04 Setembro 2025
Ações interferem na alimentação e modos de vida de indígenas Munduruku, que são deixados sem comunicação adequada.
A informação é publicada por Climainfo, 04-09-2025.
O Ministério Público Federal (MPF) está investigando impactos a Comunidades Tradicionais na região do Baixo Teles Pires e Alto Tapajós, no Pará, provocados pelo rebaixamento da Usina Hidrelétrica de Colíder, em Mato Grosso. A apuração iniciou depois de uma carta denúncia da Associação Dace, do Povo Munduruku, que detalhou os impactos socioambientais sofridos pelos indígenas.
Segundo os indígenas, nas últimas semanas o rio subiu mais de dois metros e depois baixou rapidamente, acarretando a morte de peixes, ameaçando tracajás e sujando a água, o que impacta diretamente a alimentação, saúde e modo de vida da comunidade. As lideranças não foram informadas pelas empresas que administram as barragens de Colíder, Teles Pires e São Manoel.
“A maior parte do que chega até nós vem de mensagens em WhatsApp, o que nos deixa sem saber o que é mentira e o que é verdade. Falta informação segura, direta e diária para as comunidades”, afirmam. A associação demanda, entre outras medidas, a inclusão das aldeias no Plano de Ação Emergencial da usina, com garantia de auxílio.
O MPF requisitou à Eletrobras e Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) informações atualizadas sobre as medidas de emergência adotadas na usina e entrega aos indígenas do PAE, detalhando medidas de segurança eficientes de maneira contínua, segundo o Canal Energia e o site Megawhat.
Em resposta, a Eletrobras informou sobre danos nos drenos da barragem que elevaram o nível de segurança da usina para “alerta”, acionando, assim, o PAE. Os drenos são estruturas que permitem o escoamento adequado da pressão da água sob a barragem. A decisão de rebaixar o reservatório seguiu recomendação de especialistas.
((o)) eco trouxe dados de um levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) sobre os impactos de hidrelétricas em Comunidades Tradicionais. De 23 usinas em operação na região amazônica, 16 afetam Terras Indígenas. O MPF aponta que a tendência é de agravamento em mais 30% das Terras Indígenas devido aos projetos previstos.
Em tempo
A crise climática tem ameaçado a preservação da cultura milenar de produção de cerâmica do povo Waurá, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. A Folha abordou como as secas mais frequentes dos rios resultaram na escassez do cauxi — uma esponja de água doce usada como matéria-prima na produção das cerâmicas. O problema afeta não só o modo de vida, mas também a renda da comunidade.
Leia mais
- Indígenas afetados pela usina de Belo Monte deverão receber royalties
- Projeto de hidrelétrica ameaça rituais, caça e até sepulturas de indígenas na TI Tenharim Marmelos
- O genocídio dos povos indígenas. A luta contra a invisibilidade, a indiferença e o aniquilamento. Revista IHU On-Line, N° 478
- Em busca da terra sem males: os territórios indígenas. Revista IHU On-Line, N° 257
- DPU recomenda consulta a povos indígenas e tradicionais antes de renovação da licença de Belo Monte
- As sociedades indígenas e o desencontro das políticas do capital
- Impactos ambientais e sociais na construção de usinas hidrelétricas
- Lula e as hidrelétricas na Amazônia: As barragens planejadas
- Lula e as hidrelétricas na Amazônia: Bacias do Madeira e Tapajós
- "O interesse em construir hidrelétricas em vez de investir em alternativas é a grande quantidade de dinheiro que pode ser ganho nas obras". Entrevista especial com Philip Fearnside
- Por que o Ibama negou a licença para a Usina Hidrelétrica do Tapajós
- Hidrelétrica de Teles Pires. "A floresta é destruída sem cerimônia e deixa a terra nua, vulnerável e sangrando." Entrevista especial com Telma Monteiro
- Projeto de Belo Monte ignora ciclos de estiagens, põe em risco a hidrelétrica e aumenta danos sociais e ambientais. Entrevista especial com André Sawakuchi
- Belo Monte: o símbolo da relação inescrupulosa entre o governo federal e as empreiteiras. Entrevista especial com Felício Pontes Jr.
- Belo Monte dez anos depois e a contínua precarização dos modos de vida. Entrevista especial com Sadi Machado
- Plano de expansão de barragens hidrelétricas na Bacia Amazônica coloca em risco populações locais e a biodiversidade. Entrevista especial com Philip M. Fearnside
- "O interesse em construir hidrelétricas em vez de investir em alternativas é a grande quantidade de dinheiro que pode ser ganho nas obras". Entrevista especial com Philip Fearnside
- MPF/PA recomenda ao Ibama que cancele o licenciamento da usina de São Luiz do Tapajós
- Os impactos socioambientais das hidrelétricas Revista IHU N° 350
- As hidrelétricas e o processo de intervenção na Amazônia. Entrevista especial com André Villas-Bôas
- UHE São Luiz do Tapajós: Audiência pública em Santarém (PA) contará com especialistas em impactos de hidrelétricas
- Cancelamento de São Luiz do Tapajós: um passo para o futuro
- Ibama arquiva licenciamento da hidrelétrica São Luiz do Tapajós
- "Enterramento de São Luiz do Tapajós nos dá esperança", diz procurador
- Estudo diz que construção da Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós é inviável
- Usina ameaça demarcação de terra indígena no Tapajós
- Índios travam ‘guerra moderna’ contra hidrelétricas no rio Tapajós
- Estado de exceção e o licenciamento de usinas hidrelétricas na Amazônia: os fins justificam os meios? Entrevista especial com Luís de Camões Lima Boaventura
