02 Agosto 2025
Com uma missão no Paraguai iniciada há 40 anos, o novo bispo de Pilcomayo — um vicariato no Chaco habitado majoritariamente por grupos indígenas —, o alemão Miguel Fritz, foi definido pelo cardeal Adalberto Martínez como um “pastor com cheiro de ovelha”, repetindo uma analogia famosa usada pelo Papa Francisco em diferentes ocasiões.
A reportagem é de Eduardo Campos Lima, publicada por Crux, 01-08-2025.
Martínez, que presidiu a ordenação de Fritz em 14 de julho, enfatizou que ele dedicou toda a sua vida à missão no Paraguai e pôde aprender muito sobre seu rebanho ao longo das décadas.
“Você queria ser missionário (...) nos confins do mundo, nas periferias geográficas e existenciais até hoje. Para a Europa, naquela época e agora, o Paraguai é um pequeno ponto desconhecido no mapa-múndi. E foi lá que você chegou há 40 anos”, disse Martínez, segundo o jornal local ABC Color.
De fato, durante seu mandato como missionário na região do Chaco, Fritz se envolveu em muitas lutas sociais, sempre defendendo o direito da população indígena às suas terras tradicionais.
"Nenhum grupo indígena tem terras suficientes no Paraguai. No leste do país, grandes latifundiários compram o apoio do judiciário e da polícia e simplesmente expulsam os indígenas de suas aldeias", disse Fritz.
No lado ocidental, no Chaco, muitos povos indígenas receberam suas terras décadas atrás, mas o governo nunca forneceu as escrituras das áreas, acrescentou.
“Parte dessas áreas foi invadida por grupos não indígenas, especialmente menonitas”, disse o bispo. As cooperativas menonitas lideram a produção de leite e carne bovina no Paraguai.
A igreja local colaborou com os indígenas de diversas maneiras. Entrou com uma ação judicial, por exemplo, visando a expulsão dos ocupantes das terras indígenas, mas eles permanecem na área até hoje.
Nas regiões do Chaco próximas à fronteira com o Brasil, os grupos indígenas têm que lidar com a pressão contínua e a invasão de suas terras pelos produtores brasileiros de soja.
“Ao mesmo tempo, a produção de algodão transgênico vem ganhando espaço em todo o país, exercendo igualmente pressão sobre as terras indígenas”, acrescentou Fritz.
No mês passado, ativistas indígenas bloquearam estradas para protestar por direitos básicos, incluindo acesso à rede elétrica e assistência médica.
Hilaria Cruzabie, membro do povo Guarani e moradora do Chaco, disse ao Crux que os grupos nativos enfrentam vários desafios na região, não apenas os relacionados à vida concreta, mas também os da dimensão religiosa.
"As comunidades tendem a ser distantes umas das outras, então evangelizá-las não é fácil. Ao mesmo tempo, novas igrejas cristãs têm surgido na região, e parte da população acaba se convertendo", disse ela.
Cruzabie, que é ministra da Eucaristia e membro da comunidade de Santa Teresita, disse que muita coisa mudou no Chaco nos últimos anos. Anos atrás, era uma terra de povos indígenas. Agora, muitos não indígenas também vivem lá, declarou ela.
“Acho que o Padre Fritz terá uma voz mais forte, agora que é bispo. Mas, na realidade, ele sempre teve uma. Ele conhece a nossa situação e sempre nos defendeu”, disse ela.
Nascido em Hanover e criado perto de Frankfurt, Fritz foi ordenado padre e membro dos Oblatos na Alemanha e chegou há 40 anos ao Paraguai e há 37 anos ao Chaco. Ele não sabia exatamente o que esperar quando foi enviado ao Paraguai, o único país da América do Sul onde a língua mais falada é uma língua indígena, o guarani.
Ele também não conseguiu prever como seria a vida de um missionário no Chaco, uma região habitada majoritariamente por povos indígenas.
“Tentei seguir os passos do meu mentor, o Padre José Seelwische, também Oblato, que produziu o primeiro dicionário da língua nivaclé [indígena]”, disse ele. Fritz também decidiu estudar Antropologia.
Nos últimos três anos, o padre vinha desempenhando o papel de administrador diocesano. O Papa Francisco, durante sua internação final, nomeou Fritz como o novo bispo. Mas a oficialização só veio com Leão XIV.
"Este é um país marcado pelo catolicismo. Espero que minha voz possa ajudar a dar visibilidade à difícil situação da população indígena no Paraguai", disse ele.