A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de Lucas 18,1-8 que corresponde ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: "Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: 'Faze-me justiça contra o meu adversário!' Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!" E o Senhor acrescentou: "Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?"
Jesus está conversando com seus discípulos e conta-lhes outra parábola com o objetivo de sustentar sua fé, sua confiança em Deus: “para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”.
A parábola começa dizendo: "Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: 'Faze-me justiça contra meu adversário!"
O juiz é descrito com duas carências fundamentais: “não temia a Deus, e não respeitava homem algum”. É uma pessoa que ocupa o cargo de juiz e não tem as atitudes básicas para isso: a relação com Deus e um vínculo com os outros que implique compromisso, empatia. É uma descrição muito clara e, ao mesmo tempo, bastante forte, pois é um juiz egoísta, surdo ao clamor do próximo e sem “temor de Deus”. Assim é descrito o malvado nos salmos. A mulher é viúva, faz parte do grupo de pessoas mais vulneráveis e fracas.
A mulher busca justiça contra alguém que tinha com ela uma disputa, embora não se saiba exatamente qual era o problema. Ela não desistia de seus direitos e insistia tanto que acabou obrigando o juiz a ouvi-la. O juiz não a ouviu por compaixão, mas porque ela estava incomodando-o demais com sua insistência. Ele pensou: Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me. Apesar de reconhecer que não tinha medo de Deus nem sentia pena das pessoas, ele decidiu agir assim só para acabar com a insistência dela. Ele se sentiu "atacado" pelos gritos da mulher e escolheu fazer justiça, não por misericórdia ou por querer ajudar, mas apenas para que ela deixasse de incomodá-lo, como se o pedido dela fosse uma ofensa ou uma ameaça.
E o Senhor acrescentou: "Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele?
Jesus não foca sua atenção na viúva, mas sim no juiz injusto. Se uma pessoa mesquinha e tão cínica que nem teme a Deus nem aos homens consegue ouvir uma mulher que insiste com tanta determinação, imagine o que Deus fará por seus escolhidos. Muitas vezes, pensamos que, ao pedir algo a Deus, Ele tem que responder exatamente do jeito que solicitamos, como se fosse uma obrigação dele fazer isso logo de cara. Quando isso não acontece, logo concluímos que Ele não ouve nem responde, e ficamos pensando: “Peço e nada acontece”. Geralmente, esses pedidos envolvem dores, sofrimentos de alguém querido ou dificuldades inesperadas na nossa vida. Essa situação que nos tira do ritmo normal do dia a dia, que nos desestabiliza e nos faz perder o equilíbrio, nos convida e ajuda a voltar o olhar para Deus. Mas não é para que Ele intervenha e tudo volte a ser como antes, e sim para nos fazer refletir e confiar mais nele.
Lembremos que o Evangelho de Lucas foi escrito para uma comunidade que atravessava momentos de grande dificuldade, era perseguida e vários membros das comunidades haviam sofrido o martírio nas mãos dos romanos. É um contexto de grande angústia e perseguição e era muito forte a tentação de abandonar a fé, questionar por que Deus “não intervém” como eles pediam...
As primeiras comunidades sofriam muitas injustiças e o texto procura encorajar esses grupos a manterem-se na fé, a não desanimarem no caminho. Deus não promete eliminar o sofrimento que estão vivendo, mas convida-os a rezar confiando em um Deus que é Pai, que os ama e os escuta, mas que não responde da maneira como lhe pedem. Através desta parábola, Jesus tenta prevenir qualquer tipo de desânimo. Muitos ainda esperavam uma pronta vinda do Senhor e isso não estava acontecendo, por isso é lógico que não se entendesse o que estava acontecendo.
Jesus tenta nos mostrar que é importante orar sempre, sem desanimar, e reforça o quanto é essencial manter o vínculo e a relação constante com Deus. Ele nos incentiva a confiar-lhe, a fazer pedidos e a pedir ajuda, especialmente nos momentos difíceis. Essa mensagem transmite uma confiança profunda em Deus e em Sua justiça, e é por isso que continuamos a pedir dia após dia. Deus conhece bem a realidade que enfrentamos e, mesmo na dor e nas dificuldades, Ele nos convida a nos relacionar com Ele por meio de orações confiantes. Não podemos separar nossa relação com Deus do sofrimento injusto que muitas pessoas vivem, como no caso da viúva, por exemplo. Não devemos ficar indiferentes como o juiz que não ouve. Seguir Jesus exige de nós um compromisso total, e isso significa que todos somos chamados a buscar justiça e agir para promovê-la, ao mesmo tempo que fazemos nossas súplicas a Deus para que ela seja feita. É importante lembrar que Deus ouve nossas orações, mas nem sempre responde exatamente como queremos.
O Papa Francisco nos dizia: “É preciso rezar sempre com liberdade”. “Pedimos ao Senhor o Reino, e tudo vem com ele. O Espírito Santo vem, sim, em socorro de nossa fraqueza, mas ele ainda faz algo muito importante: ele atesta que somos filhos de Deus e coloca em nossos lábios o grito: 'Pai!' (Rm 8,15; Gl 4,6). Nós não podemos dizer “Pai, Abba” sem a força do Espírito Santo. A oração cristã não é o homem falando de um lado do telefone com Deus do outro lado, não, é Deus que reza em nós! Rezamos a Deus por meio de Deus. “Rezem como filhos de Deus, não como escravos”.