18 Agosto 2025
“Os petroestados tomaram o tratado sobre plásticos como refém, tentaram estrangulá-lo na banheira e enterrar o corpo”, bradou Tim Grabiel, da EIA.
A informação é publicada por ClimaInfo, 17-08-2025.
Fracasso, frustração, raiva. Esses sentimentos resumem o resultado – ou melhor, a ausência de um – da 5ª rodada de negociações da ONU para o Tratado Global contra a Poluição por Plásticos (INC-5.2) realizada em Genebra. Após 10 dias de negociações, e horas após o prazo oficial expirar, os 185 países participantes não chegaram a um consenso, e o aguardado (e necessário) tratado não saiu. O comitê de negociações da ONU concordou em retomar as discussões, mas a data é uma incógnita.
Os impactos catastróficos da poluição por plásticos sobre a saúde humana, a biodiversidade e o clima demonstrados em numerosos estudos não foram suficientes para costurar um acordo entre as nações. Mais uma vez, os países produtores de petróleo foram os principais culpados pela falta de um texto condizente com a emergência da poluição plástica.
De um lado, o grupo conhecido como Coalizão de Alta Ambição, formado por União Europeia, Reino Unido, Canadá e diversos países africanos e latino-americanos, defendia a redução da produção de plásticos e a eliminação gradual de produtos químicos tóxicos utilizados na fabricação. Do outro, petroestados como Arábia Saudita, Kuwait, Rússia, Irã e Malásia, autodenominado Grupo de Pensamento Alinhado, advogava por um tratado com foco restrito à gestão de resíduos, sem necessariamente limitar a produção, explica o Brasil de Fato.
“Os petroestados não apenas tomaram o tratado sobre plásticos como refém, mas tentaram estrangulá-lo na banheira e enterrar o corpo”, disse o advogado sênior e consultor político da Environmental Investigation Agency (EIA), Tim Grabiel. “Eles usaram todas as táticas sujas do manual multilateral para atrasar, enganar, hesitar e destruir um tratado eficaz sobre plásticos. Os países que querem ações significativas contra a poluição plástica precisam fazer uma autoanálise. É hora de nos perguntarmos o quão comprometidos estamos, porque os países com ideias semelhantes parecem perfeitamente felizes em inundar nosso planeta com plástico, desde que ganhem dinheiro com isso.”
Quarto maior produtor de plástico do mundo e líder na América Latina, o Brasil adotou postura “em cima do muro” nas negociações. Embora a delegação brasileira tenha reconhecido a importância de se abranger todo o ciclo de vida do plástico no tratado, não houve compromisso com uma posição definitiva sobre a limitação da produção. O que colocou o país sob críticas, sobretudo porque sediará a COP30 em alguns meses.
Presidindo a INC-5.2, o equatoriano Luis Vayas Valdivieso escreveu e apresentou dois rascunhos de texto para o tratado contra a poluição plástica com base nas opiniões expressas pelos países. Mas os representantes de 184 nações rejeitaram ambos como base para a negociação, descreve o Guardian.
Durante a plenária de encerramento, muitos países sinalizaram desconforto com a continuidade das negociações no mesmo formato, informa o Climate Home. O colapso das negociações em Genebra ocorreu nove meses após o fracasso daquela que seria originalmente a rodada final de negociações realizada em dezembro de 2024 em Busan, na Coreia do Sul.
Para a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen, todos foram a Genebra para fechar um acordo, mas estava claro que “estamos vivendo em uma era de complexidade política”. Afirmando terem sido “feitos progressos significativos à medida que as linhas vermelhas foram esclarecidas”, Andersen prometeu que o trabalho “não parará, porque a poluição plástica não se encerrará”.
O clima geral, exceto para os petroestados, era de decepção. Organizações da sociedade civil presentes nas negociações chamaram a falta de acordo de “golpe no multilateralismo”. E alguns delegados começaram a discutir a melhor forma de avançar, talvez sem os países produtores de petróleo bloqueadores das negociações. “Está muito claro que o processo atual não funcionará”, disse um delegado da África do Sul à Reuters, em matéria traduzida pela Folha.
O fracasso das negociações para um tratado global contra poluição plástica foi repercutido também por Folha, g1, Exame, Carta Capital, Metrópoles, Veja, Capital Reset, eixos, AP, Bloomberg, New York Times, Washington Post, CNN, BBC, RFi, DW, Euronews, Earth.org, Al Jazeera, WWF e Greenpeace.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, aumenta o tom de voz quando fala do setor de combustíveis fósseis, destaca o Valor. “O setor de combustíveis fósseis se tornou hegemônico e com poder político para ditar o que o mundo pode ou não fazer”, diz. “É insano”, observa. “O que é mais importante para nós: aumentar os lucros dos piores poluidores? A escolha entre proteger a saúde humana e salvaguardar o futuro da civilização humana me parece ser clara”, disse Gore a jornalistas em evento no Rio de Janeiro organizado pela The Climate Reality Project, da qual é fundador. Pelo que aconteceu em Genebra, porém, o apelo de Gore não sensibiliza os petroestados.