15 Agosto 2025
O presidente dos EUA tem pressa em resolver conflitos, mas sempre com seus próprios objetivos em mente, que não são necessariamente os das partes envolvidas.
O artigo é de Ruth Ferrero-Turrión, publicado por El País, 14-08-2025.
Ruth Ferrero Turrión é professora de Ciência Política na Universidade Complutense de Madri e colaboradora da Agenda Pública.
Donald Trump continua a inundar a região. Todos os dias, há pelo menos uma grande notícia vinda da Casa Branca. Estes dias de verão têm sido especialmente prolíficos nesse sentido. Tarifas, imigração, combate ao narcotráfico e, claro, Ucrânia, Gaza e agora também Azerbaijão e Armênia. Não há nada onde o presidente americano não esteja presente. Essa já era sua estratégia durante seu primeiro mandato, uma estratégia que ele agora está aprimorando ainda mais.
No caso da política internacional, isso é especialmente significativo. A crise de hegemonia que os Estados Unidos estão vivenciando pretende ser revertida por meio do Make America Great Again (MAGA), que, nesse contexto, representa a reversão da globalização neoliberal, um sistema que não mais proporciona retornos suficientes ao país nos termos trumpianos. Aqueles que seguiram o império americano até agora se encontram, a partir de então, em sérios apuros; aqueles que trilharam seu próprio caminho e aproveitaram autonomamente as oportunidades que o sistema lhes ofereceu agora se posicionam como rivais sistêmicos e são percebidos como uma ameaça; ou seja, a China. É nesse contexto mais geopolítico que as diversas movimentações de Donald Trump devem ser analisadas. A política tarifária é usada como um instrumento de pressão política que transcende os tecnicismos com os quais às vezes é analisada.
Da mesma forma, devemos ler o papel de liderança que a Casa Branca está assumindo em relação aos conflitos em curso, especialmente no caso de Gaza e Ucrânia, mas não apenas, como vimos no caso do acordo alcançado entre Armênia e Azerbaijão.
Seu objetivo em todos esses conflitos não é de forma alguma a defesa dos direitos humanos ou a conquista de uma paz justa. As motivações de Trump têm mais a ver com seu próprio narcisismo. Ele quer ser lembrado como o melhor presidente da nação, de uma nação que voltou a ser poderosa. E para conseguir isso, ele aposta em reafirmar a posição de superioridade dos EUA sobre seus parceiros (veja como está operando com a UE, Canadá e México) enquanto remodela uma nova ordem internacional, já altamente questionada, aliás, antes de sua chegada. Isso inclui fazer negócios com os países do Golfo, abrir um resort em Gaza ou inaugurar a chamada "Rota Trump para a Paz e Prosperidade Internacional", anteriormente conhecida como Corredor Zangezur, que, é claro, beneficiará os próprios amigos de Trump no setor energético. Sabe, se é bom para ele, é bom para a América.
Mas Trump também quer ganhar o Prêmio Nobel da Paz, algo que ele vem expressando cada vez mais explicitamente. E isso não é apenas produto de seu próprio narcisismo: pode também ter a ver com a conquista do prêmio por Barack Obama em 2009. Isso explicaria por que líderes de todos os tipos estão bajulando-o nessa questão, de Benjamin Netanyahu ao presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev.
Seja como for, e assumindo que não há uma causa única que explique a atuação internacional do presidente, a verdade é que Trump tem pressa em resolver conflitos, sempre com seus próprios objetivos em mente, algo que não necessariamente tem a ver com os das partes envolvidas. Talvez o exemplo mais óbvio disso seja a Ucrânia. O que é relevante neste caso é que o objetivo de Trump é acabar com a guerra, mas não alcançar o que se chamou de "paz justa", nem evitar mais baixas, nem agradar a Putin. Seus objetivos não têm nada a ver com isso. Seus objetivos, mais uma vez, têm a ver com como os EUA e seu próprio bolso se beneficiarão de um cessar-fogo ou, conforme o caso, do fim das hostilidades. E isso é algo que muitos ainda não entenderam. Ou talvez tenham entendido, mas continuam a perseguir uma narrativa que também favorece sua própria estratégia e interesses; é o caso dos líderes europeus.
A cúpula entre Trump e Putin exporá ainda mais a irrelevância de alguns atores na resolução desta guerra: não apenas a Ucrânia, usada como campo de batalha para outros interesses, mas também os próprios países europeus. E, claro, a UE, que deixou bem clara sua subserviência a Washington em vários episódios nos últimos meses. Duas coisas podem acontecer nesta reunião: primeiro, pode haver um acordo; segundo, pode não haver. O que os europeus e o próprio Zelensky têm a dizer sobre isso será mera simbologia. Além disso, em caso de acordo, os líderes europeus seriam forçados a cobrir garantias de segurança, o que os tornaria ainda mais dependentes dos EUA. Uma jogada perfeita.
Enquanto aguardamos o que acontecerá na sexta-feira no Alasca, o que podemos dizer é que o plano de Trump continua sem grandes obstáculos. Pode não dar certo no médio prazo, mas no curto prazo, ele está vencendo. E se der certo, ele pode até ganhar o Prêmio Nobel.
E o Trump que ligou pro ministro das finanças da Noruega pedindo o prêmio Nobel... e ameaçando tarifa caso não ganhe. https://t.co/AIEEZWFojh
— Carapanã (@carapanarana) August 15, 2025