10 Agosto 2025
"Pai é "ipê": precisa florescer na aridez. Buscar a água da vida no mais profundo da terra, para nutrir o entorno", escreve Chico Alencar, deputado federal, PSOL-RJ, ao comentar o Evangelho lido hoje em milhares comunidades de fé.
E ele nos desafia: "Pensem nos pais que perderam seus filhos, pensem com ternura nos que estão em Gaza, e em todos os jogados no abandono, no desamparo, na solidão".
No Evangelho lido hoje em milhares de comunidades de fé (Lucas, 12, 32-48), Jesus faz, no embate com os "doutores da lei", três afirmações que valem para todas as crenças:
"Não tenha medo, pequeno rebanho, porque o Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino" (32).
Na sociedade pastoril da época, a metáfora com "rebanho" era comum. "Pequeno rebanho": a fé não era espetáculo de massa, delírio de multidão, pregação eletrônica (com pix) como hoje. Era (e é) subjetividade, intimidade com Deus, comum-união mística. Dava (e deve dar) coragem pra ir em frente, na contramão dos valores dominantes.
"Onde está o seu tesouro, lá está o seu coração" (34).
Qual é o nosso tesouro, a nossa riqueza? Procuramos mesmo o que a traça não destrói nem a ferrugem corrói? Estamos seduzidos pela obsessão do dinheiro, consumo, ou atentos ao que permanece para sempre: amor, caráter, respeito, palavra, dignidade? "A cabeça pensa onde os pés pisam", diz frei Betto. O apego aos bens materiais, a posição de classe, condicionam nossos valores? Que não nos escravizem, não criem gorduras no nosso coração.
"A quem muito foi dado, confiado, muito mais será exigido" (48).
A benção de ter um(a) filho(a) - "natural" ou não - é uma dádiva, uma exigência, um compromisso de vida inteira (se cuidarmos, chegará um tempo em que eles é que cuidarão de nós).
É comum a imagem do pai com o(a) filho(a) nos ombros. Talvez simbolize o nosso papel em relação aos mais novos: ajudá-los a ver melhor, a buscar horizontes, a não temer as nuvens escuras do crepúsculo, a ter certeza de que amanhecerá.
Pai é "ipê": precisa florescer na aridez. Buscar a água da vida no mais profundo da terra, para nutrir o entorno.
Pensem nos pais que perderam seus filhos, pensem com ternura nos que estão em Gaza, e em todos os jogados no abandono, no desamparo, na solidão.
E seja grato: "Meu pai, obrigado por tudo que me deste/ por me ensinar a viver, a ser honesto/ por me dar a mão e me guiar na vida/ meu eterno porto seguro, minha partida" (Arlindo Cruz, 1958-2025).