29º domingo do tempo comum – Ano C – Subsídio exegético

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14 Outubro 2022

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF

 

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

 

Leituras do dia

 

Primeira Leitura: Ex 17,8-13
Segunda Leitura: 2Tm 3,14-4,2
Salmo: 120,1-8
Evangelho: Lc 18,1-8

 

O Evangelho

 

A oração é a alma da vida cristã. Sem ela, a missão se torna estéril. O cristão comprometido não pode apenas contar com suas forças, pois a oração é parte integrante da missão. No entanto, percebe-se muita confusão no que diz respeito a ela. Na piedade popular se faz novenas, promessas, correntes de oração, romarias... Em tudo isto há vestígios de uma religiosidade de barganha: “se Deus me der o que peço, eu lhe darei tal outra coisa”. Claro, nem tudo nestas práticas é viciado, mas em muitos casos, de fato se encara a oração desta forma.

 

A parábola do juiz iníquo (Lc 18,1-8) é um texto exclusivo de Lucas. Comparar Deus com um juiz mau é um tanto estranho. Nos anos 80, tempos de Lucas, alguns fiéis desanimavam, havia muitos problemas insolúveis. As comunidades rezavam (Lc 11,1ss), mas mesmo a assim os problemas persistiam. Parece que Deus não ouvia. A parábola reflete este povo cansado e sofredor que esperava justiça. Para muitos não havia nenhuma esperança a não ser apelar para Deus, outros desanimavam. Foi então que Lucas, ou sua comunidade lembrou o ensino de Jesus para animar estas comunidades.

 

A situação das viúvas era trágica. Elas eram pessoas socialmente abandonadas. Mesmo tendo bens, não os podiam administrar, caindo desta forma nas mãos de administradores perversos que as exploravam (Mc 12,40). Como na época não havia previdência social, muitas delas viravam mendigas, ou até prostitutas para não morrer de fome.

 

Um juiz sem escrúpulos ficava alheio aos sofrimentos de uma viúva, pois ela não tinha como suborná-lo. Ela não tinha nenhuma saída a não ser apelar com persistência. Ele, insensível diante de Deus e dos pobres e sofredores, foi tocado, não pela fé, nem por um sentimento de caridade, mas justamente pela insistência. Para se ver livre, atendeu à viúva, fazendo-lhe justiça contra seu adversário, provavelmente um mau administrador de seus bens.

 

Ora, se até um juiz mau, diante da insistência, cedeu e fez justiça, quanto mais Deus que é infinitamente bom, não atenderia seus filhos que lhe pedem com perseverança? (Lc 11,13).

 

Como o povo do deserto, frágil, como a viúva sem saída, mas persistente, assim também deve agir o cristão de todos os tempos. Se dependesse unicamente das próprias forças, o povo do deserto teria perecido antes mesmo de passar o Mar Vermelho (Ex 14,1ss), teria morrido de fome (Ex 16,1ss), de sede (Ex 17,1ss) e derrotado pelos amalecitas (Ex 17,8ss). Mas com seu empenho, mais a súplica, Deus o conduziu à vitória superando todos os obstáculos. Se a viúva só contasse com seu poder pessoal, seu adversário a teria ignorado. Mas a súplica persistente lhe deu vitória. Assim também, os discípulos de todos os tempos, não devem apenas fazer uma novena quando têm algum problema e depois de resolvido parar a oração. Nem sequer desanimar quando parece que Deus não os ouviu. Devem rezar sempre, com persistência. Deus os atende, pois ele é, acima de tudo, bondade e amor.

 

Relacionando com as outras leituras

 

Ex 17,8-13: no processo de libertação do povo hebreu e na conquista da Terra Prometida, aconteceram muitas dificuldades: passagem pelo mar (Ex 14), fome (Ex 16,1ss), sede (Ex 17,1ss), combates com adversários (Ex 17,8ss). O povo não teria vencido com suas próprias forças. Javé foi a solução dos problemas quando o povo suplicava. Amalec queria impedir este processo de libertação que conduzia à vida. O povo, por suas próprias forças não podia vencer, mas pela oração de Moisés, conseguiu continuar o processo de libertação. Poder-se-ia dizer: a vitória não veio apenas pela luta de Josué, mas esta luta foi abençoada pela oração de Moisés. As duas coisas foram necessárias: empenho e oração.

 

2Tm 3,14–4,2: quase todas as pessoas dizem ter fé. Porém qual é a fé das pessoas que nunca se aprofundam na revelação de Deus? É uma fé sem base. Paulo deixa a seu discípulo uma regra: a Bíblia (Escrituras Sagradas). Por meio dela se chega a Jesus Cristo, pois ela é inspirada por Deus. Ela é a base sólida de uma fé verdadeira.

 

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