06 Novembro 2025
“Ele insistiu que a Rússia deveria assumir a responsabilidade pela reconstrução da Ucrânia. Você acha que Israel deveria pagar pela reconstrução de Gaza?”, perguntou o jornalista Gabriele Nunziati, que foi demitido da agência de notícias Nova.
A reportagem é publicada por EFE, e reproduzida por El Diario, 05-11-2025.
O jornalista italiano Gabriele Nunziati denunciou sua demissão da agência de notícias Nova por ter questionado a Comissão Europeia sobre a possibilidade de Israel reconstruir Gaza, o que gerou um debate sobre a liberdade de imprensa.
Em 13 de outubro, Nunziati fez a seguinte pergunta a uma porta-voz na conferência de imprensa diária da Comissão: “A senhora insistiu que a Rússia deveria assumir a responsabilidade pela reconstrução da Ucrânia. Acredita que Israel deveria pagar pela reconstrução de Gaza?” A porta-voz, Paula Pinho, respondeu: “Essa é uma pergunta interessante, mas não temos comentários a fazer neste momento.”
O jornalista relatou à imprensa italiana que sua agência o informou imediatamente de que sua pergunta não havia sido bem recebida pela direção e, em 27 de outubro, o notificou por carta sobre o término de seu contrato de colaboração.
A agência de notícias Nova, fundada em 2001 e especializada em política internacional, explicou sua decisão em um comunicado ao portal Fanpage, alegando que a pergunta era “tecnicamente incorreta”, “inadequada” e “de natureza errônea”. A agência afirmou que “Israel sofreu agressão armada”, referindo-se ao ataque do Hamas em 07-10-2023, e denunciou o fato de o vídeo contendo a pergunta do jornalista “ter sido distribuído por canais nacionalistas russos” e por veículos de comunicação do “islamismo político”.
A demissão foi criticada pelo Conselho Nacional da Associação Italiana de Jornalistas, que expressou seu "desconcertamento" com os acontecimentos. "Não se pode demitir alguém por fazer uma pergunta", declarou o Conselho, exigindo também sua reintegração "o mais rápido possível".
As críticas também vieram da esfera política. Sandro Ruotolo, membro do Parlamento Europeu pelo Partido Democrático, descreveu esses eventos como "graves" porque "levantam preocupações sobre o estado da liberdade de imprensa" e do jornalismo.
Ilaria Salis, eurodeputada da Aliança Verde e Esquerda (AVS), que anteriormente esteve detida numa prisão húngara sob a acusação de agredir neonazistas em Budapeste, manifestou ao correspondente a sua "total solidariedade".
Piena solidarietà al giornalista Gabriele Nunziati, corrispondente a Bruxelles per @agenzia_nova, licenziato dopo aver posto una domanda durante una conferenza stampa della Commissione Europea:
— Ilaria Salis (@SalisIlaria) November 5, 2025
“Se la Russia dovrà pagare per l’Ucraina, perché non dovrebbe farlo anche Israele per… pic.twitter.com/6wVGQLncqe
“Sua pergunta era perfeitamente legítima”, afirmou ele nas redes sociais.
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