15 Agosto 2025
Ondas de calor transformam Europa no epicentro de emergência climática global. Organização Meteorológica Mundial confirma: junho de 2025 foi o terceiro mais quente da história, com mortalidade 65% maior devido ao calor extremo.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 14-08-2025.
As temperaturas escaldantes que têm assolado o sul da Europa nos últimos anos ilustram de forma dramática a intensificação das ondas de calor no continente, que os cientistas consideram um resultado direto das mudanças climáticas. O monitor climático da União Europeia, Copernicus, classifica a Europa como o “continente com aquecimento mais rápido da Terra”, uma realidade alarmante que tem custado dezenas de milhares de vidas anualmente.
A intensa onda de calor que atingiu a Europa Ocidental durante a primeira quinzena de agosto de 2003 foi um choque enorme para a região e marcou o início de uma nova era de extremos climáticos. As temperaturas excepcionais registradas na França, Itália, Espanha e Portugal causaram mais de 70.000 mortes em 16 países, segundo estimativas científicas.
O episódio de 2003 não foi apenas um evento isolado. Tornou-se um catalisador para mudanças nas políticas públicas, com vários países implementando sistemas de alerta para ondas de calor, como o “plano para ondas de calor” introduzido na França. No entanto, os dados mostram que a situação apenas piorou nas décadas seguintes.
Embora a onda de calor de 2003 tenha afetado essencialmente o oeste e o sul da Europa, todo o continente europeu tem sido impactado por ondas de calor desde o início deste século. Os padrões mostram uma expansão geográfica preocupante:
Os dados mais recentes revelam o custo humano devastador das ondas de calor europeias. As estimativas da equipe de pesquisa sugerem que o continente enfrentará uma média de mais de 68.000 mortes prematuras a cada verão até 2030 e mais de 94.000 até 2040, segundo estudo publicado no EcoDebate.
Os números são ainda mais preocupantes quando analisamos os dados recentes:
O perfil das vítimas também revela desigualdades preocupantes. A mortalidade por calor foi 55% maior em mulheres do que em homens, e 768% maior em pessoas com mais de 80 anos de idade do que em pessoas entre 65 e 79 anos.
As ondas de calor europeias não apenas se tornaram mais intensas, mas também estão se estendendo no calendário. Geograficamente mais extensas, elas agora começam mais cedo e terminam mais tarde:
Estudos e organizações científicas são unânimes: o uso de um conjunto de dados observacionais de 100 anos e as técnicas mais recentes para modelar extremos climáticos revelou a evolução da dinâmica das ondas de calor em toda a Europa sob a influência das mudanças climáticas.
Um estudo acadêmico publicado em 2025 no periódico Weather and Climate Extremes, analisando ondas de calor de 1921 a 2021, concluiu que houve uma “tendência ascendente significativa na ocorrência de ondas de calor na maioria das regiões europeias, com um aumento notável nas últimas três décadas”.
Os dados franceses são particularmente reveladores: das 50 ondas de calor registradas em todo o país desde 1947, 33 ocorreram desde o ano 2000, demonstrando uma aceleração dramática do fenômeno.
As ondas de calor europeias deste século foram acompanhadas por temperaturas locais recordes, incluindo o pico absoluto da Europa alcançado em 11 de agosto de 2021, em Siracusa, Itália, com 48,8°C – um recorde certificado pela Organização Meteorológica Mundial.
Outros recordes absolutos registrados nos últimos anos incluem:
As temperaturas na Europa aumentaram mais que o dobro da média global nos últimos 30 anos – as mais altas de qualquer continente do mundo, segundo dados publicados no EcoDebate. Esta realidade coloca a Europa no epicentro das mudanças climáticas globais.
Devido ao aquecimento global, as ondas de calor recordes aumentaram cinco vezes nas últimas décadas e se tornaram um dos desastres naturais mais mortais, com letalidade comparável à de pandemias, alertam especialistas.
Além do custo humano, as ondas de calor têm impactos econômicos significativos. Globalmente, as ondas de calor provocadas pelo colapso climático causado pelo homem custaram à economia global cerca de US$ 16 trilhões desde a década de 1990, segundo estudo publicado na Science Advances.
Na Europa especificamente, as regiões mais ricas do mundo, como áreas da Europa e América do Norte, sofreram uma perda média de 1,5% do PIB per capita por ano devido ao calor extremo.
Tais ondas de calor são consistentes com cenários climáticos que preveem eventos de calor mais frequentes, prolongados e intensos, advertem os cientistas. No futuro próximo, tais condições meteorológicas extremas tornar-se-ão mais frequentes e a mortalidade excessiva relacionada com o calor aumentará.
Embora eventos extremos como esse possam ocorrer naturalmente, especialistas afirmam que as ondas de calor ocorrerão mais frequentemente por causa da crise climática, enfatizando a urgência de ações de mitigação e adaptação.
A realidade das ondas de calor na Europa evidencia a necessidade urgente de sistemas de alerta mais eficazes, infraestrutura adaptada e políticas públicas robustas para proteger as populações mais vulneráveis.
Os eventos de temperatura extrema provavelmente aumentarão e causarão graves danos à sociedade humana e ao ecossistema natural sob mudanças climáticas e urbanização.
A Europa, como o continente que mais rapidamente se aquece no planeta, serve como um laboratório natural para as adaptações necessárias em um mundo cada vez mais quente.
A resposta a esta crise não apenas determinará o futuro do continente, mas também servirá como modelo para outras regiões que enfrentarão desafios similares nas próximas décadas.
Copernicus – Monitor Climático da União Europeia
Organização Meteorológica Mundial (OMM)
Weather and Climate Extremes – Periódico científico (2025)
Inserm/ISGlobal – Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França
Rosstat – Agência de Estatísticas da Federação Russa
Science Advances – Revista científica
Météo-France – Serviço Nacional de Meteorologia da França