08 Outubro 2025
Na pauta para a trégua há também a rejeição da Fundação Humanitária de Gaza, com a reabilitação das agências da ONU responsáveis pela entrega das ajudas.
A informação é de Nello Scavo, publicada por Avverine, 07-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os veteranos das negociações costumam citar um velho ditado: "Os acordos são assinados na mesa, mas são formados por baixo da mesa". E de Sharm el-Sheik, no plano humanitário, já se ouvem cochichos vindos de "baixo da mesa". A começar pelo retorno das operações humanitárias em Gaza à ONU.
Netanyahu deve ter engolido um enorme sapo se, como afirmado no "ponto 8" dos 20 em discussão, a operação israelense-estadunidense da controversa Fundação Humanitária de Gaza está sendo rejeitada. E desta vez, nem mesmo os influenciadores israelenses recrutados para desacreditar a imprensa internacional (que está proibida de pisar na Faixa de Gaza) conseguirão inventar alguma coisa. "A entrada e distribuição de ajudas na Faixa de Gaza ocorrerão sem interferência dos dois lados (Israel e Hamas, ndr) por meio das Nações Unidas e suas agências, o Crescente Vermelho e outras instituições internacionais não associadas de forma alguma a nenhum dos lados." É a amarga vingança, pelo menos nos rascunhos, do Direito humanitário, pisoteado e desrespeitado por dois anos de carnificina.
É como se o governo EUA, que se apropriou do mérito do avanço nas negociações, desta vez reconhecesse que as Nações Unidas não foram "o braço humanitário do Hamas", como afirma a propaganda governamental israelense. Os mercenários da GHF terão que se afastar, restituindo o lugar que cabe desde dezembro de 1949 à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA). Desde então, tem sido a única missão da ONU dedicada exclusivamente a uma população extenuada. Mas é o parágrafo anterior que esconde uma armadilha para Netanyahu. Sua posição ainda está sob os refletores do Tribunal Penal Internacional, que emitiu mandados de prisão contra ele e outros membros do governo e das forças armadas, bem como contra os líderes do Hamas, que, nesse interim, foram mortos pelas operações israelenses direcionadas. É o "ponto 7". Começa com uma não declarada acusação: "Assim que o presente acordo for aceito, todas as ajudas serão imediatamente enviadas para a Faixa de Gaza". Em outras palavras, até mesmo os autores do rascunho do acordo promovido por Donald Trump reconhecem que a assistência humanitária foi deliberadamente contingenciada, a ponto de indicar na proposta de negociação a proporção de remessas que deverão ser entregues na Faixa. Não é por acaso que o Ministro da Segurança Nacional, o líder de extrema direita Ben Gvir, se queixou que algumas padarias em Gaza voltaram a alimentar os civis, quando, ao contrário, "as operações militares devem ser intensificadas".
Palavras que certamente não escaparão à atenção do Tribunal de Haia, mas agora terão que lidar com o compromisso, "mínimo", segundo o rascunho da pax de Trump, de enviar "quantidades de ajudas coerentes com as disposições do acordo de 19 de janeiro de 2025 sobre as ajudas humanitárias, incluindo a reabilitação das infraestruturas (água, eletricidade, esgoto), a reestruturação de hospitais e padarias e o envio de equipamentos para a remoção de escombros e a reabertura das estradas".
Por que Netanyahu concordou em se expor a esse ponto? Israel, como potência ocupante, era obrigado pelo direito internacional a cumprir "obrigações vinculativas para com as populações sob seu controle". "As operações humanitárias devem respeitar rigorosamente os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência", exigia o Conselho de Direitos Humanos da ONU de Genebra. O não dito "por baixo da mesa" das negociações é que uma retirada gradual da Faixa de Gaza não mais empenharia Tel Aviv aos vínculos de "potência ocupante". Descarregando os palestinos que não deixarem Gaza sobre a vituperada comunidade internacional.
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