28 Outubro 2025
"O essencial é a natureza proativa e aberta das questões. É um texto que abre, não é um texto que define. Um documento que quer iniciar caminhos até mesmo novos, propor uma Igreja em caminho...".
O arcebispo Erio Castellucci, 65 anos, vice-presidente da CEI e presidente da Comissão Sinodal Italiana, liderou o "caminho sinodal" desde o início e cuidou do documento aprovado no sábado pela assembleia de bispos e leigos, após quatro anos de trabalho, com 781 votos a favor de 809 votantes, ou seja, 96,5%.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 27-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
O que acontecerá agora?
O texto está sendo entregue aos bispos, que deverão recebê-lo e dar-lhe uma forma gradual nas próximas assembleias gerais da CEI, em novembro e maio de 2026. São mais de cem pontos e precisam analisados um a um, elaborando propostas concretas de implementação. Em maio, poderiam ser publicadas diretrizes, por exemplo, sobre a formação e o acompanhamento das situações mais complexas...
Chamou a atenção a abertura ao mundo homossexual, a proposta de que a CEI apoie "as jornadas propostas pela sociedade civil" contra a violência e as discriminações, incluindo homofobia e transfobia...
Antes da votação, algumas redes sociais falaram disso como se a CEI estivesse legitimando ou aderindo às Paradas de Orgulho Gay. Houve um equívoco, um pouco como quando Francisco publicou a exortação Amoris Laetitia onde houve quem interpretasse a possibilidade de admitir divorciados recasados à comunhão como se fosse uma deslegitimação do casamento. A questão, porém, é outra: há situações complicadas, mas não podemos deixar ninguém à margem. Ninguém.
Caso contrário?
Caso contrário, como dizia Francisco, não é a Igreja de Jesus, mas uma seita. Eu sempre digo: se a porta de entrada estiver aberta, as pessoas podem entrar; se estiver fechada, elas ficam de fora. A Igreja, lembra-nos também Leão XIV, deve acompanhar as pessoas, levá-las pela mão.
O Cardeal Lojudice dizia ao Corriere que aconteceu um pouco o mesmo que aconteceu no conclave, "a consciência de que não era o momento de se dividir".
Sim, creio que sim. Mesmo em abril, quando se decidiu adiar a votação porque o texto não havia sido considerado adequado, os grupos de estudo fizeram muitas propostas e trabalharam bem. Havia um clima de escuta mútua, de liberdade para expressar os próprios pensamentos e, ao mesmo tempo, a consciência de que todos contribuíam com algo. O espírito que se viu no sábado já estava pronto e favoreceu uma aprovação quase unânime.
Na missa para as equipes sinodais de domingo, o Papa Leão exortou a "habitar com confiança e espírito novo as tensões que permeiam a vida da Igreja — entre unidade e diversidade, tradição e novidade, autoridade e participação —, permitindo que o Espírito as transforme, para que não se tornem conflitos ideológicos e polarizações nocivas".
Sim, creio que tenha atuado essa consciência: não vale a pena lutar entre defensores da verdade e da caridade, da misericórdia e da lei. É do Evangelho que emerge a importância de uma comunidade que acompanha as pessoas no ponto onde elas estão e em direção à meta que podem alcançar. Não é como se ficássemos esperando na meta enquanto se julga o caminho errado dos outros. Até porque estamos todos um pouco distantes da meta indicada pelo Evangelho.
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