24 Outubro 2025
Há quatro anos, na COP26, em Glasgow, mais de 100 países assinaram um acordo para reduzir em 30% as emissões globais de metano até 2030. Mas um relatório da ONU lançado na última 4ª feira (22/10) alerta que o mundo não está se movendo rápido o suficiente para atingir a meta. O documento chama atenção para um problema recorrente: o vazamento de metano em dezenas de países.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 24-10-2025.
O “Methane Alert and Response System” (MARS) foi anunciado em 2022, na COP27, e começou sua fase piloto em janeiro de 2023. Ele combina imagens de satélite e inteligência artificial para detectar emissões anormais de metano. Desde sua criação, foram 3,5 mil alertas emitidos, mas apenas 12% receberam alguma resposta, informam g1 e Um Só Planeta.
Na Patagônia argentina, as emissões chegavam a 4,5 toneladas de metano por hora – o equivalente ao impacto climático de mais de 2 mil carros circulando durante um ano. No Turcomenistão, o MARS apontou um vazamento contínuo desde 2023. Os dois exemplos tiveram alertas repetidos, mas nenhuma medida de contenção foi registrada por meses.
A MARS acompanha os dados de 154 petroleiras, que detém 42% de toda a produção mundial. Para Giulia Ferrini, líder do Observatório Internacional de Emissões de Metano do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), há uma série de razões para que empresas hesitem em reportar suas emissões, como falta de tecnologia, motivação financeira ou atenção priorizada para operações de petróleo.
Giulia afirma que empresas se tornam mais aptas a agir quando sentem pressão de governos e investidores. “No fim das contas, tudo se resume à vontade política”, disse.
Enquanto isso, no Brasil, o Banco Mundial abriu uma licitação internacional para contratar uma empresa para detectar as emissões de metano em três ativos de produção de petróleo e gás, conta a Agência Infra. A iniciativa faz parte de um conjunto de ações em cooperação com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O resultado deve contribuir para o aprimoramento do inventário nacional de metano no setor, fortalecer a fiscalização regulatória e apoiar a futura regulamentação da ANP sobre controle de emissões.
Liberado pela queima de combustíveis, aterros sanitários e pela agropecuária, o metano é até 80 vezes mais potente que o dióxido de carbono no efeito estufa e é responsável por cerca de um terço do aquecimento planetário.
NY Times, Folha, Bloomberg, Reuters, Forbes e Click Petróleo e Gás também noticiaram o relatório da ONU.
Em tempo
As cinco maiores empresas agropecuárias do mundo emitem mais metano que as operações das cinco maiores petroleiras, aponta um relatório do think tank holandês Profundo. O documento coletou dados de animais manejados por 45 grandes empresas e constatou que juntas, elas liberam mais metano anualmente que toda a União Europeia. JBS, Marfrig e Minerva no Brasil estão no Top 5, sendo a JBS, sozinha, responsável por mais emissões de metano que ExxonMobil e a Shell juntas, informa o Yale Environment 360.
Vale lembrar que a comparação não considera o metano oriundo da queima dos combustíveis fósseis produzidos pelas petrolíferas.
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