de Mamdani são concretas e confrontam diretamente o dogma: o retorno da tributação para milionários para financiar obras e serviços básicos de que Nova York precisa urgentemente; o controle dos preços dos aluguéis; construção de moradias populares; tarifa zero no transporte urbano, criação de supermercados públicos em todos os bairros com preços mais acessíveis; criação de creches públicas; aumento do salário mínimo para os trabalhadores; e proteção dos direitos trabalhistas e sindicais.
Após, o resultado, o prefeito recém-eleito fez um discurso da vitória inflamado, no qual defendeu seus ideais socialistas. Ele confrontou o homem mais temido tanto por seus apoiadores quanto por seus oponentes, o presidente Trump, com uma ousadia que servirá de exemplo temido de como a esquerda deve enfrentar o avanço cleptocrático dos privatizadores neoliberais: sem rodeios, sem pedir permissão, de frente e sem floreios.
🎙️🎙️ Discurso forte do prefeito eleito de Nova York - @ZohranKMamdani - teve vários recados para Donald Trump, que cresceu na cidade. “Nova York vai continuar sendo uma cidade de imigrantes!”, disse Zohran, que obteve 50,4% dos votos na eleição. pic.twitter.com/AUfHNUbVV6
— Rogério Tomaz Jr. (@rogeriotomazjr) November 5, 2025
"Contra todas as expectativas, Mamdani triunfou, com seu sorriso sempre presente, seu domínio das redes sociais e sua capacidade de falar a linguagem da empatia, da rua, de ouvir os sem voz e falar em seu nome. O novo prefeito de Nova York demonstrou que é possível engajar-se novamente no discurso político, ampliando os horizontes e trazendo esperanças dentro de uma nova onda. Ele faz isso sem atacar ninguém, porque ninguém é descartável, exceto aqueles cujo único propósito é privá-lo de seus direitos e, em última instância, de sua humanidade", avaliou o professor da Universidade de Chicago, Diego Barros.
No dia em que o auxílio-alimentação (SNAP) expirou para milhões de americanos, o ex-presidente Donald Trump promovia um jantar de gala em Mar-a-Lago ao som de "A Little Party Never Killed Nobody". Com a paralisação do governo levando a filas milhares de "funcionários públicos em bancos de alimentos, Trump oferecia um jantar de gala com seu secretário de Estado, Marco Rubio, com direito a dançarinos, música ao vivo e todo tipo de luxo imaginável."
O Papa Leão XIV vem se posicionando firmemente contra as rigorosas políticas migratórias do governo dos Estados Unidos, vendo-as como uma afronta à fé católica e aos ensinamentos bíblicos sobre acolhimento.
A tragédia da megaoperação no Rio de Janeiro, com 121 mortos, é analisada sob a ótica da necropolítica. Professores questionam o placar desproporcional e a "satanização e desumanização do opositor", expondo a violência estatal como base da necropolítica da extrema-direita. Michel Gherman traz à tona a reflexão de como o Brasil aplica uma geopolítica étnica que culmina no massacre de corpos periféricos.
Lembramos os 10 anos do maior desastre ambiental do país, o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG). A lama tóxica que ceifou 19 vidas e contaminou o Rio Doce ainda esbarra na impunidade, com nenhum responsável condenado. O reassentamento lento e a repetição do drama em Brumadinho em 2019 mostram que a lição não foi aprendida, e a mineração segue avançando sobre o território.
Sem volta. O mundo atravessou o rubicão da meta climática e a ultrapassagem do limite de temperatura de 1,5º C, fixado pelo Acordo de Paris, não pode mais ser evitado, alertou o Pnuma. Resta agora a adaptação, tema central da COP30, que ainda não começou oficialmente, mas que já está marcada pelo ceticismo, pela falência do multilateralismo, pelo cinismo oficial do Brasil com os povos da floresta e a hipocrisia do país com a liberação de petróleo na foz do Rio Amazonas.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, será realizada de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém. Mas os olhos do mundo já estão virados para o Pará, onde começou nesta quinta-feira, dia seis, a cúpula de líderes. Com duração de dois dias, o encontro conta com de mais de 40 chefes de Estado e de governo. Na ocasião, o governo brasileiro criou um fundo de investimento para arrecadar recursos e recompensar os países que protegem suas florestas tropicais, especialmente aqueles que vivem nelas e as preservam há séculos por meio de práticas sustentáveis. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou o instrumento financeiro, denominado Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), a seus homólogos de todo o mundo presentes na cúpula climática.
Lula fez um discurso surpreendente e deu o primeiro passo para que a conferência proponha um mapa do caminho para o fim de petróleo, gás e carvão. "Belém honrará os legados das COP28 e 29. Acelerar a transição energética e proteger a Natureza são as duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global. Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis", destacou o presidente brasileiro.
"As palavras de Lula reforçam a contradição que o governo brasileiro resolveu abraçar ao liberar a licença do bloco FZA-M-59 na véspera da COP30. Não é novidade que o presidente Lula defende a exploração de combustíveis fósseis na Foz do Amazonas, ainda que sempre faça ressalvas que será feita 'com respeito ao meio ambiente'”, avaliou o ClimaInfo. Na segunda sessão temática da Cúpula de Belém, Lula falou sobre a transição energética justa, ordenada e equitativa e não poupou críticas ao investimento em armas em detrimento do clima.
Ainda não sabemos quais ações concretas vão sair das discussões em Belém, mas o Brasil precisa começar a fazer a lição de casa se quiser liderar pelo exemplo. O país não pode mais ceder ao lobby do petróleo e da indústria de combustíveis fósseis, bem como não pode negar o direito à vida e a terras dos povos ancestrais, atores centrais no combate à crise climática.
Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana.
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